Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

GILLESPIE E O TRIO MOCOTÓ

12 outubro 2004

Por Arlindo Coutinho

Parece-me que foi em 1971, quando Gillespie voltou ao Brasil para uma série de apresentações. Ele tocaria no cinema Astoria (Ipanema), na mesma noite em que Charles Mingus daria um concerto no Teatro Municipal.

Naquela tarde, eu e Jonh (Gillespie) fomos almoçar com Maurício Quadrio, diretor da Polygram na época, que avisou sobre uma gravação reunindo "Birks" e o Trio Mocotó, a se realizar em São Paulo, para a qual, claro, fui convidado, mas a que, por questão de ética (eu então dirigia o Departamento de Imprensa da CBS), resolvi não assistir.

Dias depois, Gillespie me telefona, querendo marcar um encontro no Rio, pois estava de partida para Nova York, naquela noite.

Enquanto ele arrumava as malas, perguntei-lhe como tinha sido a gravação.

- Gostei, achei o trio com muito swing e todos extremamentes simpáticos. Acho que ficou muito bom, mas quanto a lançamento do disco, isso é com a gravadora, me disse.

Fui logo dizendo o quanto gostaria de ouvir aquele trabalho e, de repente, Gillespie abriu a mala, da qual tirou um tape profissional, que me entregou, pedindo que evitasse divulgar, e dizendo:

- Guarda isso com você. Na minha próxima vinda eu pego e levo comigo.

Após deixar Gillespie no aeroporto e levar a fita para casa, pedi a um amigo, engenheiro de som dos estúdios da CBS, que me deixasse ouvir o tal "tape" no estúdio de oito canais da mesma CBS. Nem na fita nem na caixa, estranhamente, havia label (relação das faixas e autores, e tempo da gravação).

Ouvi o tape duas vezes apenas. A primeira faixa achei sensacional, mas as demais, penso terem sido algumas das várias experiências musicais que John gostava de fazer com músicos de outros países.

Só não entendia o que aquela fita estava fazendo comigo.

Gillespie voltou várias vezes ao Brasil e, sempre que nos encontrávamos, eu sempre fazia a mesma pergunta:

- John, o tape está comigo; quer que lhe entregue ?
- Vai guardando com você que um dia eu pego, ele repetiria anos a fio, sem nunca me perguntar sequer se eu ouvira o tape. Mistérios de John Birks Gillespie.

Passaram-se os anos, Dizzy morreu, mas aquele trabalho ficou registrado e sob minha guarda, embora sempre mantivesse minha palavra, quanto a não divulgá-lo jamais.

No ano passado, porém, ligou-me Oswaldo Vidal, engenheiro de som na época da gravação e ex-vice-presidente de operações da Sony, dizendo que havia visto no Programa do Jô Soares uma entrevista com o Trio Mocotó, na qual se referiram ao sumiço de um certo tape contendo o encontro deles com Dizzy Gillespie.

Vidal, sabendo da minha amizade com Gillespie, perguntou se eu sabia do paradeiro da tal fita e aí resolvi abrir o jogo, não sem antes pedir-lhe idêntica discrição:

- A fita está comigo, não sei se há cópias e nem se esse tape é o original, disse-lhe, contando como a fita chegara às minhas mãos.

Levei o tape para sua casa, que abriga um estúdio, no Cosme Velho. Como engenheiro de som, ele garantiu não haver mixagem, que ficou de fazer, para, depois, digitalizar. Mas não tirou nenhuma cópia, tenho certeza.

Quanto ao Maurício (Quadrio), conforme instruções de Gillespie, nunca toquei no assunto com ele e não sei se há outra cópia da fita, como desconheço, aliás, o paradeiro de outro tape, do mesmo Gillespie com a Bateria da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Essa talvez estivesse com o Maurício, que, todavia, nos deixou ano passado.

Essa é a história definitiva, depois de tantas versões sobre o "sumido" tape de Dizzy com o Trio Mocotó, agora "encontrado" e de posse do CJUB.

Pelos menos essa é a minha versão.

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