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I CHIVAS JAZZ LOUNGE INTERNACIONAL - BRAZILIAN JAZZ TRIO - 21/01/2004, MISTURA FINA
29 janeiro 2004
Desde quando, numa remota apresentação de Claudio Roditi, no Birdland, me deslumbrei com Hélio Alves; desde que, ao longo dos anos, vinha assistindo - em diversos contextos - Duduka da Fonseca e Nilson Matta; enfim, do momento em que a todos ouvi, sonhei um dia assisti-los tocando juntos.
A aparição, a um só tempo, do trio de conterrâneos no Rio de Janeiro - bem mais facil na intensa e naturalmente jazzística noite de Nova Yorque, onde os três residem - sempre pareceu uma oportunidade tão longínqua quanto a distância entre as duas cidades.
Nos EUA, os três mantém carreiras de sucesso, liderando e ladeando os mais prestigiosos grupos de jazz, gravando e excursionando mundo afora, mantendo, enfim, agendas sempres cheias e, acredito, nem sempre fáceis de conciliar, nem mesmo em período de férias: Hélio é paulista; Duduka, carioca; e Nilson, de Paraty.
Bem verdade que a reunião de seus talentos, em parte das faixas do primeiro disco de Hélio ("Trio", Reservoir, 1998), ensaiou o gosto de realização a que por anos almejei.
Quis o milagre divino, entretanto - que o antigo sonho pessoal só viesse a tornar-se realidade quando também uma das maiores aspirações do CJUB se consumasse: a produção de um concerto internacional de jazz com estrelas de primeira grandeza.
E foi assim. Hélio Alves ao piano, Nilson Matta no contrabaixo, Duduka da Fonseca na bateria. Resenhas, cada um de nós guardará a sua, para sempre, na mente e na alma. "Crítica", a ambiguidade da palavra recomenda dela desistam os sensatos.
De minha parte, vou lembrar sempre:
- dos incríveis fast fingers de Helinho, jamais resvalando em virtuosismo estéril ou burocrático, mas antes a serviço da mesma verdade musical multifacetada a que Herbie Hancock, McCoy Tyner e Keith Jarret - suas grandes influências - têm-se dedicado;
- do baterista enciclopédico em que se transformou Duduka, pronto a criar e colorir a mais diferentes atmosferas, verdadeiro "melodista" na percussão e talvez o único no mundo a dominar, em seu instrumento - com idêntica profundidade e extensão - as culturas musicais brasileira e norte-americana;
- da inacreditavelmente complexa "simplicidade" com que Nilson harmoniza em todos os tempos, em todos os ritmos; com a agilidade de um Pedersen e o refinamento da escola dos baixistas de Bill Evans (LaFaro, Peacock, Israels, Gomez e Johnson), não admira por tanto tempo tenha escoltado Joe Henderson, desde então vendo-se alinhado entre os maiores do contrabaixo, em nossos dias.
É claro que o diferencial deste grupo, comparado aos demais grandes trios de hoje, é o fato de discorrer, com a mesma maestria, tanto sobre o jazz quanto sobre o samba, e não só este: o forró, o maracatu e outros ritmos brasileiros.
Mais que isso, eles suplantaram todas as unidades que nesta fusão os antecederam -aqui e lá fora - pois não se contentam em fazer apenas o "sambop". O que ouvimos, no Mistura Fina, foi um pioneiro samba-jazz avant-garde, uma música brasileira vários passos adiante das conquistas harmonicas da bossa-nova, até ontem praticamente insuperadas.
Esta a importância maior do histórico encontro promovido pelo CJUB: fomos apresentados a um novo jazz, ao mesmo tempo swing, de vanguarda e autenticamente brasileiro, mas que o Brasil desconhecia.
Esta a real dimensão do sonho: a descoberta da verdadeira vocação do CJUB - realizar sonhos.
Nota: fotos adicionais > 1, 2 , 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10
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