Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

HISTÓRIAS DO JAZZ N° 22

06 fevereiro 2007

1957 - Louis Armstrong no Rio

Os frequentadores das Lojas Murray quase soltaram foguetes quando Sylvio Tullio Cardoso trouxe a notícia que Louis Armstrong tocaria no Rio. Realmente, “Satchmo” e seus famosos “All-Stars” chegaram para cumprir rápida temporada que compreendia exibições no Teatro Municipal, no Country Club e no Maracanãzinho.
A estréia se deu em 25 de novembro numa récita de gala no Municipal, com a obrigatoriedade de traje a rigor. No mesmo dia, outro show no Country Club às 24 horas.
Dia seguinte, a estréia para o “povão”, no mesmo Municipal, com dois shows programados para as dezessete e vinte e uma horas. Foi quando descobri que a última fila de cadeiras da galeria do teatro deve ter sido reservadas para deficientes visuais, já que dali não se enxerga o palco. Por sorte, estava ao meu lado um niteroiense que óbviamente gostava de Jazz e que nas circunstancias muito me ajudou. Quando ouvimos o som do trumpete de Armstrong “esquentando”, fomos tomados por grande ansiedade. Mas, como assistir dali a exibição dos “All-Stars”? Foi quando ele me pegou pelo braço e falou: “Lula, vem comigo”. Sem entender o que faríamos, saí com ele descendo rápidamente as escadas, rumo as coxias do teatro. Frente ao porteiro, ele sacou uma carteira com as armas da República: Poder Judiciário! identificou-se e declarou que eu era o seu assistente.

Já estava rolando o “When It’s Sleepy Time Down South”, prefixo de Armstrong e a emoção era grande demais. Ver e ouvir Armstrong a curta distância, observar seus trejeitos, seus lábios castigados, que molhava de vez em quando bebendo em uma vistosa caneca, incentivando seus solistas e sempre sublinhando com um sorriso os seus improvisos, era realmente um presente dos deuses. Assistimos todo o show dalí e após seu término iniciamos a nossa caça aos autógrafos.

Armstrong, em seu camarim, não recebeu ninguém. Seu guarda-costas, um negão de uns dois metros de altura, recolhia o material a ser autografado, levava para o camarim e depois devolvia aos respectivos donos. Satchmo teve trabalho com meu material. Além da Jazz Encyclopedia de Leonard Feather, o programa oficial e o “pocket book” “My Life in New Orleans”, todos autografados com uma caneta de tinta verde.
Em seguida, fomos em busca dos outros músicos. Ao passar pelo palco, já protegido por uma grossa cortina, meu amigo conseguiu uma brecha e depois reapareceu desolado e me confessou: “Eu queria roubar a caneca de Armstrong mas só conseguí esse lenço amassado com um palito mastigado dentro”.

Edmond Hall, Barrett Deems e Squire Gersh ainda estavam por perto e logo autografaram a documentação. A gorducha Velma Midleton interessou-se pela Encyclopedia, folheou-a e concedeu o autógrafo. No caminho ainda encontramos Billy Kyle que, com um sorriso, também autografou o pacote. Só faltava Trummy Young e só depois de longa peregrinação fomos encontrá-lo em um camarim de difícil acesso pois tivemos que atravessar cenários, cordas, sacos de areia e outros acessórios da ribalta. Sorriso permanente, o trombonista conversava bastante com os presentes, mostrava orgulhoso o seu cartão de associado do Sindicato dos Compositores da França e comentava a feliz convivência com Satchmo. Nisso chegam ao local o trombonista Raul de Barros e o sambista Monsueto Menezes. Ao saber que Raul era colega de instrumento Trummy tirou o seu do estojo e pediu que Raul tocasse alguma coisa. Raul colocou sua boquilha e para gáudio dos presentes interpretou o seu famoso “Na Glória”, acompanhado pela batucada que as mãos de Monsueto produziam percutindo a porta. No trecho em que é tocada a frase da “Marcha Nupcial”, Trummy caiu na gargalhada e tudo terminou num longo abraço entre os dois.

De repente surge o aviso de que o segundo show iria começar dentro de meia hora. Será possivel? O tempo passou tão depressa, eram os comentários. O jeito era saber como e onde ficar, já que meu amigo “autoridade” informou que iria embora. Fui ficando, ficando, procurando um canto onde não fosse percebido e consegui assistir toda a primeira parte.

No intervalo, devido ao adiantado da hora, saí pela porta traseira do teatro
ouvindo os primeiros acordes de “Basin Street Blues”. Triste por ter que sair e alegre por ter visto e ouvido a maior figura da história do Jazz.

Para quem quiser anotar, aí vai a formação do grupo : Louis Armstrong,
Trummy Young(tb)- Edmond Hall(cl)- Billy Kyle(p)- Squire Gersh(b)- Barrett Deems(dm)-Velma Mindleton(vo).

Nenhum comentário: