Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

BOSSA POLÊMICA

10 fevereiro 2008

Em 26 de dezembro de 2006 postei no blog uma informação de como havia surgido o termo "bossa nova".

Durante um bate papo na casa de amigos, o jornalista Moysés Fuks prontamente afirmou ter sido ele a primeira pessoa a ter escrito a palavra bossa nova, para anunciar um show no Grupo Universitário Hebráico, se referindo àquele tipo de música.

Levei a história para nosso grupo da Modern Sound, onde se encontram muitos músicos que participaram do advento da bossa nova. O assunto foi motivo de conversa durante vários encontros.

Novamente, em 27 de fevereiro de 2007, postei outra informação de um trecho do livro, ainda não lançado de Carlos Lyra, sobre sua versão do termo bossa nova.

Comentei com o Moysés Fuks sobre o que tinha lido e, junto com o Beltrão, debatemos sobre o tema com o Ruy Castro, João Donato, Miele, Leny Andrade, Bebeto e mais alguns músicos que participaram do movimento, desde o tempo do Beco das Garrafas.

O assunto que levantei gerou polêmica até o dia de hoje, quando saiu um artigo de página inteira no Segundo Caderno do O Globo, escrito por Mauro Ventura, com uma entrevista com o autor do termo bossa nova, o jornalista Moysés Fuks.

Só faltou dizer que foi a primeira vez que Nara Leão cantou em público, na varanda do Grupo Universitário Hebraico.

Abaixo a transcrição da matéria publicada no jornal O Globo, em 10/02/2008.


Polêmica cheia de bossa
O jornalista Moysés Fuks desmente versões e diz como batizou o movimento bossa nova

Mauro Ventura

Na autobiografia que vai lançar este ano, Carlos Lyra diz, a respeito do primeiro show de bossa nova, no Grupo Universitário Hebraico, no fim dos anos 50: "Você sabia que o termo bossa nova foi criado por um judeu de um metro e meio de altura nunca mais visto por ninguém? O diretor da casa, um judeuzinho baixinho, especializado em marketing, bolou o cartaz de apresentação: 'Os bossa nova'. O nome pegou e passamos a usá-lo nos nossos shows." Quando soube que isso estaria no livro, o jornalista Moysés Fuks ficou incomodado. Procurou Lyra e deixou vários recados - "para esclarecer, não para brigar", diz. O assunto passou, ele deixou pra lá, mas, ao começarem as comemorações dos 50 anos da bossa nova, ouviu de conhecidos: "Toma uma atitude". Conversando com o amigo Sérgio Cabral, teve a idéia de elucidar a polêmica que cerca a origem do termo. Ele garante que é o tal "judeuzinho baixinho" - de baixinho Fuks, com 1,78, não tem nada.

- Eu era secretário (cargo hoje equivalente a editor) do "Tablóide UH", da "Última Hora", do Samuel Wainer, casado com a Danuza Leão. A Nara, irmã dela, frequentava o jornal, assim como o Ronaldo Bôscoli e o Chico Fim de Noite - conta Fuks, de 70 anos.

Fuks sugeriu espetáculo pioneiro

Fuks também fazia parte do Grupo Hebráico, no Flamengo (não confundir com Hebráica), e frequentava reuniões caseiras com músicos da época.

Sérgio Cabral escreve em "Nara Leão": "Entusiasmado com o que viu e ouviu, Moysés conversou com Bôscoli sobre as possibilidades de uma apresentação no Grupo." Convite aceito, foram reunidos nomes como Silvinha Teles, Luiz Eça, Lyra, Roberto Menescal, Nara, Luiz Carlos Vinhas, Chico Fim de Noite, Bebeto, João Mário, Bill Horn.

- Era um grupo que juntava músicos de jazz e de samba. Pensei: como rotular essa apresentação que mesclava os dois gêneros? Eu já conhecia a palavra bossa, e na minha cabeça aquilo passou a ser uma bossa nova. Ou seja, criei o termo, como jornalista, na "Última Hora", para batizar esse encontro.

A expressão, diz Fuks, saiu escrita pela primeira vez no programa do show, que ele fez para ser divulgado entre os estudantes. Em seguida, ela foi anotada num quadro-negro que ficava na varanda do Grupo. Era uma forma de reforçar a divulgação. E, logo depois, foi citada pelo Fuks, numa nota em que ele citava a apresentação. Mas a origem da expressão sempre esteve cercada de polêmica.

- Desde a minha adolescência ouço que a primeira vez que foi usada na imprensa foi por Sérgio Porto. Sempre se falou isso na família, com ele ainda vivo - lembra sua prima-irmã, a jornalista Maria Lúcia Rangel.

Segundo Carlos Roquette, que promove passeios guiados pela cidade e desde 1983 pesquisa bossa nova, "Fuks diz que foi ele, mas aceitar isso como verdade histórica é complicado". E Carlos Lyra recorda:

- Era um judeuzinho louro de cabelo escovado, pequenininho, diretor social do Grupo Hebráico. Tenho certeza de que não era o Fuks.

O jornalista estranha a afirmação e diz que num recital de Lyra no Hotel Sheraton ganhou palmas ao ser apresentado pelo próprio músico como o inventor do termo. em sua defesa, Fuks conta com aliados de peso. Sérgio Cabral escreve: "Ao chegar ao local do show, (Roberto) Menescal quis saber 'que grupo bossa nova' seria aquele e Moysés explicou que, não sabendo os nomes deles, achou melhor adotar aquela solução. 'Mas, se vocês quiserem, eu mudo', defendeu-se Fuks. 'Pode deixar assim mesmo', liberou o violonista. O fato é que, a partir dali, a expressão bossa nova passou a identificar a música e os músicos comprometidos com o movimento".

Ruy Castro, autor de "Chega de Saudade" e "Rio bossa nova", reforça: - A expressão bossa nova já existia há muito tempo para definir qualquer coisa nova. Um dos seus mais constantes usuários era o violonista Zé Carioca, que tocava nos anos 40 e 50 com Carmen Miranda nos Estados Unidos. Tudo que ele via de inusitado por lá chamava de "bossa nova". e a palavra "bossa", exatamente com o sentido de um jeito diferente de fazer alguma coisa, já está no "Memórias de um sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida, em 1852/53 - explica. - O que me parece inegável é que foi o Fuks que pegou a expressão "um grupo bossa nova" e passou a falar em "música bossa nova" ou "música de bossa nova" na "Última Hora".

'Só eu poderia ter escrito os dizeres'

No pioneiro show no Grupo Universitário Hebraico, a expressão "bossa nova" apareceu escrita a giz num quadro-negro que ficava na varanda. Mas quem a escreveu? Os pesquisadores falam em "alguém não identificado" ou "ma secretária", Não se sabe sequer ao certo a data do show, se em 1957 ou 1958 - sabe-se só que foi numa quarta feira, pois era o dia dos eventos no Grupo. Tampouco se tem certeza do texto exato. Ele foi copiado de um programa mimeografado, feito para divulgar o espetáculo entre os estudantes. Fuks conta:

- Não me lembro ao certo do que escrevi no programa. Sei que pus no release "noite de" ou "noite de bossa nova, com a participação de Silvinha Teles".

- Um belo dia, ou noite, Fuks nos trouxe uma novidade de um grupo que estaria fazendo música com uma batida moderna, diferente, um grupo bossa nova! - lembra Zeca Levinson, então presidente do Grupo. - Topamos de imediato e ele foi cuidar de rodar no nosso mimeógrafo o comunicado para o evento. Não costumo contar porque dificilmente alguém acredita que foi lá que tudo começou.

Mas quem é a tal secretária anônima? Dois filhos, sete netos, viúva do jornalista Eliezer Strauch, Lia (foto), de 64 anos, vive em Israel. De lá, por e-mail, ela conta: "Era costume divulgar no quadro-negro todos os acontecimentos importantes do Grupo. Eu era a responsável pela secretaria e só eu poderia ter escrito que na 'quarta feira, dia tal, noite de ou da bossa nova etc'. Mas não poderia ter tirado da minha cabeça os dizeres se não tivesse aparecido em outro lugar. Eu era a secretária, mas não tinha independência de criar títulos para as atividades do Grupo.”

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