Série:
Histórias do Jazz
A DURA PROFISSÃO
Tudo indica que deva ser algo
sublime entrar em um palco, tocar seu instrumento e sentir o calor do público,
notadamente em espetáculos de música de Jazz, arte extremamente criativa que
tende a expressar enorme empatia entre o músico e seus ouvintes.
Contudo ganhar a vida desta
forma, ser músico profissional não foi e continua não sendo fácil......a dura
profissão de músico e principalmente de Jazz.
Se atualmente existem proteções
que regulam essa atividade, quer através de sindicatos, de associações, enfim
de legislação protetora, tal não ocorria desde o início do Jazz e, por largo
período de tempo, não só o músico mas quase todos os profissionais envolvidos
apenas sobreviviam, já que essas proteções e os direitos trabalhistas apenas
engatinhavam.
Entretanto não se pode atribuir
os baixos pagamentos a uma infelicidade vivida.
Otto Hardwick saxofonista na
banda de Duke Ellington em depoimento citava:
― "todos os músicos tinham liberdade de expressão, os tempos eram
bons, não acho que o dinheiro tivesse tão grande importância a gente ganhava a
vida e ponto final ― mas o trabalho em
sí era um prazer e a gente se sentia mais ou menos em família".
Mais tarde Charles Mingus
afirmava: ―"aqueles caras nunca pensavam em dinheiro, tudo o que faziam
era para serem felizes".
Como idéia do ganho de um músico
segundo a época e o contexto, podem ser avaliadas nos seguintes exemplos:
(a) no início do século passado
(XX) em Nova Orleans o jovem Jelly Roll Morton foi contratado por uma cafetina
de bordel a US$ 1.00 por noite e mais gorjetas. Na primeira noite ganhou vinte
dólares de propina e, dado ao agrado do pianista junto ao público, a cafetina
então combinou com ele que daria mais US$ 5.00 por noite toda vez que não
recebesse os vinte dólares de gorjetas. Anteriormente Jelly Roll Morton havia
trabalhado como tanoeiro (consertando toneis, tinas e barris) a US$ 15.00 por semana! Até que seu emprego de músico lhe
foi favorável.
(b) por volta de 1905 o
proprietário de um clube pagava em média US$ 5.00 a um bandleader e mais US$ 2.50 a cada
músico, por noite;
(c) a grande e estrelada figura
de Louis Armstrong iniciou carreira recebendo
US$ 1.25 para tocar das 08h da
noite até a madrugada.
Trabalhando para King Oliver em
Chicago no início dos anos 20, recebia US$ 52.00 por semana e transferiu-se
para o “Sunset Café” por US$ 10.00 a mais. No fim de 1930 queixava-se de ganhar
apenas US$ 75.00 por noite e nesta época, uma banda recebia em média US$ 600.00 por mês.
(d) Os honorários dos músicos pela
Radio Bands Remotes estavam sob a jurisdição da American Federation
of Musicians nas cidades envolvidas. Em 1946, a taxa por músico era de três
dólares por transmissão, a pagar pelo fundo de ajuda do sindicato em oposição a
US$ 14 pagáveis aos músicos para programas comerciais de meia hora com
patrocínio.
Com o advento dos sindicatos e
sua firme consolidação os músicos, de modo geral, foram beneficiados pelo
estabelecimento de direitos como salário mínimo para as apresentações, direitos
sobre as gravações e a famosa “encrenca” dos anos 1942 / 1944, quando nenhum
músico entrou em estúdio para gravar, em função da greve deflagrada pela American
Federation of Musicians em represália ao fato de que as retransmissões
radiofônicas não estavam pagavam os direitos.
Mais tarde deu-se a destruição
das matrizes dos V-DISCS gravados durante a 2a. Guerra Mundial para as Forças
Armadas, já que os músicos gravaram sem nada receber e apenas como esforço de
guerra. Como, em princípio, tais discos não teriam valor comercial os músicos e
as gravadoras nada ganharam, o que ocasionou após o fim da guerra uma forte
reação do sindicato dos músicos, chegando ao extremo de conseguir ordem
judicial em 1949, obrigando à destruição dos acetatos originais para evitar as
reedições. O governo norte-americano poderia ter pago os "royalties"
reivindicados para a preservação das obras, mas não houve acordo.
The ONE-NIGHT STAND, “um palco por
uma noite”, significando uma única apresentação, vem dos dias quando grupos e
orquestras em turnê, se apresentavam por apenas uma noite em uma cidade pequena
porque provavelmente proporcionaria apenas público suficiente para uma única
noite.
Para o cumprimento dessas turnês
essenciais para a manutenção das bandas a maioria tinha que viajar durante o
dia em ônibus para se apresentarem à noite. Imaginem o cansaço gerado por esta
prática. Às vezes conseguiam um dia de folga ou mesmo apenas meio dia em um
hotel barato.
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