Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

NOSSO PONTA-DE-LANÇA EM LONDRES MANDA NOTÍCIAS

01 dezembro 2009

Nosso próximo colaborador - já foi convidado e já aceitou, faltando apenas aprender como lidar com o blog em si - Pedro Wahmann, não faz por menos e passando a trabalho pela capital inglesa, aproveita para mandar notícias para nós sobre o panorama jazzístico na terra de Elizabeth. Leiam-nas a seguir, impregnadas com o seu sempre saboroso estilo.

London Jazz Festival: derradeiros acordes

(cliquem para ver a escalação completa)

Estando no velho continente para cumprir compromissos profissionais, reservo os três últimos dias para estar em Londres e alcançar os últimos acordes do London Jazz Festival.

Na sua 17ª. Edição, que aconteceu entre 13 e 22 de novembro, originou-se de uma tradicional semana de jazz que era parte de um festival de musica de Camden, no norte de Londres, o festival tomou força a partir de 92 quando passou a contar com o ativo apoio do Arts Council England e da radio BBC 3, tornando-se um dos mais conhecidos festivais da Europa.

Durante dez dias promoveu-se uma serie de programas jazzisticos e de ritmos de outras origens ensejando a participação de músicos do Reino Unido, da União Européia e consagrados jazzmen do cenário internacional tais como Branford Marsalis, Chick Correa, Sonny Rollins, Tomazs Stanko e artistas de outras tendências musicais, como Gilberto Gil.

As apresentações espalham-se por toda a cidade, acontecendo em pequenos bares ou teatros, restaurantes, passando por casas que costumeiramente acolhem grandes espetáculos como o Royal Albert Hall, o Barbican, o Southbank Centre e o novíssimo King’s Place, chegando, é claro, às tradicionais casas de jazz como o Ronnie Scott’s e o Pizza Express Jazz Club.

Na primeira noite vou conhecer o King’s Place, moderníssimo complexo que abriga centro de conferências, andares para escritórios, espaços para exposições de arte, dois bares, um restaurante e duas espetaculares salas de musica, onde, na moderníssima Sala 1 toda revestida de madeira clara e de acústica irrepreensível, aconteceu o concerto de Bollani.

Uma fundação musical e de arte com as rendas de bilheteria, patrocínios e doações movimenta os espaços durante todo o ano.

Situa-se este complexo a poucos metros da estação King’sCross/St.Pancras, local de partida e chegada dos Eurostar e integrada às principais linhas do metrô, constituindo-se no maior hub terrestre de passageiros da União Européia.

Apresenta-se Stefano Bollani com o quinteto I Visionari para uma sala com seus quase 400 lugares totalmente lotada e na maioria por italianos residentes em Londres e arredores. Ao longo de dois sets de quase duas horas, ele exibe toda sua versatilidade ao percorrer ritmos de diversas origens. Nos temas de sua autoria, que foram a maioria, foi suave e melodioso nos tempos lentos, foi impetuoso, percussivo e vertiginoso nos up-tempos. Invocou a tarantela nos temas onde apareciam compassos repetidos e rápidos.

Em peça que está compondo para um filme, quando tocou em ensemble com seus parceiros, deu à musica uma grandeza e dramatismo que pareciam sair de uma composição do grande Morricone. Tocou sentado (como se supõe ser), tocou em pé nos momentos de maior vigor, usou por breves momentos as cordas do piano, constantemente afastava-se para ouvir os solos dos seus músicos, com quem trocava idéias e direções na musica e em palavras. Comunicou-se intensamente com a platéia de forma alegre e com simpatia, não fosse ele italiano. Em tudo, e não só musicalmente foi espetacular. Como citou Mauro Nahoum quando da sua passagem pelo Ginástico aqui no Rio: foi genial!

Brilhou em “Outra Coisa” de Moacyr Santos que apresentou num ritmo samba-bolero e no encore que por sinal foi solo, e não poderia ter sido melhor: um delicioso “Apanhei-te Cavaquinho” que terminou de forma vertiginosa levando a platéia ao êxtase total.

Integrando esse visionário quinteto, um grupo de primeiro time: Stefano Senni, no baixo acústico; Cristiano Calcagnille, bateria; Nico Gori, clarinete e o ótimo Mirko Guerrini, sax tenor, músico de formação clássica e integrante da Orquestra Sinfônica de Florença, que responderam sempre à altura às provocações do líder Bollani. Enfim, uma apresentação espetacular !

Na noite seguinte, fui ver a cantora inglesa Katryona Taylor no Pizza Express Jazz Club, bem instalada casa no boêmio bairro do SOHO, que como não poderia deixar de ser está instalada - há quase 40 anos - no subsolo de uma tradicional pizzaria onde aliás come-se um bela pizza. A oportunidade foi muito mais por voltar a essa casa, onde anos atrás assiti a uma das ultimas apresentações do grande Dewey Redman (1931/2006), então acompanhado por Matt Wilson, dr, Cameron Brown, b, e pela excelente e pouco conhecida pianista romana Rita Marcotulli, numa apresentação inesquecivel. Aliás o mesmo grupo tem um CD gravado em 97, Live in London (no Ronnie Scott’s) – Palmetto – PM 2030 - que vale a pena ouvir.


Termino minha curta temporada conhecendo finalmente o Ronnie Scott’s, também no SOHO, tradicional e mais famosa casa de jazz do Reino Unido e talvez de toda a Europa, que foi fundada e leva o nome dessa lenda e sem duvida o maior jazzman da Inglaterra, Ronnie Scott (1927/1996) e a quem Mingus, em 61, chegou a comparar com Zoot Sims.

Apresentava-se o quarteto do veterano e competentíssimo baterista cubano Ignacio Berroa, um dos muitos músicos projetados pela banda United Nations do grande Dizzy Gilespie, acompanhado pelos jovens e emergentes na cena novaiorquina Robert (p) e Ricardo Rodriguez (b), que podem ser ouvidos no belo CD Force of Four, de Joe Locke – Origin 82511. Completando, o sax tenor de David Sanchez, que mais uma vez encantou-me por sua exuberante técnica, o belíssimo som e grande criatividade.

Sanchez foi apresentado por Berroa como um dos maiores sax tenor da atualidade, com o que modestamente concordo.

Com a vibração própria dos ritmos latinos, o quarteto brilhou em temas originais do pianista Robert e em Matrix de Corea entre outros, mas o melhor da noite ficou por conta da maravilhosa interpretação de uma das pérolas de Jobim, “Eu sei que vou te amar”. Com suave base pelo piano e o baixo dos Rodriguez, Sanchez pode exibir toda a sua sensibilidade e bom gosto musicais ao ritmo lento de uma balada. Tão suave e delicada sua musica que ao acompanhá-lo, o líder Berroa, certamente inspirado pela beleza do tema, usava as escovas mais parecendo que acariciava as caixas e os pratos de sua bateria. Extasiante!

Valeu muito a pena a noite do Ronnie Scott’s!

6 comentários:

APÓSTOLO disse...

Bela excursão por boa música, em locais dignos ! ! !
Que venham mais resenhas....

Érico Cordeiro disse...

Mr. Wahmann,
Seja bem-vindo e continue a reportar os acontecimentos jazzísticos mundo afora, para nosso deleite!!!!
Abraços!

MARIO JORGE JACQUES disse...

Dear Wahmann, you're welcome. Europa tem muito jazz e de ótima qualidade que não chega até nós, por falta de divulgação,etc, enfim uma ótima aquisição para nos manter update.
Abraço
Mario Jorge

figbatera disse...

Que maravilha; fiquei com "água na boca"!

SAZZ disse...

Grande Pedro,

Com certeza a maior platéia do CJUB em solo europeu...

Abs,

John Lester disse...

Parabéns ao novo integrante do CJUB. Que, pelo visto, resolveu nos matar de inveja com o excelente post. Londres é Londres, o resto é panetone.

Grande abraço, JL.