Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

15 setembro 2021

 

Série: Histórias do Jazz

 DO OUTRO LADO DO JAZZ # 19

A DURA PROFISSÃO

Tudo indica que deva ser algo sublime entrar em um palco, tocar seu instrumento e sentir o calor do público, notadamente em espetáculos de música de Jazz, arte extremamente criativa que tende a expressar enorme empatia entre o músico e seus ouvintes.

Contudo ganhar a vida desta forma, ser músico profissional não foi e continua não sendo fácil......a dura profissão de músico e principalmente de Jazz.

Se atualmente existem proteções que regulam essa atividade, quer através de sindicatos, de associações, enfim de legislação protetora, tal não ocorria desde o início do Jazz e, por largo período de tempo, não só o músico mas quase todos os profissionais envolvidos apenas sobreviviam, já que essas proteções e os direitos trabalhistas apenas engatinhavam.

Entretanto não se pode atribuir os baixos pagamentos a uma infelicidade vivida.

Otto Hardwick saxofonista na banda de Duke Ellington em depoimento citava:  ― "todos os músicos tinham liberdade de expressão, os tempos eram bons, não acho que o dinheiro tivesse tão grande importância a gente ganhava a vida e ponto final ―   mas o trabalho em sí era um prazer e a gente se sentia mais ou menos em família".

Mais tarde Charles Mingus afirmava: ―"aqueles caras nunca pensavam em dinheiro, tudo o que faziam era para serem felizes".

Como idéia do ganho de um músico segundo a época e o contexto, podem ser avaliadas nos seguintes exemplos:

(a) no início do século passado (XX) em Nova Orleans o jovem Jelly Roll Morton foi contratado por uma cafetina de bordel a US$ 1.00 por noite e mais gorjetas. Na primeira noite ganhou vinte dólares de propina e, dado ao agrado do pianista junto ao público, a cafetina então combinou com ele que daria mais US$ 5.00 por noite toda vez que não recebesse os vinte dólares de gorjetas. Anteriormente Jelly Roll Morton havia trabalhado como tanoeiro (consertando toneis, tinas e barris) a US$ 15.00  por semana! Até que seu emprego de músico lhe foi favorável.

(b) por volta de 1905 o proprietário de um clube pagava em média US$ 5.00  a um bandleader e mais US$ 2.50 a cada músico, por noite;

(c) a grande e estrelada figura de Louis Armstrong iniciou carreira recebendo  US$ 1.25  para tocar das 08h da noite até a madrugada.

Trabalhando para King Oliver em Chicago no início dos anos 20, recebia US$ 52.00 por semana e transferiu-se para o “Sunset Café” por US$ 10.00 a mais. No fim de 1930 queixava-se de ganhar apenas  US$ 75.00 por noite e  nesta época, uma banda recebia em média  US$ 600.00 por mês.

(d) Os honorários dos músicos pela Radio Bands Remotes estavam sob a jurisdição da American Federation of Musicians nas cidades envolvidas. Em 1946, a taxa por músico era de três dólares por transmissão, a pagar pelo fundo de ajuda do sindicato em oposição a US$ 14 pagáveis aos músicos para programas comerciais de meia hora com patrocínio.

Com o advento dos sindicatos e sua firme consolidação os músicos, de modo geral, foram beneficiados pelo estabelecimento de direitos como salário mínimo para as apresentações, direitos sobre as gravações e a famosa “encrenca” dos anos 1942 / 1944, quando nenhum músico entrou em estúdio para gravar, em função da greve deflagrada pela American Federation of Musicians em represália ao fato de que as retransmissões radiofônicas não estavam pagavam os direitos.

Mais tarde deu-se a destruição das matrizes dos V-DISCS gravados durante a 2a. Guerra Mundial para as Forças Armadas, já que os músicos gravaram sem nada receber e apenas como esforço de guerra. Como, em princípio, tais discos não teriam valor comercial os músicos e as gravadoras nada ganharam, o que ocasionou após o fim da guerra uma forte reação do sindicato dos músicos, chegando ao extremo de conseguir ordem judicial em 1949, obrigando à destruição dos acetatos originais para evitar as reedições. O governo norte-americano poderia ter pago os "royalties" reivindicados para a preservação das obras, mas não houve acordo.

The ONE-NIGHT STAND, “um palco por uma noite”, significando uma única apresentação, vem dos dias quando grupos e orquestras em turnê, se apresentavam por apenas uma noite em uma cidade pequena porque provavelmente proporcionaria apenas público suficiente para uma única noite.

Para o cumprimento dessas turnês essenciais para a manutenção das bandas a maioria tinha que viajar durante o dia em ônibus para se apresentarem à noite. Imaginem o cansaço gerado por esta prática. Às vezes conseguiam um dia de folga ou mesmo apenas meio dia em um hotel barato.

 

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