Série:
Histórias do Jazz
DO OUTRO LADO DO JAZZ # 12
O JAZZ VAI À GUERRA (parte
I) -
V-DISC
LOCAL é a palavra que se refere a uma seção do sindicato dos músicos
norte-americanos em uma cidade como, por exemplo, LOCAL 802 é a dos músicos
nova yorquinos.
Os
sindicatos possuíam (e ainda possuem) muita força e foram os responsáveis pelas
grandes reivindicações sobre direitos autorais de reprodução de gravações,
principalmente sobre as transmissões das estações de rádio, exigindo a criação
de um fundo pelas companhias fonográficas para compensar a perda de trabalho
dos músicos em face das reproduções gravadas, acabando por gerar a grande greve
dos anos 1942/44, época em que nenhum músico entrou num estúdio para gravar.
A
1° de agosto de 1942, a American Federation of Musicians, encabeçada por James
C. Petrillo, deu a ordem expressa a todos seus afiliados para que deixassem de
gravar discos, mantendo essa restrição até novembro de 1944. Esta ausência de
gravações deu lugar a que se desconheça uma parte importante da formação do
gênero “bebop” e como foi a presença de Charlie Parker e Dizzy Gillespie na banda
de Earl Hines em um período vital da gênese deste movimento nada ficou
registrado.
Essa
grande greve de 1942 dos músicos em relação às companhias fonográficas, cortou
o suprimento de novas gravações para as tropas norte-americanas convocadas para
a 2ª Guerra Mundial.
George
Robert Vincent, engenheiro de som e oficial tenente da seção de rádio da Army
Special Services Division, levou ao Departamento de Guerra a ideia da produção
de discos especiais para as tropas aquarteladas, obtendo a aprovação do governo
de Washington em julho de 1943.
A
primeira tarefa de Vincent foi conseguir das empresas gravadoras e
correspondentes Associações a total isenção de taxas e “royalties”, incluindo a
grevista American Federation of Musicians e, para tal, o Exército assegurou que
o uso seria estritamente militar e não estariam disponíveis comercialmente.
A
seguir, o projeto deveria receber um nome atrativo e Vincent o denominou de
"Special Services Recordings", mas sua secretária sugeriu V-Discs,
significando o "V" de "Victory" (vitória) tanto quanto a
própria letra de Vincent.
Os
discos foram gravados em 12 polegadas permitindo, então quase 6 minutos de
música por lado. Os primeiros V-DISCS
foram despachados a 01/outubro/1943, gravados e prensados pela RCA Victor em suas
instalações em Camden, New Jersey, incluindo 1.780 caixas com 30 discos cada,
sendo distribuídos aos serviços de rádio broadcast e alto-falantes das tropas
norte-americanas sediadas no Pacífico e na Europa e África.
Outra pessoa chave no projeto foi o Sargento Tony
Janak, que se juntou ao projeto dos V-DISCS;
quando civil era também engenheiro de som da Columbia Records e participou com
as gravações externas das "remotes", registrando mais de 400 sessões
com seu gravador portátil indo a concert-halls, jazz clubs e até em
apartamentos de músicos.
Muitos músicos de Jazz deram sua contribuição e
gravaram obras fantásticas, sendo a maioria da Victor, Decca e Columbia. A
produção continuou mesmo após o fim da guerra chegando até maio de 1949.
Como, em princípio, não teriam valor comercial os
músicos e as gravadoras nada ganharam, o que ocasionou após o fim da guerra uma
forte reação do sindicato dos músicos, chegando ao cúmulo de conseguir uma
ordem judicial em fins de 1949, obrigando à destruição dos acetatos originais
para evitar reedições.
O governo norte-americano poderia ter pago os
"royalties" reivindicados para a preservação daquelas obras, mas não
houve acordo.
Entretanto, de várias formas, muitas matrizes V-DISC conseguiram sobreviver e hoje
são peças valiosas de coleção.
Reedições comerciais foram feitas também usando-se os
próprios discos. No aniversário de 50 anos do fim da 2ª Guerra Mundial as
Associações de músicos e de empresas fonográficas acordaram em dispensar a
proibição formal sobre um lançamento comercial dos V-DISC e permitiram que E. P. "Digi" DiGiannantonio, que
havia servido na Navy V-Disc, transferisse sua coleção particular para CD’s com
venda pública e, em 1998, ocorreram os primeiros lançamentos.
3 comentários:
Realmente foi uma ideia genial este Vdisc podemos imaginar os combatentes recebendo estes presentes uma forma de descontração da dura realidade de uma guerra. Major fez uma ótima resenha sobre o asunto e com fotos que mostam tal felicidade. Valeu e como Jazz vai à guerra é n. 1 aguardemos o que vem po ai. Abração
Carlos Lima
Grande história sobre os V-Disk.
Notei que as histórias "Do outro lado do Jazz" pularam na sequência de 11 para 13, fui eu quem perdi uma ou houve um engano mesmo?
Valeu Edison eu que errei vc não pulou nada. Obrigado
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