Série: Histórias do Jazz
DO OUTRO LADO DO JAZZ # 7
A DEPRESSÃO E O SWING
Os EUA, a partir de 1918 finda a
1ª Guerra Mundial, entravam em uma nova e promissora era econômica com a
crescente industrialização e mais uma série de fatores, principalmente as
exportações que proporcionaram que muito dinheiro fosse ganho por muitos.
O país passou a sonhar com os
milionários em seus clubes campestres, lindas mansões, luxuosos automóveis e todo um sofisticado
"way of life", e uma vez que algumas pessoas puderam enriquecer tão
depressa não haveria razão para que outros também não tentassem.
O sistema de ações de capital
negociado em bolsa passou a despertar a cobiça de muitos, que passaram a
empregar tudo que possuíam sem guardar uma suficiente margem de segurança.
De início tudo bem, até que a
bolsa passou a ser um avolumado sistema de papéis valendo muito dinheiro,
produzindo mais dinheiro, porém através de valores improdutivos, ou seja de
pura especulação, pois como as empresas estavam obtendo altos lucros, suas
ações tenderam a crescer, originando inclusive sociedades anônimas e empresas
com intuito apenas de gerir e investir dinheiro sem nenhuma produtividade.
O que se chamava de
"boom" do mercado de capitais ía de vento em popa, até que na tarde
de uma terça-feira, 29 de outubro de 1929, iniciou-se a tragédia com o
fechamento da bolsa de New York com cerca de 50 papéis em violenta queda de até
40%.
Os milhares de especuladores não
dormiram aquela noite e quando da abertura do pregão no dia 30 viram-se na
urgência de vender tudo muito rápido e a qualquer preço, procurando minimizar o
prejuízo já vislumbrado.
Ora, não havia dinheiro
circulante suficiente para pagar aquilo tudo e os preços íam despencando em um
incontrolável frenesi de baixa.
No dia 31 a - quinta-feira negra
- o excesso de ações à venda e a falta de dinheiro e compradores fizeram com que os preços
das ações caíssem em cerca de 80 a 90%:
era o temido "crash"!
Assim os EUA entraram em um
período de grande depressão econômica, com o comércio falindo, fábricas
fechando, desemprego geral, milionários agora pobres e classe média agora paupérrimos.
Claro que a indústria fonográfica
entrava também em colapso, atingindo de imediato os músicos.
Em 1933 um jovem e ousado
produtor John Hammond mantendo contatos ao visitar a Inglaterra, tornou-se o
supervisor americano para as gravações da Columbia inglesa e da
Parlophone.
Apaixonado que era pela música de
Jazz, elaborou uma lista, ou melhor um catálogo de Jazz a ser gravado nos EUA,
apresentando-o às citadas companhias fonográficas inglesas que colocaram seus
avais.
Acontece que Hammond não havia
feito nenhum contato nos EUA para tais gravações e retornou com o compromisso
assumido com os ingleses.
Correu, então a procurar Benny
Goodman o 1º nome da tal lista talvez o mais popular. Mal conhecia Goodman e expôs-lhe o programa e
este declinou, pois não havia 10 dias Ben Selvin, um executivo da Columbia
americana, o pôs porta a fora de seu escritório dizendo que só gravaria música
muito comercial, dada a péssima situação da gravadora e da submarca Okeh e,
dizia, o faturamento com o Jazz tinha acabado!
― como poderia assumir o
compromisso de efetuar tais gravações?
― como pagaria seus músicos?
Contudo o insistente Hammond
acabou por convencer a Goodman e as gravações foram feitas apresentando um
resultado financeiro bastante razoável.
O certo é que o Jazz retornou às
atividades com força total e a Era Swing se iniciou logo após a Depressão. A
gravação da banda de Duke Ellington intitulada “It Don't Mean a Thing If It
Ain't Got That Swing” (Ellington e Irving Mills) de 1932 parece que foi o
grande marco dos novos tempos.
Ivie Anderson cantou esta música
com todo o vigor dando o tom alegre, suingante, junto com a banda fazendo uma
perfeita alusão ao título: "Não significa nada se não tiver esse swing".
A origem do estilo veio de Kansas
City configurado pela banda de Benny Moten, que se tornou mais tarde de Count
Basie, após o falecimento de Moten, mas o swing já se encontrava presente em
1930 apesar de ainda um pouco rígido, mas já se notava a acentuação recaindo
nos 4 tempos do compasso, a grande característica do gênero. O Jazz deixava de
ser apenas sincopado.
Outro marco da Era Swing foi em
meados de 1936, quando o “Onyx Club” de New York apresentou um espetáculo
intitulado ― “Swing Music Concert”, contando com as bandas de Artie
Shaw, Tommy Dorsey e Bob Crosby, portanto o swing já havia chegado e a
Depressão terminado.
A “Era Swing” veio expressar toda
a euforia do fim da Depressão.
É importante ouvir o swing de “When
I’m Alone” com a banda de Moten em gravação de outubro de 1930 com vocal de
Jimmy Rushing, talvez a "pedra fundamental" e depois os
"alicerces", com a gravação de
“It Don't Mean a Thing If It Ain't Got That Swing” pela banda de
Duke Ellington e vocal por Ivie Anderson, em fevereiro de 1932.
BENNY MOTEN AND HIS KANSAS
CITY BAND: Ed Lewis, Hot Lips Page, Booker Washington (tp), Eddie Durham
(v-tb), Thamon Hayes (tb), Harlan Leonard (cl,) Woody Walder (st), Jack
Washington (sbar), Count Basie (pi), Ira "Buster" Moten (pi,acordeão),
Leroy "Buster" Berry (bj), Vernon Page (tu), Willie McWashington (bat)
Jimmy Rushing (vcl) e Bennie Moten (arranjo e direção).
WHEN I’M ALONE (Bennie Moten / Jimmy Rushing)
Kansas City, 30/outubro/1930
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DUKE ELLINGTON AND HIS FAMOUS ORCHESTRA: Arthur Whetsel, Freddy Jenkins Cootie Williams (tp), Joe Nanton, Lawrence Brown (tb, Juan Tizol (v-tb), Barney Bigard (cl,st), Johnny Hodges (sa), Harry Carney (sbar), Duke Ellington (pi), Fred Guy (bj), Wellman Braud (bx),Sonny Greer (bat) e Ivie Anderson (vcl)
IT DON'T MEAN A THING IF IT
AIN'T GOT THAT SWING (Duke Ellington / Irving Mills) - New York, 2/fevereiro/1932
Um comentário:
formidavel artigo Major, com panorama sobre o jazz e a época da depressão econômica nos EUA.
Carlos Lima
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