Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

TOM SUR TOM

25 setembro 2009

Tom Jobim morreu sem avisar em 1994 – precisamente dia 8 de dezembro, Hospital Mount Sinai, Nova Iorque. Como se houvesse um acordo entre as partes, geográficas inclusive, sua obra musical rejuvenesceu. E assim se mantém, adolescente. No Brasil e no mundo o songbook do maestro foi explorado, revisitado, relido. Também pelos jazzistas, que sempre sugaram essa fonte generosa. Lee Ritenour (A Twist Of Jobim), Joe Henderson (Double Rain), Stefano Bollani (Falando de Amor), European Jazz Trio (Saudade- parcialmente), Brian Bromberg (In The Spirit Of Jobim), Eliane Elias (Plays & Sings Jobim) e Fred Hersch (Plays Jobim), entre outros, reconstruíram como bem entenderam os clássicos jobinianos. Pelas bandas de cá não foi diferente. Toninho Horta (From Ton To Tom), Toninho Horta & Joyce (Sem Você), Ivan Lins (Jobiniando - parcialmente), Fátima Guedes (Outros Tons), Marcos Resende (About Jobim And Other Masters – parcialmente) são alguns casos. Poderia ser mais. Se não fosse pela dificuldade e desafio que a música de Jobim requer. Não basta ser apenas mais um disco de bossa-nova. Há que se acrescentar alguma coisa, um novo condimento, adubo, nem que seja para mudar a cor original, ou, no mínimo, como dizem os franceses, um ton sur ton.
No pipocar da revolução, 1964, Wanda Sá e Roberto Menescal fizeram um disco marcante da bossa-nova, Vagamente – o tratamento acústico natural de um estúdio impediu que o barulho das ruas fosse registrado nas gravações. Ainda nesse clima, em dezembro, o país recebeu um garoto de Buenos Aires, que, ato contínuo, se apaixonou pela nossa música – a outra paixão, o Botafogo, seria óbvia. Victor Biglione se transformou num dos grandes e mais originais guitarristas brasileiros. Detalhar sua trajetória não há porque, é desnecessário aqui. A não ser o fato de ter participado de uma das produções do CJUB, no antigo Mistura Fina, via David Benechis. O que vem ao caso é o seu último CD, Uma Guitarra No Tom (Delira Música, 2009). Ao lado de Sérgio Barrozo (baixo) e André Tandeta (bateria), Biglione retoca – dar retoques em – a música de Jobim.
Quando Nat Cole em 1937, com Oscar Moore e Wesley Prince, quase que oficializou a formação de trio, o jazz agradeceu. De lá para cá, piano, baixo e bateria marcam o formato. A substituição eventual do piano pela guitarra não é tão comum. E foi por aí a idéia inicial de Biglione. “Mudei certas harmonias e realcei alguns elementos melódicos, mas sem cair naquela coisa exagerada da desconstrução”. Houve também a intenção de não se remeter aos álbuns antigos dos trios brasileiros. “A levada da bateria, por exemplo, não poderia ser nem Édison Machado, nem Milton Banana, nem Dom Um Romão”. E nem poderia. A atmosfera do trabalho traz um tempero claramente jazzístico. Esse foi o diferencial nas performances de Biglione, Barrozo e Tandeta. “Só posso desejar que o trabalho de escutar seja tão prazeroso prá você quanto foi para nós gravar esse disco”, diz Tandeta. A simples audição de Ligia, que abre o CD, é mais que suficiente para perceber que os objetivos da difícil missão foram integralmente alcançados. Tandeta é um baterista correto, sensível, preciso, que deixa os parceiros à vontade, seguros. O mesmo em relação ao Barrozo – “Sergio foi fundamental na bossa nova, gravou com todo mundo. É um âncora, importante para conseguir um resultado meio beco, mas que não caísse naquela coisa de resgate de sonoridade antiga”, diz Biglione.
Uma Guitarra No Tom é agradável e criativo do inicio ao fim. Tem todos os ingredientes que fazem um disco definitivo, obrigatório. Não é por acaso que Biglione se emocionou com a inigualável crítica do nosso LOC. Não é por acaso que o show de lançamento na Sala Baden Powell foi gravado e logo será exibido pela TV Brasil. Não é por acaso que a Delira está analisando propostas para a edição em praças internacionais. Não é por acaso que o nosso Sazz confessa: “Considero uma das melhores ou a melhor homenagem ao nosso maestro soberano na forma de trio”. An passant, Pat Martino, na minha opinião uma das boas influências de Biglione, assinaria esse CD com louvor. A música brasileira agradece.
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Uma Guitarra No Tom (Delira Música 2009)
Victor Biglione – guitarra, arranjos
Sergio Barrozo – contrabaixo
André Tandeta – bateria

01. Ligia
02. Mojave
03. Vivo Sonhando
04. Fotografia
05. Água De Beber
06. Chovendo Na Roseira
07. Samba De Uma Nota Só
08. Look To The Sky – Olha Pro Céu
09. Só Danço Samba
10. Tema De Amor De Gabriela

Som na caixa: Ligia


15 comentários:

Anônimo disse...

Xará, perfeita analise e critica me deixando sem espaço haja visto ter feito parte dessa importante coluna.
Lembrando também as homenagens do Mario Adnet, com participação do proprio Tom e do cantor Norte Americano Michael Franks, que era inclusive muito amigo do maestro.

Valeu, nota 10.

Sazz

JoFlavio disse...

Grande e bom Xará!
Se fosse mencionar todas as homenagens à música do Tom, a resenha ficaria enorme. Agradeço a lembrança e conto com outras que tenha omitido por parte dos demais cejubianos e amigos do blog. Nota 10 é exagero. Além do mais, não tenho a categoria de um LOC, por exemplo.

JoFlavio disse...

Complemento, Xará.
Cito apenas as homenagens pós morte do maestro, que não seria o caso do Mario Adnet, já que o próprio Tom participou.

Érico Cordeiro disse...

Caro JoFlavio,
Parabéns pela resenha e pela sensibilidade. Nãao sei se essa é a impressão dos demais amigos do CJUB, mas percebi um delicioso flerte com o blues (e o Biglione é blueseiro de primeira, nasceu na Argentina mas em seu DNA corre tanto o samba do Morro da mangueira qquanto o blues do Delta do Mississipi) em alguns arranjos.
Sensacional e obrigatório em qualquer discoteca.
E o Tandeta manda muito bem mesmo!!!!
Abração!

Gustavo Cunha disse...

salve JoFlavio

bom, acrescento na lista o cd Janelas Abertas com o duo Nelson Faria e Carol Saboya;

sem dúvida Biglione é dos grandes na guitarra aqui em nossas praias

desde aquela explosão da música instrumental na segunda metade dos 80 quando fiquei de frente com seu primeiro disco solo, eu sou fã do cara, na época engoliu muitos outros que andavam por aí;
ainda não tenho esses dois últimos discos dele, este inclusive que voce nos apresenta.

mas eu tenho outra percepção da guitarra de Biglione, não vejo muito do Pat Martino no seu fraseado, nos desenhos e nem no timbre; lógico que ouvir Martino é obrigatório a todo guitarrista de jazz, o tocar em uptempo sempre é um desafio para os bons guitarristas e Biglione quando toca jazz toca de verdade, eu já vi; já vejo muito do Bireli Lagrene na voz da sua guitarra, até o timbre se assemelha, até porquê Biglione usa um leve efeito de sustain, um dia pergunto isso para ele.

uma das marcas da assinatura do Biglione é o uso dos bends, característica muito influenciada da guitarra blues, exatamente como disse nosso antenado amigo Erico; esse é o Biglione, fraseado forte, voz ativa, sem dúvida uma grande liderança no instrumento.

abs,

JoFlavio disse...

Cejubianos e amigos de plantão.
Minha próxima resenha, pronta mas que vou dar um bom tempo, tem como foco Barbra Streisand. Isso mesmo. Posso até ser deserdado do blog. O CD (Love Is The Answer) só será lançado no próximo dia 29, mas já tenho. Por partes. Na cozinha, Diana Krall Quartet, sem qualquer participação vocal. Arranjos do extraordinário Johnny Mandel. E apenas standards da música americana. Disco lindo, slow e, claro, romântico. Barbra envelheceu em tonéis de carvalho.
Imperdível.

edú disse...

Prezado Mestre José Flavio,

Oscar Peterson insistiu até o final dos seus dias para gravar um disco com Barbra.Na sua opinião, ela era a grande cantora viva de jazz de nosso tempo após a morte de Sarah e Ella.Tive a chance de assistir uma apresentação sua acompanhada de minha irmã (grande fã) no Madison Square Garden ,em 1994, confirmando seu talento de grande performer e única atriz cantora a ganhar em menos de três anos os premios Tony(de teatro),Grammy(música),Oscar(cinema) e o Emmy(televisão). Quanto ao referido disco do Victor,Tandeta e Barrozo coube-me a primazia de abonar seu lançamento há algum tempo no nosso modesto e despretensioso espaço.

JoFlavio disse...

Great Edú.
Nenhum espaço que você possa ocupar seria modesto, muito menos pretensioso. Ao contrário. O CJUB, pelo menos de minha parte, se sente honrado com as suas intervenções sempre pertinentes e muito bem fundamentadas.

edú disse...

Caro Mestre José Flávio,
redundância dizer q somos amigos.Obrigado pelas imerecidas palavras.De um dos alunos da cadeira da frente do quadro negro.

SAZZ disse...

Xará, a homenagem do Adnet foi também posterior aproveitando uma gravação antiga do Tom e inserida no cd.
Outra que não pode faltar no registro é a do Franco D'Andrea New Quartet "Jobim" ( 1998 ), com uma versão de Aguas de Março definitiva.

Sazz

JoFlavio disse...

Xará!
Prá variar, está certíssimo. Jobim Jazz , Mario Adnet, é de 2007.

Beto Kessel disse...

Sou fascinado pela sonoridade daqueles album do Tom feitos no inicio dos anos 70 (wave, tide, stone flower) e temas tipico lado B
como Look to the sky e Mojave sao belissimos...Excelente escolha de repertorio.

Beto Kessel

Beto Kessel disse...

RETIFICACAO- DAQUELES ALBUNS...

Victor Biglione disse...

Muito obrigado pela calorosa acolhida e pela excelente resenha.
Fico feliz que voces do CJUB gostaram do disco.
Um grande abraço a todos.
Victor Biglione

Anônimo disse...

JoFlavio,

Belo texto!

Abraços,

Mr. PM