Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

QUEM ME DEU ALEGRIA EM 2006

17 dezembro 2006

Essa coisa de eleger os melhores de uma cesta tão ampla e diversificada acaba caindo numa sessão de vaidades capitaneada pelos que se acham os donos da verdade. Eleger os melhores a cada ano implica uma cobrança de coerência impossível de ser mantida simplesmente porque a vida muda, o mundo muda, os artistas também mudam.

Assim é que só consigo lhes oferecer uma lista com as minhas ponderações sobre ‘quem me deu alegria em 2006’. Isto, de forma alguma, é excludente dos fabulosos artistas que encantam nossas vidas e que hoje já não moram mais aqui. Volta-e-meia, as gravadoras desencavam discos há muito fora de catálogo de modo que eles ficam sempre a nossa volta.

Vencido este blá-blá-blá inicial, vamos a minha lista Alegria em 2006:

Orchestra: Maria Schneider – mesmo sem lançar disco novo este ano, ela foi incluída porque a minha alegria em vê-la ‘segurando’ a sua orquestra superou todas as expectativas. Leveza, autoridade, conhecimento e beleza. Com licença do nosso Gilberto Brasil, Schneider é para mim a artista do ano em alegria.

Big Band: Kenny Clarke & Francy Boland Orchestra – mesmo desfeita há anos, esta jazz band extraordinária passou por um surto de lançamentos em cedê durante os últimos anos que me chamou a atenção. Garra é a palavra-chave desta orquestra, aliada à deliciosa complexidade de composições de Boland e do baixista Jimmy Woode mais a releitura enlouquecedora de alguns standards.

Arranjador (instrumental): Michel Legrand – por seu disco ‘Big Band’ de 1983 que eu descobri somente agora nas prateleiras de ouro do Sazinho e que eu não paro de ouvir, de cabo a rabo, no meu iPod. Obrigado, Sazinho. Também por seu vídeo gravado em Bruxelas, muito bonito pelo menos na parte em que ele rege a orquestra local.

Arranjador (para vocal): John Clayton – por seu arranjo incomum de ‘A Insensatez’ (How Insensitive) no disco de 2006 da insossa Diana Krall.

Combo: Passo a bola sem comentários.

Piano: Ahmad Jamal – impressionante com seus mais 70 anos de idade. Uma escola. Obrigado pela emoção do show ao vivo no Rio de Janeiro.

Baixo: Passo a bola sem comentários.

Bateria: Chico Hamilton. Não vejo nenhum grande na ativa. O reissue em cedê do álbum mais conhecido de Hamilton valeu. Com Charles Lloyd no sax e Larry Corryell na guitarra.

Guitar: Quase passei a bola, mas, afinal, achei que devia dar uma chance ao reissue de uma compilação de gravações do Sacha Distel, ainda na sua fase de bom guitarrista. Edição em cedê duplo, editado na França.

Vibes: Passo a bola sem comentários.

Trumpet: Roy Hargrove – há muitos anos, este crazy boy ocupa espaço importante na minha mente, notadamente quando se detém no jazz, na tradição dos combos do pianista Horace Silver, modelo que, aliás, o lançou para o sucesso e que ele retomou neste ano com seu último cedê, cujo repertório dominou a sua apresentação no Rio de Janeiro.

Sax: Lennie Niehaus – mesmo aposentado de tantas trilhas sonoras para os filmes de Clint Eastwood e esquecido de voltar a atacar em combos com o seu sax, este homem teve lançadas em cedê as suas gravações completas da década de 50. Um luxo West Coast bastante refinado. São 5 discos ao todo, vendidos separadamente.

Trombone: Slide Hampton. Quase passei a bola também neste departamento, mas, afinal, achei que devia dar uma chance ao disco de Hampton com a SWR Big Band, disco editado na Alemanha ao vivo. Muito estimulante. Deu para compensar pelo disco meia tampa de Hampton com a obra do Tom Jobim.

Cantor: Mark Murphy – não tem para ninguém atualmente. O grande Jon Hendricks está fora de forma. O Kurt Elling veio para mostrar o que eu já sentia: muito trejeito, muito maneirismo, muita artificialidade, falta de anos de ralação. O Giacomo Gates continua produzindo muito pouco para o que merecia. O Kevin Mahogany ainda não acertou a mão. Murphy não lançou disco este ano, mas eu continuo ouvindo o estarrecedor disco de baladas com o qual ele estreou na Verve em 2005.

Cantora: Passo a bola – pois é. Elas são divinas. Belas e maravilhosas. Têm um enorme marketing budget, do tamanho de suas bundas. Elas casam, têm gêmeos, tudo sai no jornal. Quando vêm ao Rio, sentam no colo de alguém na platéia, deixam os caras babando numa discreta ambivalência entre gosto musical e gosto sexual. Para mim, elas não valem muito. O que vale são aquelas que, em sua maioria, estão mortas. Não tenho culpa, pelo menos não fui quem as matou. Será que estou me especializando em ‘defuntologia musicológica’ ou quiçá ‘museologia defunctória’?

Vídeo: a série Jazz Icons lançada este ano recuperou shows em preto-e-branco inimagináveis. São 9 discos dentro os quais destaco o do Quincy Jones (onde aparece Phil Woods), o do Count Basie e o da Ella Fitzgerald.

Show ao vivo em 2006: Maria Schneider no Rio de Janeiro - sou muito seletivo. Se não tenho uma boa expectativa, não saio de casa. Não costumo freqüentar shows meramente para mostrar pros outros que eu estive lá (sacou?). Em certos casos, até vou para comprovar a expectativa ruim como foi o exemplo do Kurt Elling, cujo show fui ver mais por um dever do ofício de cantar e que confirmou as minhas expectativas negativas. Assim, não posso de deixar de lembrar o show pelo qual eu tinha muitas expectativas e que correspondeu com sobras em emoção, em ‘artistry’, em técnica, em prazer.

Minha Grande Perda em 2006: É duro ver os anos passarem e nos assarem o viço. É duro ver amigos, artistas, gente tão querida nas mesmas condições. A morte dá o tom definitivo deste sentimento, um gosto de que tudo está perdido, ainda mais no Jazz, onde a renovação é pífia. A passagem de Anita O’Day é uma dessas perdas de uma irmã querida que sempre vinha nos visitar com um presentinho carinhoso (um disco novo) que já esperávamos com ansiedade, por sua vivacidade, bom humor e beleza.

A passagem de Betty Comdem, a grande letrista de belos standards da música americana também não passou batida por mim. Eu, que ainda ontem cantei seu grande sucesso na voz de Tony Bennett ‘Just in Time’ estarei sempre lembrando dos versos bem construídos juntamente com Adolph Green.

Bola de Ouro 2006: Enrico Rava em vídeo que me chegou este ano pelas mãos generosas do amigo Luiz Fernando Senna. Este Rava é um animal do trumpete, descompromissado com correntes e visões e, ao mesmo tempo, fazendo ‘pure jazz’ de ensinar para muita gente por aí.

Bola de Merda 2006: Herbie Hancock por sua incrível capacidade de autodestruição.

Blefe 2006: este festival de jazz no Rio de Janeiro em 2006, que deu vários tiros no próprio pé ao sacanear o próprio público de jazz num local inadequado, com vinhetas inadequadas, com músicos enxotando colegas do palco. Não é à toa que o Zuza teve pirepaque. Quero minha grana de volta.

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