Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

18 agosto 2021

 

Série: Histórias do Jazz

 DO OUTRO LADO DO JAZZ # 15

JAZZ AFTER MIDNIGHT

Parece que o Jazz conseguiu se realimentar das sessões JAM, ou seja, aquelas segundo afirmam alguns historiadores, referiam-se à sigla de “Jazz After Midnight”, execução informal após as horas normais de trabalho e, certamente, após à meia noite.   Jazz sem compromisso de público, sem interferência de proprietários e de produtores. As reuniões eram feitas pela madrugada em algum cabaré, clubes de Jazz ou mesmo no domicílio de um músico.

Músicos oriundos de vários grupos e orquestras se encontravam após o trabalho regular e muitos destes encontros propiciaram novas fórmulas para a evolução e mesmo aperfeiçoamento de seus participantes e, em consequência, do próprio gênero.  Funcionavam, tais “jam sessions”, como cursos noturnos, laboratório ou como os americanos dizem "masterclass".

O objetivo maior era executar Jazz em longas improvisações sobre vários temas, que acabavam em contendas entre os instrumentistas.

“Cutting contest” é a expressão que designa tais contendas ou disputas entre músicos, orquestras ou dançarinos e cujas origens remontam desde as ruas de New Orleans até as informais “jam-sessions” modernas. Nada mais é do que uma competição musical em que cada músico se esmera em solar, improvisar melhor e maior número de “choruses” que o outro.  Eram muito habituais nos anos 20 e 30 as contendas entre músicos de mesmo instrumento ou mesmo entre bandas de rua que, ao se encontrarem, partiam para uma batalha cuja vencedora seria aquela que mais empolgasse o público.

“Chase”, literalmente caça, perseguição, é como se nomeia a reunião de 02 ou mais instrumentistas a improvisarem um certo número de compassos cada um, uma espécie de duelo, sendo também muito comum nas “jam sessions”.   

De uma forma geral os músicos vão alternando o número de compassos improvisados iniciando com 32, depois 16, 08, 04, 02 e até 01, quando então a perseguição se torna evidente.  A “chase” difere da “cutting contest” na medida em que o importante não é o número de “choruses” improvisados e sim a alternância, cada vez mais rápida, entre as idéias dos músicos.

Há uma passagem histórica no “Sunset Café” de Chicago, onde Louis Armstrong estreou em 1926, praticamente introduzindo o verdadeiro espírito da música de Jazz com suas exibições em solo para delírio da platéia. Certa noite surgiu King Oliver, portando seu inseparável “derby hat” (chapéu côco) marrom e subindo ao palco   junto com Armstrong fizeram uma incrível  “cutting contest” de cerca de 125 choruses do clássico “Tiger Rag”, simplesmente enlouquecendo o público.

A “jam sessiom”, nos anos 40, tornou-se prática habitual em Kansas City, Chicago e na fabulosa rua 52 em New York, mas no fim dos anos 20 tal atmosfera já reinava, segundo depoimento de Sonny Greer, baterista de Duke Ellington. ― "Um músico não tinha vontade de ir para casa, estava sempre à procura de um lugar onde alguém estivesse tocando algo que ele precisava ouvir. A qualquer hora surgia um cara que informava ― vai ter uma JAM em tal lugar - e para lá íam rumando todos. O clube México em Manhattan proporcionava, a noite do trompete às segundas, nas têrças o pessoal dos saxofones, os trombonistas nas quartas.....e assim por diante".

A maioria das JAM íam esquentando e acabavam em verdadeiras batalhas entre os músicos, “choruses” e mais “choruses” desenvolvidos até o esgotamento de idéias ou mesmo físico.

Billie Holiday contava uma história que mostra a linha divisória entre o prazer de tocarem juntos e a rivalidade entre músicos.  Benny Goodman havia trazido um rapazola franzino, branco, lá do Texas, onde os negros eram considerados uma merda (sic).  Tratava-se de Harry James que iria se tornar um dos mais célebres trompetistas da era swing, mas antes teve que aprender uma lição de humildade ao desafiar arrogantemente o tímido Buck Clayton, negro, mas que fraseava maravilhosamente e derrubou James na lona em uma dessas noites de JAM em uma  “cutting contest”.

Uma JAM de caráter permanente foi a  J.A.T.P. - sigla para a abreviatura de Jazz At Philarmonic nome de uma organização de concertos criada e dirigida pelo empresário Norman Granz. O 1º concerto ocorreu a 2 de julho de 1944 no Philarmonic Auditorium de Los Angeles de onde foi extraído seu nome At Philarmonic e após várias apresentações nos EUA fez excursões pelo mundo todo, particularmente, na Europa entre os anos de 1950/57.

O ambiente era de uma JAM os músicos ficavam à vontade e Norman Granz não intervinha em nada, apenas na organização. Os próprios músicos convidados montavam a JAM escolhendo repertório, formação de cada peça executada, arranjo, solos, etc.

Da edição das gravações destes concertos surgiu o formidável selo fonográfico Verve.

As gravações mantidas pela Verve Records dos primeiros cinco anos (1944–1949) de JATP foram emitidas em um conjunto Deluxe de 10 CDs. Pode-se sentir o clima total de jam-session.

Em 1967 foi realizada sua última apresentação. Praticamente todos os grandes nomes do Jazz à época atuaram na JATP.

 

Nenhum comentário: