Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

O SOM DO BECO - DAVID FELDMAN POR LUIZ ORLANDO CARNEIRO

19 julho 2009

Tomo a liberdade de reproduzir texto do Luiz Orlando Carneiro publicado hoje no JB, e que trata do lancamento do album do pianista David Feldman, que ocorrera amanha noite na Modern Sound


David Feldman recria com louvor sonoridade do Beco das Garrafas

Luiz Orlando Carneiro, Jornal do Brasil


BRASÍLIA - Há pouco mais de quatro anos, neste espaço, comentei o show do pianista carioca David Feldman, em trio com Rafael Barata (bateria) e Jorge Helder (baixo), no antigo Mistura Fina da Lagoa, numa noite promovida pelo CJUB (hoje o Clube de Jazz e Bossa), intitulada O som do Beco das Garrafas. Feldman – hoje com 31 anos – voltava então de uma longa estada em Nova York, onde se graduou na New School University, e se enturmou com o primeiro time do jazz da Big Apple. Naquela ocasião, cheguei a compará-lo a Jean-Michel Pilc e a Uri Caine, tecladistas que “aliam a uma postura concertística e a uma técnica apurada aquela concepção de que o jazz é, basicamente, o 'som da supresa'”, demonstrando ainda que o improvisador não se deve contentar com “o conforto da pilotagem semiautomática proporcionado pelo domínio dos acordes de base, mas desconstruir e reconstruir os temas em blocos que formam um todo pantonal e polirrítmico”.

A apreciação é mais do que aplicável ao CD editado pela EMI, com o mesmo título daquele memorável show, a ser lançado amanhã, a partir das 19h, no Allegro Bistrô da Modern Sound (Rua Barata Ribeiro, 502). No álbum – gravado em estúdio, em janeiro do ano passado – Feldman mantém o alto nível do trio de 2005, ao escalar Sérgio Barrozo (baixo) e Paulo Braga (bateria). Ele reinterpreta três temas pelos quais tem especial xodó: São Salvador (4m40), de Durval Ferreira; Sambou, sambou (5m37), de João Donato; Rapaz de bem (6m31), de Johnny Alf. Toma ainda como ponto de partida (e de chegada) Eu a a brisa (6m10), uma outra canção de Alf; Brigas nunca mais (6m10) e Só tinha de ser com você (6m08), de Tom Jobim, evidentemente; Sabe você (7m27), de Carlos Lyra, e Tristeza de nós dois (5m54), de Bebeto, Durval Ferreira e Maurício Einhorn. A faixa-título e ponto alto do CD (4m50), de autoria do pianista, é um exuberante tour de force esquentado pela bateria de Braga, e tem como introdução uma “exclamação” percussiva do trio, de menos de 15 segundos, batizada de Beco engarrafado.

Feitas as contas (excluindo-se a “bossa” acima citada), a média de duração das faixas do disco supera os seis minutos, o que já indica o esmero com que foram concebidas. Não só em termos de arranjos, mas também de divisão de espaços para as improvisações do líder e as intervenções bem dosadas, em breves solos ou troca de compassos, de Barrozo e Braga – “dois ícones em seus instrumentos”, como destaca Leo Gandelman no texto que escreveu para o álbum.

O veterano Maurício Einhorn pontifica, em outra nota: “(...) sem sombra de dúvida, ouvindo a segunda faixa (Sambou, sambou), eu já endosso o piano responsável, precocemente maduro e personalíssimo de Feldman”.

Feldman, é claro, não conheceu aquele beco na Rua Duvivier, onde floresceram – no Bottle's e no Little Club – a bossa nova e o samba jazz (ou jazz samba). Mas diz que, ainda criança, “ouvindo discos e histórias de quem esteve por lá – fui aluno do inigualável Luzinho Eça – comecei a desejar que inventassem uma máquina do tempo”. E acrescenta: “Este disco é a minha máquina do tempo particular (...)”.

Na verdade, o notável pianista não está, em O som do beco..., revivendo o passado, como quem folheia um velho “álbum de retratos”. Ele “visita” o passado, nele se inspira, e descreve suas impressões e emoções no idioma jazzístico, com referências explícitas e implícitas a Bud Powell, Thelonious Monk, McCoy Tyner e Bill Evans. Seja manipulando o tema em tempos diversos e em ângulos tonais inesperados (Brigas nunca mais), seja no tratamento meditativo, com delicados e rarefeitos achados harmônicos (Eu e a brisa).

4 comentários:

figbatera disse...

Aquele show no antigo M.Fina foi inesquecível; quanto ao disco só pode ser bom! No mínimo.

edú disse...

Esperava,pelas informações previas,escutar algo histórico como uma inesquecível homenagem aos grandes pianistas do beco(Moacyr Peixoto,Dom Salvador,Sergio Mendes, Luis Eça..)Percebi , nas três audições seguidas, ser apenas o destino de um bom disco de inicio de carreira.Feldman se coloca junto com os atuantes Michel Friedson e Kiko Continentino como pianista superior.Porém, quando se ouve Helio Alves e André Mehmari( quando abandona a linha tentadora, mas perigosa, do estilo Keith Jarret) se agradece à dádiva recebida.

Bene-X disse...

Nunca v. foi tão feliz num comentário, Edú. Congrats !

Abs.,

Beto Kessel disse...

Ainda não ouvi André Mehmari, mas aprecio muito os pianistas Kiko Continentino e Helio Alves.

Beto