Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

DRINK CAFÉ - 22 e 23 SETEMBRO

24 setembro 2009

Alertado em cima do lance por um amigo que só dá bizus interessantes, postei aqui uma chamada para essa novíssima casa a abrigar música de qualidade no Rio, talvez a derradeira parada no panorama desolador do grande deserto musical carioca. E fui lá por duas noites seguidas para constatar que, se prestigiada e frequentada pelos interessados(nós), tem como se firmar como bom reduto para o jazz, a bossa e demais manifestações onde a utilização acústica predomine sobre a amplificada.

Trata-se de um casarão em Botafogo que sua proprietária, a Ana, vem preparando para se firmar como um templo de devoção ao seu próprio amor pelo jazz, sem o qual diz não poder viver. No segundo andar há diversas saletas que convergem para uma, central, onde ficam o piano e os músicos. Há paredes demais no caminho? Sim. Uma obra futura se encarregará de eliminá-las, em prol de uma visão mais privilegiada? Talvez. O som é bom? Inacreditavelmente, graças à não amplificação dos instrumentos, sim! Dá para conversar/namorar/beber/comer durante as apresentações? Sim, sem que isso incomode a ninguém. Ou seja, vai depender da programação e de nós, irmos prestigiá-la.

Ou seja, temos um lugar que poderá se firmar como um clube de jazz, a despeito da limitação de horário. Por conta da vizinhança, tudo acaba, musicalmente falando, às 22 hrs. Uma questão de manutenção da licença, observa Ana, cuja "experiência" no ramo vem de seu quiosque na orla da Lagoa, onde por muito tempo houve música tocada por ótimos músicos, e predominancia do jazz que lhe é tão caro.

Foi assim que fomos ver o grupo liderado pelo contrabaixista mineiro radicado em Nova Iorque, Leonardo Cioglia (que toca no quinteto do Duduka da Fonseca ali presente na segunda noite para conferir os trabalhos). Cioglia apresentava seu ultimo CD, "Cantos" na companhia de um belo time de músicos radicados e atuantes em NYC. Assim, abriu os trabalhos com um sensacional Aaron Golberg no piano (instrumento, infelizmente, de muito baixa qualidade, sendo ponto ao qual se deva dedicar alguma atenção no futuro), um jovem e muito competente Mike Moreno na guitarra de timbre sutil, o saxofonista - completo, com 8 airbags - John Ellis no tenor, e o criativo baterista Daniel Freedman garantindo o pulso. Na primeira noite, ainda se apresentaram um fabuloso Gabriel Grossi na gaita e o surpreendente - para mim, pois nunca o ouvira tocar antes - Joca Perpignan na percussão, com muito boas intervenções.

Se os temas de Cioglia não fogem das raízes e tradições mineiras, trazem linhas melódicas interessantes que, uma vez expostas, permitem boas vertentes de improviso sobre elas, principalmente por músicos da qualidade técnica e inventividade dos que ali estavam, em ambas as noites. Destaque para Golberg, um pianista que encanta a própria tribo quando toca, tal sua técnica e sua verve, a banda passando a acompanhar sua performance com interesse redobrado, como a apreender cada nota das maravilhosas sequencias por ele engendradas, principalmente nos temas de andamento mais rápido, onde se transforma num percussionista adicional, fazendo o piano - e a platéia - vibrarem com seu entusiasmo e suas idéias. Toca de olho em Freedman, com quem gosta de interagir, sendo correspondido com idéias estimulantes pelo baterista. Este passa de climas amenos a trovoadas controladas, com total domínio dos variados beats, surpreendendo a todos por sua desenvoltura nos ritmos brasileiros, que executa quase sem sotaque.
O tenorista Ellis é um craque, sabe tudo de sax tenor, domina o instrumento e improvisa fácil demais, faltando-lhe apenas um pouco de "calor humano". Como estende suas participações para além do "ponto de entendimento médio" do povão, viaja para o interior de sua ampla competência, dificultando o acompanhamento do tema central, fazendo música para os outros músicos, na minha humilde opinião. Já Moreno usa a guitarra com maestria, como se fosse parte do seu corpo, tamanha a facilidade e a fluidez com que se expressa. Talvez pelas características dos temas de Cioglia, mais para "trilha sonora" (tema aqui recorrente, depois dos posts sobre Blanchard) do que outra coisa, não percebi em sua atuação os chops & chords que tanto me encantam nas guitarras jazzísticas, achei que faltou-lhe uma melhor divisão do tempo, seus solos um infinito encadeamento de notas com nítida influência (na afinação, inclusive)de Metheny, mas sem a concatenação deste. Foi bom, mas podia ter sido melhor (como Biglione, se ali presente, faria).
A grande surpresa para mim, na primeira noite, foi o nível atingido na gaita, por Gabriel Grossi. Se seu mestre Maurício Einhorn improvisa a metro, e se, comparativamente, Toots Thielemans improvisa dois metros, Grossi está tão afiado que é possível dizer que sua capacidade técnica e musical no instrumento permitem-lhe, hoje, improvisar usando a velocidade, a respiração, a entonação e na mistura de notas curtas e sopros longos, tudo isso sem perder de vista a capacidade do público "entender" suas linhas, o equivalente a uns cinco metros. O menino que pudemos conhecer numa noite de terça chuvosa no Centro do Rio há coisa de uns seis anos, e que já se mostrara "abusado" numa incrível "Stella By Starlight" que marcou a todos os cjubianos presentes, evoluiu amplamente e posso dizer-lhes que é, hoje, jazzista top, podendo apresentar-se, sem susto, em qualquer palco do mundo. Valeu o ingresso, com folga.

O que nos leva à força da natureza que é a Anat Cohen, atração extra, junto com o pandeirista Scott Feiner, na segunda noite. Que fabulosa intérprete e que simpatia de pessoa! Pilotou seu clarinete com uma competência e uma alegria que somaram tanto à banda, que a fez ficar ainda melhor. Perfeitamente à vontade com o grupo, brincou de tocar e em temas mais animados de Cioglia, demonstrou toda a sua afinação e a sua imensa capacidade (e que facilidade!) de improvisar. É, realmente, tudo o que se diz dela e mais um pouco.

Com a presença de inúmeros músicos na platéia a prestigiar a casa - contei lá Ricardo Silveira, David Feldman, Wilson das Neves, a cantora Ana Carolina, o Duduka já mencionado e até a cantora e compositora italiana Chiara Civello, radicada em NY mas em temporada no Brasil, e pedindo desculpas a outros não mencionados -, Ana sentia-se, ao final da segunda apresentação, feliz com o resultado daquela experiência "de grande porte" da casa. Sorria fácil, o coração enfunado pelos ventos da boa música ali produzida.

Que possamos contar com esse "refúgio" por longo tempo, para lá ouvirmos jazz de primeira, tal como a "banda do Cioglia" nos proporcionou nas duas noites. E que muitos outros craques venham nos apaziguar a existência com mais música de qualidade.

Para a experiência toda, dou @@@@. Como incentivo, e com a esperança de que se perpetue.

As fotos são do BraGil, exceto a montagem dos autógrafos, deste narrador.

6 comentários:

Anônimo disse...

Grande Maunah, mostrou com louvor o que foi a noite de terça feira ( não fui a primeira infelizmente )e já repassei a turma da Modern Sound a possibilidade quem sabe, de um novo local para a boa musica ser tocada e apreciada na nossa cidade.

Sazz

BraGil disse...

O que teria acontecido com a figura de Maunah, misteriosamente deletada da foto principal ?
Esperemos que Ana resista e transforme o Drink Cafe na "Casa do Jazz" aqui do Rio.
Para tal, precisará e muito da nossa ajuda.
Quanto ao show, simplesmente fantástico! Não pude ver o set em Ouro Preto por causa do temporal, mas acho que a descontração de 3ª feira mais a presença de Daniel Friedman e da divina Anat,deve ter sido melhor.
Estou escrevendo ouvindo o cd "Contos" que é ótimo, com a rica presença em 3 faixas do Stefon Harris no vibrafone.
Aguardem, pois já estou terminando o post sobre O.Preto.
BraGil

Beto Kessel disse...

Muito bom saber que de tempos em tempos, vao surgindo novas opcoes para quem aprecia musica de qualidade.

Frequentei muito o quiosque drink na lagoa brilhantemente pilotado pela Ana, que tem um otimo gosto musical, para ouvir SambaJazzTrio, Hamleto Stamato, Mauricio Einhorn, Paulinho Trumpete, Arismar do Espirito Santo, Filo Machado e tantos outros musicos que fazem a boa musica.

A proposito, vou procurar no google maps oinde fica esta rua general dionisio no humaita...

Abracos,

Beto Kessel

Mau Nah disse...

BraGil,
as duas estavam tao bonitas na foto que resolvi expurgar-me da companhia delas. Chiara Civello eh uma gata, alem de uma cantora de muita bossa. Tou louco pra cruzar com ela de novo e se possivel entrevista-la pro CJUB. Acho que ninguem vai reclamar, nem o Palestino.
Abs.

Beto Kessel disse...

Falando no David Benechis, nao e em 27.09 que ele compelta mais uma primavera ?

Salsa disse...

Tem coisas que me irritam. Abriram uma casa aqui em Vitória - Spirito Jazz - que, dizem, tem uma estrutura excelente, mas, por outro lado, não possuem nenhuma estrutura para atrair shows como esses. Nunca aproveitam a oportunidade da presença dessas feras em nosso solo (nem mesmo os que aqui habitam) para realizarem shows que dignifiquem o nome da casa. Outra coisa: vi o valor do couvert - quase chorei. Aqui, qualquer coisa não sai por menos de sessenta. Dureza.