Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HISTÓRIAS DO JAZZ n° 36

15 maio 2007

Jimmie Rowles-J.B.

Essa não é propriamente uma história de minha autoria, embora eu seja um dos personagens nela incluído. Trata-se de uma matéria publicada no “Jornal do Brasil” de 20 de setembro de 1978, assinada por José Nêumane Pinto que relata com fidelidade o ocorrido numa tarde feliz em pleno bar do Hotel Eldorado - Higienópolis. Eis o texto :
“Art Tatum é uma nuvem, cujas mãos habilíssimas baixam ao teclado e executam obras inesquecíveis. George Shearing toca de costas para o piano especialmente construído para ele. Oscar Peterson devora o instrumento com garfo e faca. E Erroll Garner é uma coleção de enciclopédias musicais de vários países do mundo, com mãos ágeis e sensíveis.
Assim ,um grande pianista da historia do Jazz vê quatro de seus companheiros e os define entre os maiores de todos. A definição é feita mais nos traços de um desenho simples e direto do que mesmo por palavras,mas Jimmy Rowles,o homem que emocionou o público do Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, semana passada, fazendo Debussy baixar em pleno I Festival Internaconal de Jazz, com seu solo de “The Peacocks”, também fala.
Rosado ,cabelos alvos, inquieto , o velho passeia nervosamente pelo bar do Hotel Eldorado Higienópolis quando nota o chamado de uma mesa. Luiz Carlos Antunes, antigo expert em Jazz do Rio de Janeiro, vê que ele quer companhia e, mesmo não falando bem inglês, o convida a se sentar. Insone por excesso de cansaço durante as 48 horas anteriores em que permanecia no Brasil, uma das sete grandes atrações do “Jazz at the Philarmonic”-JATP-de Norman Granz, senta-se, sem se fazer de rogado,e beberica meia cerveja, enquanto se embala de recordações . O trombonista Frank Rosolino senta-se ao seu lado.
O assunto da mesa é o piano na história do Jazz. Quem conta a história é Jimmy Rowles, verbete da famosa “Enciclopediado Jazz” de Leonard Feather, conhecido como o “músico preferido pelos músicos”, cujo álbum “ThePeacocks”, com Stan Getz e a família Hendricks (Jon,Judy e Michelle) está sendo lançado no Brasil, agora, pela CBS.
O primeiro tema é o cego George Shearing, que,como disse o já citado Leonard Feather, bebeu água da fonte de Lennie Tristano, pianista que tinha seu próprio som caracterizado pelo uníssono de guitarra, vibrafone e piano e foi influenciado pelo homem dos acordes em grupo, Milt Buckner . Para Rowles “Shearing é o maior de todos os pianistas solo”. Comenta isso, entre um gole de cerveja e um golpe rápido de caneta hidrográfica preta no papel branco que Lula lhe estende. Luiz Carlos Antunes comenta que agora Shearing não quer mais saber de Jazz e só grava comercialmente, com cordas e tudo. Rowles desenha o cego de costas para o piano e escreve a marca do instrumento :” Para o cego,limitada” . “O desenho quer dizer que Shearing não é cego em música,” disse Lula .
E não para de desenhar quando o apresentador do programa de Jazz da Rádio Difusora Fluminense do Rio fala em Art Tatum, o pianista que ele mais admira e admira tanto que fez questão de que isso constasse do verbete escrito sobre ele por Feather. “Art Tatum é o gigante do piano. Ninguém sabe ou soube mais do que ele em termos de instrumento”, enquanto desenha a nuvem com as mãos. A mesa começa a ter mais participantes e Luiz Carlos Antunes se vê obrigado a explicar que Art Tatum era um músico vaidoso ele desafiava outros solistas, com sua extraordinária habilidade técnica.”Ele chegava a tocar duas horas o mesmo tema em todos os tons maiores e menores da música”, comenta Lula, que ainda explica :Tatum foi um dos reis do swing, um elo perfeito entre o “stride “ piano de Earl Hines, entre outros da fase pioneira, e a linha mais moderna de um Bud Powel, por exemplo.”
Erroll Garner é um dos pianistas preferidos de Lula e,por isso,seu nome surge na conversa, então já na descontração total. Mais um papel é arrancado da pasta “O assunto é Jazz”. Mais um desenho brota das mãos do pianista. Ele se lembra que Garner sempre tocou sentado sobre uma lista telefônica de Nova Iorque em cima da banqueta e, para demonstrar que o autor de “Misty” reúne influencias musicais do mundo inteiro,sendo até enciclopédico,desenha vários livros grossos com os nomes de vários países.
Deles sai a mão que vai ao teclado.
O “expert” em Jazz define Jimmy Rowles como “o músico dos músicos”, pelo seu estilo diferente a que foi apresentado logo no início da carreira, no trio do grande clarinetista Benny Goodman. A conversa está animada quando aparece Benny Carter para se despedir. Rowles se levanta e beija o velho instrumentista duas vezes na face. Quando Benny Carter sai não ouve o comentário do pianista :” Esse é um dos maiores músicos da história do Jazz. Vale a pena ouvi-lo quantas vezes for possível”. Rowles, autor de “Ballad of Thelonius Monk” (ele é um baladista por excelência , segundo os críticos) é assim definido por Feather no verbete que lhe é dedicado na Enciclopédia: “Muito conhecido como o acompanhante favorito de todas as cantoras com quem trabalhou, é um artista de uma consumada imaginação
harmônica. Por muitos anos ele se especializou em criar um repertório baseado nas composições de Duke Ellington e Billy Strayhorn “ Sua obra mais conhecida é a executada em solo, no Anhembi –“The Peacocks”- definida pelo critico de Jazz Dan Mogerstern (diretor de Estados de Jazz da Universidade Rutgers e autor de Jazz People com Olé Brask) como “não um original de Jazz mas uma autêntica peça de música com ambiência impressionista de um prelúdio de Debussy.”
__________
Meu objetivo ao incluir essa reportagem na série , foi mostrar aos mais novos como funcionavam os festivais daquela época, Tempo feliz que tive a oportunidade de desfrutar ao lado de músicos que sempre admirei. Ainda hoje sou grato a José Nêumane Pinto, um profissional sério, autor da matéria, que me convenceu a ceder os desenhos feitos por Rowles para ilustrá-la e relata-la com absoluta fidelidade.

Nenhum comentário: