Série:
Histórias do Jazz
DO OUTRO LADO
DO JAZZ # 1
O objetivo é
apresentar alguns aspectos ligados de alguma forma à música de Jazz, mas que
normalmente estão em "off" ou seja, escondidos nos bastidores ou
mesmo providos de caráter subjetivo; digamos, então, que fazem parte DO
OUTRO LADO DO JAZZ. Assim o assunto Jazz, a par de sua musicalidade, vem
incorporando inúmeras histórias e estórias ligadas aos músicos, produtores,
aficionados, pesquisadores, tecnologia, enfim de todos que vêm criando e
divulgando a “Arte Maior do Jazz” por todo esse tempo e aos fatos que os
envolvem.
SÉCULO XX
O Jazz tem sua
trajetória histórica desde o início do século XX e ao atravessá-lo compartilhou
com a humanidade de suas conquistas sociais e tecnológicas, bem como de suas
glórias e infortúnios. Neste processo sofreu dos efeitos das drogas
alucinógenas, alcoolismo, do racismo aos seus fiéis criadores, da grande
Depressão Econômica de 1929, do gangsterismo de Chicago, da grande greve das
gravadoras dos anos 1942/44, não nos esquecendo do primeiro golpe que foi o fechamento
do distrito de Storyville em New Orleans no ano de 1917.
No
desenvolvimento da tecnologia o Jazz esteve presente nos inventos como dos
cilindros de Edison, rolos para pianolas, do gramofone, dos processos de
gravação de áudio, do cinema sonoro, do início das transmissões comerciais do
rádio e da gravação de imagens.
A década de 1920
trouxe novos estilos de música para a cultura “mainstream” (corrente principal)
em cidades de vanguarda como Kansas City, Chicago e New York. O jazz tornou-se
a forma mais popular de música para jovens. A historiadora Kathy J. Ogren diz
que na década de 1920 o jazz se tornou a ― "influência dominante sobre a
música popular da América em geral". Scott DeVeaux (*) argumenta que uma
história padrão do jazz emergiu de tal forma que: ―"Depois de uma
concordância obrigatória com as origens africanas e antecedentes de ragtime, a
música é mostrada movendo-se através de uma sucessão de estilos ou períodos:
jazz de Nova Orleans até os anos 1920, a década de 1930 em Chicago e Kansas
City, a Era Swing final dos anos 1930, o bebop na década de 1940, o cool jazz e
hard bop nos anos 50, o free jazz e o fusion nos anos 60 e 70”.
O panteão de músicos
e cantores da década de 1920 inclui Louis Armstrong, Duke Ellington, Sidney
Bechet, Jelly Roll Morton, Joe "King" Oliver, James P. Johnson,
Fletcher Henderson, Frankie Trumbauer, Paul Whiteman, Bix Beiderbecke, Adelaide
Hall e Bing Crosby. O desenvolvimento do blues urbano também começou na década
de 1920, com artistas como Bessie Smith e Ma Rainey. Na última parte da década,
as primeiras formas de música country foram dos pioneiros como Jimmie Rodgers,
The Carter Family, Uncle Dave Macon, Vernon Dalhart, e Charlie Poole.
Clubes de dança
se tornaram muito populares atingindo o pico no final da década de 1930 e
chegou ao início dos anos 1940.
Danceterias com
concursos de dança patrocinados, onde os dançarinos inventavam e competiam com
novos movimentos recebendo prêmios. Profissionais começaram a aprimorar suas
habilidades em sapateado e outras danças da época ao longo do circuito de palco
nos Estados Unidos. O Harlem desempenhou um papel fundamental no
desenvolvimento de estilos de música e dança. Vários locais de entretenimento
atraíram pessoas de todas as raças. O Cotton Club apresentava artistas negros e
atendia uma clientela branca, enquanto o Savoy Ballroom atendia a uma clientela
em sua maioria negra. Alguns moralistas religiosos pregaram contra ―"Satanás
no salão de dança", mas tiveram pouco impacto.
As danças mais
populares ao longo da década de 20 foram o foxtrot, a valsa e o tango de salão.
Desde o início da década, no entanto, uma variedade de danças de novidades
excêntricas foram desenvolvidas. As primeiras destas foram o Breakaway e o Charleston.
Ambas foram baseadas em estilos musicais e batidas afro-americanas, incluindo o
popular blues. A popularidade do Charleston explodiu depois de sua participação
em dois shows da Broadway de 1922. Uma breve mania do Black Bottom, originária
do Apollo Theatre, varreu os salões de dança de 1926 a 1927, substituindo o
Charleston em popularidade. Em 1927, o Lindy Hop, uma dança baseada em
Breakaway e Charleston e integrando elementos da batida, tornou-se a dança
social dominante, desenvolvida no Savoy Ballroom. O Lindy Hop mais tarde
evoluiu para outras danças swing.
O foxtrot é uma
dança de salão caracterizada por movimentos longos e contínuos e dança-se com música
executada pelas grandes bandas de jazz – as big bands – com sensação de
elegância e sofisticação. Visualmente, a dança assemelha-se à valsa, embora o
ritmo seja quaternário (em vez do ritmo ternário da valsa). Desenvolvido logo
após a Primeira Guerra Mundial, o foxtrot atingiu o auge de popularidade na
década de 30, e continua praticada até hoje.
A mania da dança
teve uma grande influência na música popular. Um grande número de gravações foram
rotuladas como FOXTROT, no entanto eram na verdade músicas de jazz, em se
tratando de baladas, lia-se Slow-Fox.
O Jazz, dispensado
que foi do serviço militar na 1ª Guerra Mundial, alistou-se para a 2a. Grande
Guerra tendo uma atuação soberba com inúmeras bandas, mas acabando por sofrer
perda irreparável como a do major Glenn Miller. Ao fim da guerra, desfrutou de
momentos de euforia através das “big bands”, dos “ballrooms” e “night clubs” e
crescendo como arte chegou ao meio século de existência. Dos anos 60 em diante
passou por momentos difíceis vivendo novas concepções estruturais como
atonalidade, escalas modais e até mesmo as exóticas como as indianas e
orientais, enfrentou desavenças rítmicas onde melodia e acompanhamento seguem
métricas diferentes e até, por vezes, conflitantes. As sonoridades foram
eletrificadas e adicionados efeitos eletrônicos e com estes ingredientes
ocorreu o advento do “free”, do “fusion”, vindo a ser atacado pelo ácido –
“Acid Jazz”. O século XX terminou sob o “nu-jazz”, expressão cunhada ao final
dos anos de 1990 (nu corruptela de new), relacionada à combinação de texturas e
instrumentação jazzísticas com a música eletrônica, aventurando-se em
território do “groove jazz”, este mais próximo do “funk”, “soul” e “rhythm
& blues”.
Parece-nos que
tais mudanças não acrescentaram mais emoção que o cornetim de Armstrong, o
clarinete de Goodman, o piano de Peterson ou o sax de Charlie Parker e, para
não sermos tão tradicionalistas e conservadores, ainda dentro do horizonte daquilo
que se possa chamar de um Jazz livre, entendemos que o limite tenha se situado
em torno de Cecil Taylor (pianista), Ornette Coleman (saxofonista alto) e Sun
Ra (tecladista) dentre poucos. Um dos expoentes deste gênero foi John Coltrane,
na década de 1960.
(*) Scott DeVeaux
é musicólogo especialista em jazz e música americana, com interesses em
etnomusicologia africana e música popular.
Um comentário:
Perfeito Major excelente descrição do jazz no século 20. Do outro lado do jazz série e já curioso do que vem por ai. abraço
Carlos Lima
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