Nas livrarias o livro de Carlos Coraúcci "Orquestra Tabajara de Severino Araujo - A Vida Musical da Eterna Big Band Brasileira".
Livro importante pelo que preserva da memória de uma "instituição" como a TABAJARA, com a qual todos os que vivemos pelo menos os anos 40, 50, 60 e 70 do século passado, tivemos o prazer de dançar, ouvir ao vivo, em programas radiofônicos, na televisão e em discos.
Particularmente mantenho o carinho de ter dançado com a TABAJARA em tantos bailes de formatura, inclusive da minha primeira.
A obra passeia pela história da banda paralelamente à da vida pessoal do Maestro, Músico, Arranjador e Líder SEVERINO ARAUJO, o que é absolutamente correto já que essas histórias se confundem.
Importante o resgate de "cenas" vividas por tantos e tantos músicos, artistas e radialistas dessa época de ouro da verdadeira música brasileira, hoje em dia tão aviltada por tanta mesmice e falta de qualidade.
O desfile de músicos que integraram a banda ao longo dos anos é precioso, relembrando-nos aqueles que foram muito mais que ótimos em seus instrumentos citando-se, sem descartar outros de igual calibre, o fenomenal ZÉ BODEGA.
Uma preciosa lembrança a do "tio" LAÉRCIO DE FREITAS assumindo o piano da banda nos anos 70.
Ao final do livro diversos apêndices historiam aspectos importantes da TABAJARA e de seu líder: relação dos músicos, dos crooners, discografia (78rpm, LPs, CDs) e arranjos de SEVERINO ARAUJO.
A obra repita-se, importante por retratar a TABAJARA e o Maestro SEVERINO ARAUJO, verdadeiros baluartes da qualidade musical, tem seu "senão" por conta do "duelo" entre a TABAJARA e a orquestra de TOMMY DORSEY no sábado 01/dezembro/1951. Nesse ponto o autor, possivelmente não tendo vivido o fato e baseado em "versões", foi incompleto quanto ao ocorrido, aos temas executados e suas sequências (sem trocadilho com o programa "Rádio Sequência G-3", que apresentou o tal "duelo" na inauguração do novo auditório da Rádio Tupí), assim como ao panorama total do ocorrido.
Basta comparar-se o texto do livro (páginas 93-95) com a "História do Jazz nº 25 = Tommy Dorsey x Severino Araujo" de mestre LULA, postada há tempos aqui no CJUB, da qual permitimo-nos transcrever o trecho a seguir.
"O espetáculo foi organizado da seguinte maneira: um personagem fantasiado de Zé Carioca e outro de Tio Sam eram os chefes das torcidas. Por trás das orquestras eram agitadas uma bandeira brasileira e outra americana.
Não me lembro a ordem exata, mas a banda de Dorsey executou, entre outros, os temas “Well Git It”, “On The Sunny Side Of The Street”, “Diane”, “Everything I Have Yours”, “You And The Night And The Music” e “Lullaby Of Broadway”, destacando a vocalista Frances Irwin.
Coube a Tabajara, entremear os temas de Dorsey com “Um Chorinho Na Aldeia”, “Guriatã de Coqueiro”, “Espinha de Bacalhau”, “Um Frevo (?)” e o número que surpreendeu a todos, e que logo seria um dos maiores sucessos da banda: “Rhapsody In Blue” em rítmo de samba, entre outros.
A platéia exultava após cada número e os “chefes de torcida” dramatizavam o espetáculo, abraçando os maestros e solicitando mais aplausos.
Eis que Carlos Frias ocupa o microfone e informa que “em nome da grande amizade que une os dois paises” as orquestras tocarão juntas “Deus Salve a América”, o que foi feito com Bob London cantando em inglês e Déo, “o ditador de sucessos”, em português.
Finalmente o resultado do “duelo” seria anunciado.
Surge o ator teatral Armando Nascimento, fantasiado de Presidente da República e imitando a voz de Getúlio Vargas (que era o seu forte nas revistas do Teatro Recreio) segura o braço de Severino e proclama: “Severino, para mim você é o maior”, fazendo em seguida o mesmo com Tommy Dorsey.
Voltou Carlos Frias dizendo que “todos eram os maiores” e que dalí por diante espetáculos daquela natureza se repetiriam com freqüência (o que nunca mais aconteceu!).
A atriz Heloisa Helena informa que o espetáculo teve o patrocínio exclusivo do “Leite de Rosas”, que Dorsey tocaria outra vez às 22 horas e deu boa tarde a todos.
Soube na hora que haveria uma “Jam Session” no dancing Avenida, reunindo músicos das duas bandas; tinha compromissos a cumprir e não pude ir.
Dias depois Jonas Silva, nas Lojas Murray me deu duas fotos do evento (uma delas ao final desta “História”). E foi só.
Eis a formação das orquestras participantes do “duelo”:
ORQUESTRA TABAJARA
Severino Araújo (clarinete), Marques, Santos, Raimundo Napoleão e Geraldo Medeiros (trumpetes), Manoel Araújo, Astor e Zé Leocádio (trombones), Jaime Araújo, Jofran, Zé Bodega, Lourival e Genaldo (saxofones), Cláudio Luna Freire (piano), “Cavalo Marinho” (baixo), Del Loro (guitarra), Plínio Araújo(bateria) e Gilberto D’Ávila (pandeiro).
ORQUESTRA DE TOMMY DORSEY
Buddy Childers, Charlie Shavers, Bobby Nichols e George Cherb (trumpetes), Tommy Dorsey (líder), Nick Di Maio e Ernie Hyster (trombones), Sam Donahue, Paul Mason, Danny Trimboli, Ted Lee e Harvey Estrin (saxofones), Fred de Land (piano), Phil Leshin (baixo) e Eddie Grady (bateria), com vocais de Bob London, Francis Irwin e as “Brown Lee Sisters”
Assim a obra é altamente recomendável, sendo certo que tanto aqueles que "conheceram" a TABAJARA, quanto os que realmente querem conhecer a cultura musical nacional, devem possuí-la e guardá-la com carinho, anotando-se o "senão" relativo ao famoso "duelo", que nunca existiu.