Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

UM PRESENTE RARO

24 março 2004

Mario “Coitado”, grande filósofo contemporâneo de Londrina, costuma dizer entre amigos: ”Não existe mulher feia; existe homem que não bebe”. Diante desta máxima chauvinista, tomei algumas precauções para postar este texto. Faz pelo menos dois meses que venho escutando quase que diariamente um CD do pianista Randy Waldman chamado “Wigged Out”. Confesso que nas primeiras vezes embalado por um Trapiche Medalla e outras por um sempre oportuno Cardhu. Quase uma obra-prima? Para ter certeza da constatação, resolvi ouvi-lo sóbrio. E só não o é por único detalhe. Uma das faixas, “Beethoven’s 5th Symphony”, recebeu um arranjo não muito feliz. Caso contrário, admitiria ser um dos mais fascinantes discos de jazz que ouvi nos últimos tempos. Um comentarista de futebol escalou seu ataque de todos os séculos: Garrincha, Zizinho, Zico, Pelé e Gilson Nunes. A presença do Gilson, claro, causou reação violenta. Mas ele explicou:” Péra aíííí...Mas alguém tem que perder a bola!”. No caso do CD, a tal faixa é precisamente o Gilson Nunes.

Já postei um outro CD do Waldman, “UnReel” (Concord Jazz 2001 - @@@@1/2), também um exercício magnífico de criatividade e competência. “Wigged Out” foi um desafio muito mais instigante e sedutor para este brilhante pianista e arranjador, já que os temas, sem exceção, vieram da música clássica – e todos bastante conhecidos.
Randy Waldman desde os 5 anos estudou piano. Enquanto seus amiguinhos brincavam, ele aproveitava qualquer folga para tocar. Aos 12, como primeiro emprego, testava pianos numa loja especializada para qualquer suposto cliente. Embora apaixonado por jazz, iniciou carreira ao lado de grandes astros da música pop, como Frank Sinatra, The Letterman, Lou Rawls, Minnie Riperton e Paul Anka, entre outros. Mas foi com George Benson, durante 7 anos, que passou a ser conhecido entre os jazzistas, não só como pianista mas como arranjador, quase uma figura carimbada nos estúdios de Los Angeles. Até ser provocado por amigos para um CD próprio. E assim nasceu o então Randy Waldman Trio. E duas absolutas feras ao lado; John Patitucci, baixo, e Vinnie Colaiuta, bateria. E o CD de estréia, “Wigged Out” (Whirly Bird 1998).
Peter And The Wolf” (Prokoviev), “Minuet In G” (Beethoven), “Dance Of The Sugar Plum Fairies" (Tchaikovsky), “Flight Of The Bumble Bee” (Rimsky/Korsakov), “Prelude In C# Minor” (Rachmaninov), “Waltz Of The Flowers/Botanical Intro” (Tchaikovisky), “Ride Of The Valkiries” (Wagner), “Jesu, Joy Of Man’s Desiring” (Bach), “Beethoven 5th Symphony” e “Les Sylphides" (Chopin) são os temas. A criatividade de Waldman para transfomar o repertório em jazz deixaria Monk de barba e queixo caidos. O trio improvisa e balança o tempo inteiro, com algumas participações especialíssimas de Freddie Hubbard (flugel), Michael Brecker (tenor sax), Arturo Sandoval (trumpet) e do saudoso saxofonista tenor Bob Berg. Outros menos cotados ajudaram a compor os arranjos. Waldman deixa passar em seu piano algumas influências nítidas: Monk, Bud Powell, Bill Evans, Chick Corea e Herbie Hancock. Seu estilo mesmo assim é quase único entre os pianistas contemporâneos – a última faixa, em solo, mostra isso.
Coisa complicada é dar presente. Principalmente quando o presenteado, no caso de um jazzófilo, é exigente e qualificado. Não só por não se achar em lojas brasileiras – conferi isso na Modern Sound -, “Wigged Out” seria um desses “mimos” que eu daria a um jazzista com a confiança de que no dia seguinte receberia um telefonema de sinceros agradecimentos – e não mera gentileza.
PS: A cotação no Allmusic Guide é @@@@, só não máxima talvez pelo Gilson Nunes, o que me fez também por pouco não o incluir na lista da ilha. No Penguin não há qualquer referência a Randy Waldman - já esperava por se tratar de um novo músico norte-americano.

PSII: Outro CD imperdível é do romano Stefano Di Battista (alto & soprano sax) chamado "Round About Roma" (Blue Note 2003). Destaque para o cada vez mais surpreendente Vince Mendoza, o mesmo arranjador do apaixonante "Both Sides Now" da Joni Mitchell. Comentarei oportunamente. Para quem não sabe, é o atual CD de cabeceira do Ivan Lins - fonte segura.

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