Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

30 junho 2021

 

Série: Histórias do Jazz

 

DO OUTRO LADO DO JAZZ # 8

HARLEM

A parte de New York conhecida como HARLEM abrange a área norte da ilha de Manhattan, acima do Central Park entre as ruas 110 e 158, juntando-se a uma faixa ao nordeste conhecida como Washington Heights, ao oeste a Henry Hudson Parkway marginal ao Rio Hudson e a leste a Harlem River Drive beirando o próprio rio.

A vila original foi estabelecida em 1658 pelo governador holandês da província, Peter Stuyvesant, que a nomeou de Nieuw Haarlem em homenagem à capital da província de North Holland na Holanda.

Ricos fazendeiros por lá se estabeleceram até ocorrer um grande declínio econômico nos anos seguintes a 1830 quando, então, fazendas abandonadas foram a leilão público.

A melhoria dos transportes e o grande crescimento da população de New York após a Guerra Civil transformou o HARLEM em bairro das classes média e média alta.

A partir de 1870 foi alvo de extensa exploração imobiliária e por volta de 1904-5 o mercado inflado com preços e aluguéis exorbitantes entrou em colapso.

Nesta época Philip Payton, homem de negócios de raça negra, iniciou a compra dos imóveis e, pela primeira vez, a população afro-americana passou a dispor de ofertas de imóveis decentes e até mesmo luxuosos.

Desta forma a área foi se tornando pouco a pouco no centro de uma comunidade afro-americana.

Assim o chamado bairro negro em New York, a partir de 1926, foi sendo vivenciado como um centro jazzístico de grande importância devido às grandes casas de espetáculos, salões de dança e cabarés ali instalados como o Cotton Club, Savoy Ballroom, Connies Inn, Minton’s Playhouse, Small’s Paradise, Apollo Theater, Nest ClubLafayette Theater, Alhambra Ballroom, Sugar Cane Club e outros.

Entre 1929 e 1935 foi moda o público branco passar as noites de diversão em uma casa do bairro negro.

Nos anos 40 o HARLEM começou a se esvaziar como centro musical, mas permaneceu ainda por cerca de duas décadas como centro espiritual do Jazz, onde morava a maior parte dos músicos e onde se reencontravam frequentemente em notáveis jam sessions.

Atualmente apenas existem alguns pequenos clubes de Jazz de segunda linha.

O Harlem Opera House foi um grande teatro, possuindo 1.540 assentos, localizado em 207 West 125th Street no coração do Harlem, construído em 1888 pelo empresário Oscar Hammerstein (*1847 †1919), avô do famoso compositor letrista Oscar Hammerstein II.

Consta que lá Bardu Ali o vocalista da banda de Chick Webb, descobriu Ella Fitzgerald em um concurso para amadores.

Há controvérsia de que o concurso ganho por Ella tenha sido no Harlem Opera House vizinho de quarteirão do Apollo Theater, que também patrocinava concursos de calouros, mas sem dúvida foi o Harlem Opera House que a promoveu.

Apesar do nome Opera House muitos espetáculos além das óperas ali eram realizados já na década de 20 e a partir dos anos 30 passou a abrigar as Big Bands da Era Swing e, após 1935, foi mantido apenas como cinema, o magnífico edifício foi demolido em 1969. Algumas bandas que ali atuaram: Teddy Hill, Don Redman, Charlie Turner, Chick Webb, Benny Carter, Fletcher Henderson, Tiny Bradshaw, dentre outras...

STRIDE - Entre os anos 1920 e 30 nascia no Harlem uma escola de Jazz a que se denominou de ― “Harlem stride-piano”, fundamentada na criatividade dos pianistas James P. Johnson, Luckey Roberts, Eubie Blake e seguidores como Willie "The Lion" Smith e Fats Waller, dentre outros.

O “Stride” refletia uma modernização do ragtime e consiste em fazer alternar uma nota baixa (grave) sobre um tempo forte (3º) e um acorde sobre os dois tempos fracos (2º e 4º).

A partir dos anos 30 as características do “stride” foram sendo empregadas também pelas bandas, como as de Ellington e Basie.

Grandes nomes do piano como Fats Waller, Duke Ellington, Earl Hines, Mary Lou Williams, Pete Johnson, Albert Ammons, Willie Smith, Count Basie, Teddy Wilson, Art Tatum, Errol Garner, Oscar Peterson, Thelonious Monk, Rolland Hanna, Jack Byard, Monty Alexander, foram bastante influenciados pelo “stride”.

Os principais mentores da escola foram os pianistas James P. Johnson (*1894 †1955), Luckey Roberts (*1887 †1968) e Eubie Blake (*1883 †1993  ― isto mesmo, 100 anos!).

Um ótimo exemplo como marco do “stride” é a gravação de 1921 do tema “Carolina Shout”, interpretado por seu autor, James Price Johnson, que pode ser ouvida a seguir. (observem as notas da mão esquerda, notas baixas onde de configura o stride).

HARLEM RENAISSANCE - foi um período que se estendeu do final da 1ª Guerra Mundial até meados dos anos 30, período este no qual eclodiu um movimento intelectual na região do Harlem, envolvendo grupos de artistas muito talentosos em vários gêneros como literatura, teatro, música e artes em geral, considerado como a própria afirmação e sedimentação da cultura de origem afro-americana.

O JAZZ exerceu enorme influência na música e na dança durante o que foi denominado de ― A Era do Jazz, mais precisamente a década dos anos 1920 como parte da Renaissance. 

Os estilos e linguagens características influenciaram até muitos compositores clássicos modernos e o JAZZ, como cultura, emigrou para várias cidades não mais apenas como uma saltitante música de dança, mas como real arte negra.  Contudo, esta migração não foi somente através dos EUA, indo se afirmar na Europa, tendo inclusive Paris se tornado o centro musical europeu do Jazz.

RENT A PARTY - literalmente “festa de aluguel”, era a expressão que designava as festas informais realizadas pela população negra do Harlem, com o propósito de conseguir dinheiro para as despesas de aluguel. Muito comuns nas décadas de 20 e 30, também eram conhecidas como “house party”. Eram convidados músicos, especialmente pianistas, a fim de que tocassem Jazz e o estilo pianístico de execução do blues ― o boogie woogie e o stride ― eram bastante popular.

Nomes consagrados das “house parties” eram James P. Johnson, Fats Waller, Pete Johnson, Cow Cow Davenport, Meade Lux Lewis, Bessie Smith, Clarence Williams e outros.

O repertório musical alusivo a estas reuniões é vasto destacando-se: House Rent Blues (Clarence Williams-1923), House Rent Ball (Fletcher Henderson-1924), House Rent Rag (Dixieland Jug Blowers-1926), Rent Party Blues (Duke Ellington-1929), House Rent Party Day (Wingy Manone-1935), dentre outros...

Para ilustrar as “Rent Parties” o blues “Gimme A Pigfoot(*) (Wesley Wilson) com Bessie Smith acompanhada pelos Buck & Band formada por Buck Washington (pi, líder), Chu Berry (st), Benny Goodman (cl), Bobby Johnson (gt), Frank Newton (cornet), Billy Taylor (bx), Jack Teagarden (tb) – (Okeh 6893 – 24/11/1933), é um bom exemplo.

(*) Pigfoot ―uma comida típica do sul dos EUA passou a ser tradicional nestas festas, em princípio pela própria cultura negra e também por ser bem barata; trata-se de um ensopado com pés de porco tipicamente servidos com salada de batatas.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Mais um formidável artigo Major!
Carlos Lima

Edison Waetge Jr disse...

Interessantíssima essa história sobre o Harlem. Grato por mais essa aula, MaJor!