Ele é uma dessas pessoas que faz com que tudo pareça fácil. Aos 35, Harry Connick Jr.
Há alguns problemas, no entanto. Jazz sempre foi o primeiro amor de Connick mas sua celebridade e sucesso ocorreram primariamente por via de seus talentos como vocalista e como ator de filmes e na TV.
Depois de duas gravações pela Columbia, em 1987 e 88, que mostravam suas raízes nos estilos do jazz de sua New Orleans natal, ele foi percebido nas telas dos radares americanos pelas suas interpretações de canções clássicas na trilha sonora do hit-movie "When Harry Met Sally".
Daí em diante a carreira de Connick virou claramente na direção do estilo-Sinatra de cantar, acompanhado por grandes orquestras e arranjos ambiciosos. Em meio aos anos 90 ele explorou o funk de New Orleans e o rythm-and-blues nos álbums "She" e "Star Turtle", que fracassaram não apenas junto à crítica mas também comercialmente e Connick voltou às turnês e gravações com sua grande orquestra. Até agora.
A última gravação de Connick, "Other Hours" marca seu retorno ao jazz instrumental com um pequeno conjunto. Apoiado por Charles "Ned" Goold no sax tenor, Neal Caine no contrabaixo e Arthur Latin II na bateria - todos veteranos de sua orquestra - Connick volta às suas raízes jazzísticas com 12 músicas que escreveu para o musical da Broadway "Thou Shalt Not".
Seu atual périplo com esse quarteto vem sendo anunciado como uma noite "instrumental, não-vocal" focada no material do disco. Mas as platéias lotadas das apresentações já ocorridas, vem ocasionalmente pedindo a Connick que cante - em muito poucas vezes ele concordou. Se você conseguir entradas, esteja preparado para uma mesa farta, posta apenas com jazz, com uma mínima possibilidade de que cante, à sobremesa.
Curiosamente, o retorno de Harry Connick Jr. ao jazz instrumental ocorre no momento do lançamento do seu disco de estréia no selo Marsalis Music, criado pelo saxofonista Branford Marsalis. É uma combinação que faz todo o sentido, em termos das raízes musicais de Connick. O pai de Branford, o pianista Ellis Marsalis, foi um dos primeiros mestres de Connick (junto com o falecido e legendário James Booker), e ainda é fácil notar o estilo pós-bop e a influência do senhor Marsalis no teclado de Connick em "Other Hours".
Como se pode esperar de músicas escritas com um palco teatral em mente, a música nesse disco tem um foco bastante forte na melodia. Em decorrência, as improvisações desenvolvidas por Connick e seu grupo
produzem variações a partir de frases melódicas de notas únicas, soltas, ao invés da vertente usual de basear os solos na estrutura dos acordes das músicas.
Como Connick e seus músicos desenvolveram uma sólida interação na orquestra, essa formulação é bem sucedida. Através de todo o "Other Hours", os músicos atuam numa atmosfera relaxada, destensionada, mas com um forte e unificado sentido de swing que mantém tudo firmemente aglutinado.
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