Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

O PERDÃO DE BILLIE (Haruki Murakami)

23 setembro 2008

O escritor japones Haruki Murakami é um apaixonado pelo Jazz. Escreveu vários textos sobre alguns artistas de sua preferência. Mostramos hoje o seu emocionante depoimento sobre a imortal Billie Holiday:

Eu ouvia muito Billie Holiday quando era jovem e a achava comovente. Mas só fui apreciar de fato o quanto era maravilhosa mais tarde, quando estava bem mais velho. Acho que isso quer dizer que envelhecer traz, sim, algumas compensações. Nos velhos tempos, eu ouvia a música gravada por Billie na década de 1930 e no início da de 1940. Naqueles anos, sua voz era jovem e nova, e Billie lançava uma canção após outra, a maioria relançada mais tarde pela Columbia nos EUA. Essas canções eram repletas de imaginação e vôos melódicos acrobáticos. O mundo inteiro dançava no ritmo do suingue de Billie Holiday. Quero dizer que o planeta se mexia, de fato. Não estou exagerando. Estamos falando aqui de magia, não simplesmente arte. O único outro músico que conheço que possuía virtuosismo tão mágico foi Charlie Parker. O eu mais jovem não ouviu com tanta atenção as gravações posteriores de Billie Holiday, sua fase na Verve, canções que ela gravou quando as drogas tinham endurecido sua voz e corroído seu corpo. Ou talvez, quem sabe, eu tenha mantido distância consciente delas. Eu achava suas canções daquela era, especialmente as dos anos 1950, dolorosas, opressivas, patéticas. À medida que fui passando pela casa dos 30 anos e depois dos 40, porém, me vi colocando esses discos na vitrola com freqüência cada vez maior. Sem me dar conta disso, eu estava começando a sentir desejo e necessidade, física e emocional, daquela música. O que havia nas canções posteriores de Billie Holiday -canções que poderíamos descrever como alquebradas- que eu era cada vez mais capaz de escutar e que eu não escutara antes? Ando pensando muito sobre isso. Por que essas canções passaram a exercer atração tão poderosa sobre mim? "Está tudo bem". Entendi recentemente que a resposta talvez envolva a idéia de "perdão". Quando ouço as canções posteriores de Billie Holiday, posso senti-la abrindo os braços para abraçar os corações das muitas pessoas que magoei ao longo de minha vida e dos meus escritos, as pessoas que sofreram devido a meus muitos erros, e aproximando-as dela. "Está tudo bem", ela canta para mim. Deixe estar. Isso não tem nada a ver com "curar feridas" - não estou sendo curado de modo nenhum. É perdão, puro e simples. Sei que essa interpretação da música de Billie Holiday é profundamente pessoal. Eu jamais sugeriria que ela se aplica a todos. É por isso que recomendo sua maravilhosa coleção lançada pela Columbia. Se eu tivesse que escolher uma só canção dela, seria sem dúvida alguma "When You're Smiling". O solo de Lester Young no meio também é um deleite, um trabalho de gênio. "Quando você está sorrindo, o mundo inteiro sorri com você". E o mundo sorri, de fato. Você pode não acreditar, mas é verdade - ele fica radiante!

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