

Escalado para a abertura da sexta-feira, dia 6 de janeiro, o quarteto do bom pianista gaúcho Geraldo Flach - na foto ao lado - desempenhou seu papel com desenvoltura, e o início de seu set me fez perceber que alguma coisa ali estava fazendo bem à alma, e não eram apenas o aroma de capim misturado ao de eucaliptos e os perfumes das elegantes argentinas que povoavam, em grande maioria, o local. Era algo mais e levei alguns minutos para sintonizar. Em mais alguns instantes pude perceber que era o som. Claro, límpido, perfeitamente equalizado, coisa de - desculpem, não resisto - um Rudy Van Gelder, se despencado em espírito por aquela plaga sulina. Poucas vezes, posso afirmar sem erro, pude estar servido por uma qualidade de som tão espetacular, contadas aí todas as experiências anteriores em festivais e casas de jazz que já freqüentei na vida. Algum especialista dirá que era pelo fato de se estar ao ar livre, sem nenhum tipo de interferência ou reverberação, me parece lógico, mas o fato é que a nota para o quesito "som" do festival Lapataiano foi um sonoro e robusto DEZ! Creditado à equipe de Oscar Pessano.
Voltando ao Flach e companhia, o quarteto bastante competente abriu o set tocando um tipo de jazz moderno que não era exatamente o que eu esperava ouvir. Geraldo é um pianista sólido que optou por uma vereda de execução mezzo suingada mezzo progressiva, e permitiu que seu baixista, Ricardo Baumgarten, cuja levada segura me fez pensar logo em Stanley Clarke, abrisse a boca, à Pedro Aznar, para alguns scats, acompanhado da guitarra francamente methenyna do nem por isso menos competente Paulinho Fagundes. Fechando o grupo, um proficiente e seguro baterista, Ricardo Arenhaldt, com um tipo físico que infelizmente me trouxe à lembrança a figura nefasta de Kenny G (ahrghhh!!!), com cachos dourados descendo pelas laterais do rosto.
Numa mesma rota animada, fizeram sua leitura de Água na Boca, de Rita Lee, que me pareceu totalmente deslocada, qual um petisco propositalmente colocado ali apenas para conquistar a platéia de mamães e filhotes. Então Flach fez, em solo, uma interessante interpretação de Desafinado, o ponto alto do set. Em seguida, com o grupo, Encontros e Despedidas, de Milton Nascimento, que foi tisnada pela mesma permissão a Baumgarten - a meu ver, tão indevida quanto a anterior - de cantar.
Para finalizar, Flach comandou uma versão de Autumn Leaves que teria soado muito bem se o líder não sucumbisse à tentação de cooptar a platéia a acompanhar a banda pela via de um refrão pegajoso secundado por palmas, o que transformou uma apresentação de natureza técnicamente competente numa grande tolice de natureza "jazzística", feita para o regozijo da parte desentendida da platéia.

De minha parte, gostaria de voltar a ver Flach e seu bom grupo, dedicados a um repertório jazzístico mais elaborado e sem tantas concessões. Em meio às diversas placas espalhadas pelo local com citações de jazzistas históricos, a de Dizzie Gillespie rezava, solene, como um aviso para quem dele precisasse: "Passei um longo tempo de minha vida aprendendo o que não tocar..."
Geraldo Flach Quartet: Cotação - @@
...continua
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