Série: Histórias do
Jazz
DO
OUTRO LADO DO JAZZ # 5
DA CERA AO RAIO LASER (2)
Pode-se até imaginar que após o
advento do microfone e dos amplificadores como parte do processo elétrico de
gravação do som, tudo tenha se tornado muito simples do dia para a noite, mas
ledo engano! Inicialmente havia só um
microfone, só um canal de gravação e os problemas de captação mudaram um pouco
mas, de certa forma, se mantiveram.
O microfone ficava em um pedestal
e os músicos a sua volta no mesmo nível, depois criaram plataformas em níveis
diferentes, mais tarde o microfone foi pendurado no teto, enfim, várias foram
as maquinações objetivando uma melhor distribuição do som a ser captado pelo
solene microfone.
Uma dessas resultou em hilariante
episódio, quando Bessie Smith foi fazer uma gravação com sete rapazes da banda
de Fletcher Henderson, o engenheiro da Columbia inventou que o som seria melhor
captado pelo microfone, ainda a carvão, se os espaços sonoros fossem os mais
reduzidos possíveis. Naturalmente lidava
com o problema da reverberação acústica do estúdio, ainda não devidamente
tratado. Foi então armada uma tenda com
cortinas de pano e cada músico embaixo, mas eis que Bessie no meio dessa
parafernália teve um ataque de claustrofobia e para se
livrar daqueles panos,
foi balançando a
geringonça, que caiu por cima de todos criando a imagem de um monte de
fantasmas gesticulando, alguns ainda tocando!
Deve ter sido cena digna de um filme dos irmãos Marx ou dos 3 Patetas
(no caso 8 Patetas).
Outro episódio curioso ocorrido
foi em função da discriminação da bateria nos estúdios de gravação, mas foi
Gene Krupa talvez o 1º a enfrentar tal implicância e a montar todo seu aparato
dentro de um estúdio de gravação, o que ocorreu exatamente a 08/dezembro/1927.
O produtor Tommy Rockwell da Okeh
Records convidara alguns jovens de Chicago reunidos em torno do banjoista Eddie
Condon, e lá estava Krupa com apenas 18 aninhos. Ao entrar no estúdio Rockwell assustou-se
com toda a bateria montada e perguntou: ― “O que é isto aqui? O que pretende
com tudo isto?” e Krupa respondeu simplesmente... ―“tocar”. Rockwell se
desesperou, porém Krupa, talvez pela inocência de sua juventude ou mesmo por
atrevimento, fincou pé, insistiu, até que depois de muitas idas e vindas em torno
do engenheiro de gravação, Rockwell
acabou permitindo que pelo menos aquilo fosse experimentado e assim,
pela primeira vez, pode-se ouvir tarol, tantãs, pratos e bumbo juntos numa
gravação, ou seja, uma bateria completa.
Entretanto Krupa foi bastante parcimonioso
em sua execução, para não por tudo a perder, é claro.
O disco (Okeh 41011) (78 rpm)
editado tinha de um lado a canção SUGAR e CHINA BOY do outro. Como a gravação
deu certo e até foi um sucesso, Krupa voltou entusiasmado ao estúdio com o
Eddie Condon Quartet em julho/1928 e, ai sim, Krupa "deita e rola"
com seus pratos, bumbos e demais apetrechos em INDIANA e CHINA BOY, 2 clássicos
do “dixieland” de Chicago.
Nos anos de 1940 surgiu o
processo de gravação magnética e em 1948 foi produzido comercialmente e pela
Columbia Records o 1º disco de longa duração, o famoso LP - Long Play - termo
consagrado mundialmente referindo-se à tecnologia de gravações em microssulcos
com a velocidade de 33 1/3 rpm.
Tal processo foi alavancado no
pós-guerra com o desenvolvimento dos poliésteres plásticos (vinil). Os discos
com este material foram chamados de inquebráveis (unbreakable) em comparação
aos anteriores de 78rpm feitos em goma-laca (shellac), estes altamente
quebráveis.
Aliado ao novo material um novo
processo mecânico permitiu aumentar a quantidade de sulcos (“grooves”) de 40
para 100 por centímetro, desenvolvido por Peter Goldmark em 1947 e passando a
ser conhecido por microssulco. Com o vinil também foi possível introduzir novo
padrão de registro de freqüências permitindo a gravação e reprodução de ampla
faixa com muito pouco ruído de fundo. Naturalmente que os estúdios de gravação também
foram modernizados, empregando o registro sonoro através de fitas magnéticas e
circuitos eletrônicos mais elaborados, incluindo vários canais de gravação.
O primeiro LP comercial (não foi
de música de Jazz) introduzido em 21/junho/1948 pela Columbia foi o 10
polegadas (Col. ML 2001) com a “Beethoven's 8th Symphony” regida por Bruno
Walter e a New York Philharmonic, logo a seguir o primeiro 12 polegadas, também
da Columbia (Col. ML 4001), coube ao magnífico “Mendelssohn's Violin Concerto”,
com Nathan Milstein solista e a New York Philharmonic Orchestra, regida também
por Bruno Walter. O LP permitia fantásticos 30 minutos de música em cada
lado. Pode-se imaginar o que isto
passaria a significar para os músicos de Jazz, agora bem mais livres daqueles
3½ minutos de duração de cada lado do 78rpm.
O primeiro LP de Jazz coube ao
Duke Ellington, num LP de 10 polegadas, “The Liberian Suíte” (CL-6073-1948),
gravado pela Columbia no New York's Liedenkranz Hall em 24/dezembro/1947.
Essa gravação também foi lançada
pela Prestige Records (P-24075).
Seguiram-se os discos compactos
de 45rpm e 17,5 centímetros, conhecidos como EP (“Extended Play”) e que tiveram
pouca acolhida, seguiu-se a gravação magnética em multipistas, a partir das
experiências da RCA Victor desde 1954.
Mais adiante (1956) foi
introduzido o processo estereofônico, que deu nova dimensão ao som
reproduzido. O primeiro LP de Jazz
editado no processo estereofônico coube à banda “The Dukes of Dixieland”, com o
álbum ― “You Have to Hear It To Believe It... Vol. 1”, pelo selo Audio Fidelity
(AFSD 5823 - 1957).
Sidney Frey fundador da Audio
Fidelity andava por Las Vegas, como sempre procurando novos valores para seu
selo, quando ao perguntar a um barman se sabia de algo diferente na cidade este
lhe falou se já havia visto os “Dukes of Dixieland, que por ali se apresentavam.
Sidney acabou por contratar o
grupo, coincidindo com a recente instalação dos novos equipamentos e, assim se
tornou a primeira banda de Jazz a gravar em estereofonia.
A qualidade era impressionante,
pois além da parte técnica de gravação, a extrema espessura da “bolacha” e sua
leveza criaram um paradigma para o LP.
A formação dos “Dukes of
Dixieland” nessa gravação contou com Frank Assunto (tp), Fred Assunto (tb),
Papa Jac Assunto (tb e banjo), Harold Cooper (cl), Stanley Mendelson (pi),
Roger Johnson (bat) e Bill Porter (bx).
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