Caderno B, JB, 16 de janeiro
por Luiz Orlando Carneiro
Um músico hiperativo e hipercriativo
A cover story da edição deste mês da Downbeat trata do agora setentão Herbie Hancock, que comemorou mais um ano de sucesso comercial com o CD The imagine project. Mas a matéria mais relevante da revista, assinada por Ted Panken, é dedicada ao saxofonista Dave Liebman, mestre do sax soprano (e também do tenor, e até da flauta de bambu), músico hiperativo e hipercriativo, finalmente agraciado com o Jazz Masters Award do National Endowement for the Arts – honrosa distinção concedida pela agência cultural americana.
Desde 1982, a NEA premiou gigantes do jazz do porte de Count Basie, Art Blakey, Sonny Rollins, Dizzy Gillespie e Dave Brubeck. E, finalmente, chegou a vez desse unsung hero van-guardista de 64 anos, que explica, na reportagem-entrevista a sua paixão pelo sax soprano:
“Amo o tenor (…), mas encontrei minha voz no soprano. Tem algo a ver com minhas raízes no deserto, beduínas, semitas. Não sinto isso no tenor. No tenor, é Trane (John Coltrane), é Sonny (Rollins), é Wayne (Shorter). É (puro) jazz! Pra mim, o soprano é um instrumento universal (world instrument). É um vocalista, um cantor. É Miles! É indiano!”.
A arte densa e irrequieta desse mestre pode ser (re)apreciada em pelo menos cinco álbuns lançados neste ano que passou: As always/Live/ The Dave Liebman Big Band(Mama); Quest for freedom/Richie Beirach & Dave Liebman with Frankfurt Radio Big Band (Sunnyside); Turna-round, the music of Ornette Coleman/The Dave Liebman Group (Jazzwerkstatt); Contact/Five in one (Pirouet); Quest/Searching for the new sound of be-bop (Storyville).
As always – gravações ao vivo de 2005-07 – tem Liebman à frente de uma big band de 17 músicos do primeiro time de Nova York: cinco palhetas, quatro trompetes (Dave Ballou é o realce), quatro trombones (Sam Burtis em destaque) e seção rítmica, com o excelente Vic Juris na guitarra.
Gunnar Mossblad, saxofonista e diretor da orquestra, escreve nas notas do disco:
“O som único da DLBB é também devido à facilidade com que o grupo atravessa a linha entre tonalidade e atonalidade; à execução de dramáticas mudanças estilísticas; e, principalmente, ao fato de criar colaborações entre música improvisada e composições tão bem alinhadas que é difícil dizer o que é e o que não é improviso”.
Estas características são também as de Quest for freedom, em que a RBB de Frankfurt e os arranjos de Jim McNeely reanimam peças escritas pelo saxofonista e pelo pianista Richard Beirach para o antológico quarteto Quest, na década de 80, como Pendulum(Beirach) e Vendetta(Liebman). Em Turna-round, o líder disseca de maneira bem free – como não podia deixar de ser, mas com extrema personalidade – a faixa-título e outros nove temas de Ornette Coleman, em quarteto com Juris, Tony Marino (baixo) e Marko Marcinko (bateria).
O álbum duplo da Storyville reúne registros de 1985, em Copenhague, do duo que gerou o Quest, tocando jazz standards como Naima, Oleo, Round midnight e On green dolphin street, mais gravações feitas em 1986-87, também na Dinamarca, com o grupo completo (Ron McClure, baixo; Billy Hart, bateria) interpretando originais. Five in one – CD já objeto de review nesta coluna (12/9/2010) – é do novo quinteto Contact, de caráter cooperativo, que junta outros parceiros de Dave Liebman, também no topo de suas carreiras: John Abercrombie (guitarra), Marc Copland (piano) e Drew Gress (baixo).
Um comentário:
Extensa matéria sobre Dave Liebman no All About Jazz website, em ....
http://www.allaboutjazz.com/php/article.php?id=38488
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