Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

Teatro Karl Marx, Ciudad de La Habana

16 dezembro 2002

Lembro-me, ainda garoto, das inúmeras tentativas despendidas até conseguir ler, finalmente, a saga da Família Buendía em "Cem Anos de Solidão". Mais tarde, já escolado em García Márquez, cheguei à apoteose de "El Amor en los Tiempos del Colera", dos livros mais marcantes de minha vida.
Há 3 anos, aqui nesta mesma Habana, tive a coincidência - e a frustração - de encontrar Gabo em um renomado paladar, "La Guarida", onde foi filmado o filme "Morango e Chocolate". Frustração porque, ao pedir-lhe um autógrafo em meu cartão de visita, tive o mesmo recusado sob o compreensível argumento de que ele só o faz em livros. Certo de que aquela seria minha última oportunidade de registrar tão significativo encontro, resignei-me e mantive a lembrança daquele momento como definitivo autógrafo em minha memória.

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O Teatro Karl Marx, palco de históricos discursos de Fidel Castro, estava em noite de esplendor na noite de encerramento do XX Festival Internacional Habana Jazz Plaza, ontem. Lá estava a estelar presença de todos os músicos convidados para o Festival, que tocaram diversos e inesquecíveis standards ao longo de toda a primeira parte da noite, entre eles Roy Hargrove, Regina Carter, Kenny Barron, David Murray e Uri Caine. A registrar, uma antológica versão de "Take de A-Train", vocalizada por uma cantora italiana, Roberta Gambarini, de quem procurarei descobrir mais acuradamente o trabalho. Seguida à apresentação vocal, uma formação somente cubana repetiu o mesmo standard, com traços unicamente locais, em que o destaque foi o monumental pianista Emilio Morales.
Encerrado o primeiro set, adentra o palco nosso gênio maior, Egberto Gismonti, elegantemente vestido e privilegiando o rubro em sua touca e lenço, desfiando, inicialmente em versões solo, ora no violão de 12 cordas ora ao piano, algumas de suas melhores peças: "Lôro", "Frevo", "Maracatu"e "Cigana".
Em seguida, e já com a respiração em pandarecos, presenciei, para o resto de minha existência, a maior apresentação a que já assisti de um músico brasileiro em toda a vida - juntou-se a Egberto a Orquestra Sinfónica Nacional, em sua formação completa, sob a regência de Leo Brouwer. Foram tocadas 3 peças, que, utilizando uma expressão cunhada pelo Grande Mestre JDR, ficarão encapsuladas no tempo.
A primeira delas, "7 Anéis", consagrou toda a capacidade criativa de Egberto (que seguia ao piano), com destaque inconteste para as cordas, em releitura de intenso romantismo.
A música seguinte, talvez numa homenagem à distância, pelos 50 anos de meu querido Sazinho, foi "A Fala da Paixão", da qual tenho apenas a mencionar que o embaçamento de meus olhos me impediu de ver, com melhor acuidade, o teclado do grande Maestro.
A derradeira ... bem, voltemos a Gabo.

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A terceira música, "Forró", foi encerrada com um duo, de cello com Egberto no pífaro, que me fez voltar no tempo para a histórica apresentação no Theatro Municipal, em 1985. Acesas as luzes, para minha estupefação, lá estava, quase 3 anos depois, Gabriel García Márquez, de quem, desta feita, obtive o prêmio maior em meu exemplar do "Amor nos Tempos do Cólera"- lá está registrado, doravante, "Para Fraga, del amigo Gabriel - Habana, 2002".
Encerrada a histórica noite, tenho hoje a absoluta certeza de que a espera de toda uma vida para obter tão singelas palavras em meu livro favorito, nada mais era que a única forma possível de estampar "palavras sonoras", de tão querida significação, e que só fariam sentido - como o fazem - por estarem acompanhadas da lembrança de Egberto Gismonti.
Minha vida está mais colorida desde ontem.
Amém.

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