
Conheci Paulo Brandão na década de cinqüenta, ainda nos tempos das Lojas Murray. Jornalista e amante do Jazz, Brandão esbanjava conhecimento e foi sem dúvida um dos incentivadores da arte no Rio de Janeiro. No tempo da repressão, morou no exterior e em sua volta não conseguia conter a mágoa que tinha de uns e de outros. Exerceu por algum tempo o cargo de diretor da Odeon, quando essa representava a gravadora Capitol no Brasil.
Lembro-me que, ainda no cargo, Brandão foi um dos responsáveis por Nat King Cole em sua vinda ao Rio de Janeiro e que, no coquetel oferecido ao cantor, nos estúdios do Edifício São Borja, enquanto o apresentava aos jornalistas presentes, tinha que conter a invasão das "macacas de auditório" que, sabendo da presença do cantor, queriam agarra-lo de qualquer maneira.
Teve também um programa de Jazz na “Rádio Carioca”, onde apresentava ótimos lançamentos e algumas raridades de sua discoteca. Foi responsável pelo lançamento da primeira revista especializada no Rio de Janeiro, a “Jazz” que, embora tivesse ficado em um só número marcou o início da existência dessas publicações entre nós.
Corria o ano de 1979 quando Brandão resolveu lançar um boletim chamado “Jazz Etcetera”. Era vendido por mala direta e trazia como símbolo o Jabuti flautista, personagem criada por Anélio Latini em seu filme “Sinfonia Amazônica”. Embora só tivesse duas páginas, trazia um bom noticiário e informações históricas, que Brandão sempre colocava em termos didáticos. Distribuía o seu boletim aos colegas de imprensa em troca da competente divulgação. Nessa época eu tinha uma coluna na “Tribuna da Imprensa” e registrava com prazer o recebimento daquele boletim.
Foi então, que no número três do “Jazz Etcetera”, em sua primeira folha , falando sobre o primeiro disco de Jazz , o texto informava que a Original Dixieland Jazz Band era liderada por Dominick Nick James La Porta. Registrei o recebimento e no final de meu comentário indagava: “Não seria La Roca", meu caro Brandão? Ele não gostou do comentário e atribuiu o erro a secretária que datilografou o texto. Calmamente, sugeri que fosse feita sempre uma revisão, ainda mais em se tratando de um “órgão especializado”. Continuou reclamando mas dei o assunto por encerrado.
Mas em setembro de 1979 fomos assistir ao sensacional show do trio de Bill Evans na Sala Cecilia Meirelles. Na saída, encontro os saudosos Rocha Mello e Cláudio Cosme Pinto e comentávamos entusiasmados o show do pianista quando chega Brandão. Então Rocha Melo informa que estava de carro e poderia nos dar uma carona até Niterói. Eu e Brandão exultamos. Rocha Melo informou ,“primeiro vou deixar o Cláudio em Laranjeiras e depois atravessamos a ponte”.
E assim foi feito. Chegando na casa de Cláudio, na rua General Glicério, Rocha Melo exclamou : “Isso é que é carona, bem na porta !", ao que eu imediata e ironicamente indaguei : “Não seria na roca ? “
Sentado no banco de trás, Brandão quase teve um troço. Socava o banco do carro com raiva incontida e, com licença da má palavra, me esculhambava pra valer.
Só sossegou quando Rocha Melo ameaçou parar o carro e despejá-lo. E até hoje não fala comigo.
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