Antes de falar, Tierney já cantava. Na infância, em Milwaukee (Wisconsin), fazia parte do coro do conservatório local. Como ela própria confessa, foi ao se deparar com as ricas harmonias do jazz que optou pela carreira profissional até parar na Berklee School of Music, em Boston. Logo depois foi vista em alguns festivais de jazz, abrindo os concertos de Max Roach e Billy Taylor. Considerada por um jornal de Boston como a nova Ella Fitzgerald, Tierney ganhou força necessária para se lançar às primeiras gravações. Hoje, em Los Angeles, mantém um trio cativo. Ativa educadora de jazz, detém o departamento de “vocal jazz” da Universidade Southern California. Seus 5 primeiros CDs – os quatro últimos pela Telarc - sempre receberam críticas entusiasmadas, estrelados ao máximo, com destaque para “Blue In Green” (2001).
O que chama a atenção em “Dancing In The Dark”, para começar, é o fino ( e original) tratamento dado aos arranjos, sem que ela precisasse mudar seu trio habitual, formado por Ray Brinker (drums), Trey Henry (bass) e Christian Jacob (piano & orchestrations). Há uma participação especial do flautista Gary Foster, além de um “varal” de cordas sempre oportunamente colocado.
Tierney não se preocupou em resgatar apenas os standards mais famosos de Sinatra. O tema de abertura, “What’ll I Do” (Berlin), transforma-se completamente. Em “Only The Lonely”(Cahn & Van Heusen), a proposta é somente voz e piano. Em “All The Way (Cahn & Van Heusen) e “Where Or When (Rodgers & Hart) a atmosfera é mais nebulosa e intimista perto das versões de Sinatra. Em “Without a Song” (Eliscu/R/Y) e “Emily” (Mandel & Mercer) Tierney e seu trio sobram em criatividade. De propósito ou não, a faixa final, um medley de “Last Dance”(Cahn & Van Heusen) e “Dancing In The Dark (Dietz & Schwartz) é capaz de deixar sem graça, pelo foco menos conservador, o quase lendário arranjador polonês Claus Ogerman –sem querer desmerecer o arranjo feito para Diana Krall.
Se por um lado o aparecimento de uma nova cantora de jazz com qualidade é sempre motivo de curiosidade e entusiasmo, fica o exemplo das gravadoras norte-americanas. Tierney Sutton nem em seu próprio país ainda desfruta de popularidade. Mesmo assim tem todos os recursos necessários para um CD de alto nível, com dezenas de músicos em ação no estúdio. Um quadro raríssimo aqui no Brasil, pelo menos entre as cantoras que fazem música honesta.
P.S.: A inspiração sinatriana do CD não vem propriamente na maneira de cantar ou sequer nos arranjos, mas no repertório.
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