Série: Histórias do Jazz
JAZZ AFTER MIDNIGHT
Parece que o Jazz conseguiu se
realimentar das sessões JAM, ou seja, aquelas segundo afirmam alguns
historiadores, referiam-se à sigla de “Jazz After Midnight”,
execução informal após as horas normais de trabalho e, certamente, após à meia
noite. Jazz sem compromisso de público,
sem interferência de proprietários e de produtores. As reuniões eram feitas
pela madrugada em algum cabaré, clubes de Jazz ou mesmo no domicílio de um
músico.
Músicos oriundos de vários grupos
e orquestras se encontravam após o trabalho regular e muitos destes encontros
propiciaram novas fórmulas para a evolução e mesmo aperfeiçoamento de seus
participantes e, em consequência, do próprio gênero. Funcionavam, tais “jam sessions”, como
cursos noturnos, laboratório ou como os americanos dizem "masterclass".
O objetivo maior era executar Jazz
em longas improvisações sobre vários temas, que acabavam em contendas entre os
instrumentistas.
“Cutting contest” é a expressão
que designa tais contendas ou disputas entre músicos, orquestras ou dançarinos
e cujas origens remontam desde as ruas de New Orleans até as informais
“jam-sessions” modernas. Nada mais é do que uma competição musical em que cada
músico se esmera em solar, improvisar melhor e maior número de “choruses” que o
outro. Eram muito habituais nos anos 20
e 30 as contendas entre músicos de mesmo instrumento ou mesmo entre bandas de
rua que, ao se encontrarem, partiam para uma batalha cuja vencedora seria
aquela que mais empolgasse o público.
“Chase”, literalmente caça,
perseguição, é como se nomeia a reunião de 02 ou mais instrumentistas a
improvisarem um certo número de compassos cada um, uma espécie de duelo, sendo
também muito comum nas “jam sessions”.
De uma forma geral os músicos vão
alternando o número de compassos improvisados iniciando com 32, depois 16, 08,
04, 02 e até 01, quando então a perseguição se torna evidente. A “chase” difere da “cutting contest” na
medida em que o importante não é o número de “choruses” improvisados e sim a
alternância, cada vez mais rápida, entre as idéias dos músicos.
Há uma passagem histórica no
“Sunset Café” de Chicago, onde Louis Armstrong estreou em 1926, praticamente
introduzindo o verdadeiro espírito da música de Jazz com suas exibições em solo
para delírio da platéia. Certa noite surgiu King Oliver, portando seu
inseparável “derby hat” (chapéu côco) marrom e subindo ao palco junto com Armstrong fizeram uma
incrível “cutting contest” de cerca de
125 choruses do clássico “Tiger Rag”, simplesmente enlouquecendo o público.
A “jam sessiom”, nos anos 40,
tornou-se prática habitual em Kansas City, Chicago e na fabulosa rua 52 em New
York, mas no fim dos anos 20 tal atmosfera já reinava, segundo depoimento de
Sonny Greer, baterista de Duke Ellington. ― "Um músico não tinha vontade
de ir para casa, estava sempre à procura de um lugar onde alguém estivesse
tocando algo que ele precisava ouvir. A qualquer hora surgia um cara que
informava ― vai ter uma JAM em tal lugar - e para lá íam rumando todos. O clube
México em Manhattan proporcionava, a noite do trompete às segundas, nas têrças
o pessoal dos saxofones, os trombonistas nas quartas.....e assim por
diante".
A maioria das JAM íam esquentando
e acabavam em verdadeiras batalhas entre os músicos, “choruses” e mais
“choruses” desenvolvidos até o esgotamento de idéias ou mesmo físico.
Billie Holiday contava uma
história que mostra a linha divisória entre o prazer de tocarem juntos e a
rivalidade entre músicos. Benny Goodman
havia trazido um rapazola franzino, branco, lá do Texas, onde os negros eram
considerados uma merda (sic). Tratava-se
de Harry James que iria se tornar um dos mais célebres trompetistas da era
swing, mas antes teve que aprender uma lição de humildade ao desafiar
arrogantemente o tímido Buck Clayton, negro, mas que fraseava maravilhosamente
e derrubou James na lona em uma dessas noites de JAM em uma “cutting contest”.
Uma JAM de caráter permanente foi
a J.A.T.P. - sigla para a abreviatura de
Jazz At Philarmonic nome de uma organização de concertos criada e
dirigida pelo empresário Norman Granz. O 1º concerto ocorreu a 2 de julho de
1944 no Philarmonic Auditorium de Los Angeles de onde foi extraído seu nome At
Philarmonic e após várias apresentações nos EUA fez excursões pelo mundo
todo, particularmente, na Europa entre os anos de 1950/57.
O ambiente era de uma JAM os
músicos ficavam à vontade e Norman Granz não intervinha em nada, apenas na
organização. Os próprios músicos convidados montavam a JAM escolhendo
repertório, formação de cada peça executada, arranjo, solos, etc.
Da edição das gravações destes
concertos surgiu o formidável selo fonográfico Verve.
As gravações mantidas pela Verve
Records dos primeiros cinco anos (1944–1949) de JATP foram emitidas em um
conjunto Deluxe de 10 CDs. Pode-se sentir o clima total de jam-session.
Em 1967 foi realizada sua última
apresentação. Praticamente todos os grandes nomes do Jazz à época atuaram na
JATP.
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