Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

COUTINHO E BLAS NO "B" DO JB: ANTONIO TORRES

01 setembro 2005

Antonio Torres é um escritor que faz da simplicidade de seu texto um atrativo para suas três colunas semanais no Caderno B. Na publicada nesta data, dedica-o a um de nossos confrades, Arlindo Coutinho e menciona o concerto de hoje no Mistura, com Blas Rivera tributando a Astor Piazolla. Segue a transcrição:


"História de bons vizinhos

Primeiro, imagine o que é viver sob um teto que trepida o tempo todo. Ora é o lançamento de pesados objetos que estrondam, dando a impressão de que o prédio está desabando; ora são outros impactos: uma criança pulando com um cachorro; adultos arrastando móveis; adolescentes disputando campeonatos de boxe, de luta livre e de futebol ou promovendo baile funk, como se não bastassem as estridências que vêm do morro. Quem mora nas proximidades de um sabe quais são os níveis dos decibéis das suas guerras. Enlouquecedores.
Você interfona para a portaria. Chama o síndico. Pede providências em relação aos intrépidos moradores do andar de cima. E ganha uns 15 minutos de trégua. Depois, os ruídos infernais recomeçam. Neste modus vivendi trepidante, só lhe restará sonhar acordado com uma ilha deserta, uma casa no campo ou na merencória e silente Lua!

Agora, imagine um vizinho com quem você se entende por música. Já tive um assim, porta a porta, até o dia em que o almirante Saboya, então ministro da Marinha, pediu-lhe o apartamento, de que era o proprietário. Precisava dele para um filho, o tenente Rodolfo, que ia se casar. A notícia deixou os meus muito tristes. Por perderem o convívio diário da Carmem, pois viviam brincando com ela. O menor dos dois meninos, ao ser vencido pelo cansaço, costumava estirar-se num sofá. Então Marcela, a boa mãe da sua amiguinha, trazia-lhe um travesseirinho, no qual ele encostava a cabeça e adormecia ao som do jazz de Arlindo Coutinho, o personagem central desta história. Não por acaso, aquele garoto, chamado Tiago, ao crescer iria se tornar um músico profissional.

Os do planeta musical, como Luiz Orlando Carneiro, Tárik de Souza, Luís Pimentel, Antônio Carlos Miguel e Arthur da Távola, se por ventura estiverem lendo estas linhas, já ligaram o nome à pessoa. A do ex-gerente de música clássica e jazzística na Sony - hoje seu consultor -, e que teve um programa semanal na Rádio Globo FM, o Jazz mais jazz.

Mas confesso: ele se tornou o melhor vizinho do mundo ao me dizer que não gostava de Miles Davis. Seu trompetista preferido era (e deve continuar sendo) Dizzy Gillespie. Não, não polemizei sobre o assunto. Aceitei como uma bênção todos os discos do Miles que Arlindo Coutinho me repassou no ato. E dizendo-lhe, em agradecimento: "É verdade. O Dizzy foi um gigante!" (subtexto: "Venha daí tudo o que você tem do senhor Todos os Trompetes Havidos e a Haver Davis").

Dia destes ele me enviou uma raridade. Uma cópia do CD "The Sheriff", em que o Modern Jazz Quartet interpreta magistralmente dois sucessos brasileiros que encantam o mundo: as Bachianas nº 5, de Villa-Lobos, e Manhã de Carnaval, de Luiz Bonfá e Antônio Maria.

O presente chegou com um convite que repasso ao distinto público: esta noite, às 21h30, no Mistura Fina, na Lagoa, Arlindo Coutinho estará animando um tributo a Astor Piazzolla. Em cena, o saxofonista argentino Blas Rivera. Outra bênção para ouvidos massacrados por tanto barulho."

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