Série: Histórias do Jazz
Além do violino, Jim Lannigan tocava piano e Jimmy
McPartland o cornetim e seu irmão mais velho Dick o banjo e guitarra. Bud
Freeman tocava o C-melody sax naquele tempo ainda um tanto popular, mas logo
anos depois passou para o sax-tenor o que fez pelo resto de sua vida
profissional. Frank Teschemacher era também um dos integrantes do grupo e na época
estudava o sax-alto, mas ainda executava o violino, Dave North pianista. As
idades do grupo alcançavam desde o caçula Jimmy McPartland com 14 anos, Jim
Lannigan e Dick com 17, Teschemacher e Bud Freeman também com 16 este um pouco
mais novo.
O interesse era tão grande que além de praticarem ensaiando
no colégio o faziam em casa e até mesmo em um apartamento vazio do pai de um
deles.
Dominados pela mesma ambição passaram a se apresentar em
cinemas, restaurantes e festas. Como eram oriundos da classe média em princípio
poderiam tocar por hobby o que lhes deu uma maior liberdade musical, tocavam
aquilo que realmente queriam e gostavam, sem nenhuma imposição comercial.
Nesta época conheceram a Al Johnson Orchestra ouvida em um
teatro local que impressionou o grupo inspirando a executarem peças de caracter mais dançante passando então a participar das tardes dançantes no colégio Austin realizadas aos
sábados de 15 às 17:30h. Aprovados pela associação de pais como uma forma
social e saudável de entretenimento para os alunos.
Muitos jovens da região desejaram participar da banda,
alguns como Benny Goodman desenvolvendo seu talento, mas muitos interessados em
certas "mordomias" tal como uma viagem gratuita ao acampamento de verão
do colégio.
A pequena banda se apresentava, além do colégio, em festas
nas casas dos colegas estudantes. Praticando dia e noite muitas vezes os
estudos formais eram esquecidos.
Na cidade, em Austin, havia uma popular sorveteria ― The Spoon and the Straw que possuía
um fonógrafo automático (jukebox) e um certo dia alguém colocou um niquel e
escolheu uma música. Uma tremenda descoberta foi feita! Nada mais, nada menos
que uma gravação dos New Orleans Rhythm Kings (NORK), dirigida pelo cornetista
Paul Mares de New Orleans e junto George Brunies ao trombone, Leon Roppolo
clarinete, Mel Stitzel ao piano e Ben Pollack à bateria. O disco foi tocado
exaustivamente e a melodia era TIN ROOF BLUES, (George Brunies / Paul Mares /
Walter Melrose / Ben Pollack / Mel Stitzel) a primeira gravação dos NORK em 1923.
Era a primeira vez que tinham conhecimento daquele tipo de música e
naturalmente logo encantou a "gang" da Austin High School.
The Rhythm Kings, a quem os jovens Chicagoanos ouviam pela
primeira vez tinham crescido junto com o Jazz de New Orleans, agora como
veteranos vinham a influenciar outros jovens.
The Austin High School Gang, como passaram a ser conhecidos,
não tinham outro ambiente tão oportuno para desenvolver seu estilo musical,
calcado no ragtime, mas já era o Jazz presente, aquilo que ouviam na “jukebox” a
Austin Gang imediatamente iniciou a estudar, não era mais importante ler as
partituras e sim se dedicar às improvisações contrapontísticas entre os sopros,
o aquecimento do rítmo e a incomparável tonalidade blues.
Mais tarde quando puderam ouvir as gravações da Gennett e
Okeh feitas por Bix Beiderbecke e os Wolverines e pela King Oliver's Creole
Jazz Band, realmente se tornaram uns jazzistas. O impacto da música de New
Orleans havia passado e eles próprios inclusive começaram a criar seu estilo ― o Jazz de Chicago.
Vários outros jovens e talentosos músicos foram seguindo o
caminho da “hot-music” e assim juntaram-se ao grupo: Eddie Condon (banjo,
guitarra), os bateristas Dave Tough, George Wettling e Gene Krupa, Floyd
O'Brien (trombone), Muggsy Spanier (cornet), Mezz Mezzrow, Benny Goodman e
Rodney Cless (clarinete e saxes), Joe Sullivan, Jess Stacy, Art Hodes, Frank
Melrose pianistas e Red McKenzie que além de vocal tocava um inusitado
instrumento o "pente e papel" (comb-and-paper) procurando imitar o
cornet.
Muitas vezes o grupo tocava no Lewis Institute e a tarde era
chamada de "tea dances" (chá dançante) no mesmo modelo daquelas ocorridas
na Austin School. Cada um recebia em torno de 50 cents pela tarde. Ocasionalmente
Benny Goodman e Joe Sullivan tocavam com eles. Um dos maiores sucessos era uma
peça hoje tradicional do dixieland ―
JAZZ ME BLUES (Tom Delaney) e algumas do repertório dos New Orleans Rhythm
Kings.
Um dos fatores que sempre deixavam os ouvintes intrigados
era a ausência de partituras, vez por outra passavam um pequeno papel que
continha a harmonia base e o número de choruses dos solos, e nada mais, liam
colocavam de lado e saíam tocando.
Todos os membros da "gang" fizeram carreira
musical mas o pianista David North desapareceu no tempo não se tendo notícia.
Na verdade o grupo nunca formalizou uma banda comercial e
não tiveram oportunidade de alguma gravadora ou alguém do ramo se interessar em
fazer registros não havia por parte dos jovens ainda um profissionalismo.
Todos os músicos da gang foram crescendo e se garantindo em suas
próprias carreiras, no entanto alguns chegaram a formar pequenos grupos e aí
tiveram seus registros fonográficos.
Podemos então ouvir um desses grupos formado por membros da “gang”:
Jimmy McPartland (cnt), Frank Teschmacher (cl), Bud Freeman
(st), Joe Sullivan (pi), Eddie Condon (bj), Jim Lannigan (bx) e Gene Krupa (bat)
- Chicago, 8/dezembro/1927 – selo Okeh Records.
Um dos grandes clássicos "CHINA BOY" uma canção de
1922 escrita por Phil Boutelje e Dick Winfree. Foi introduzida no vaudeville
por Henry E. Murtagh e popularizada pela gravação de Paul Whiteman na Columbia
de 1929 com Bix Beiderbecke. A música se tornou um padrão de jazz e foi gravada
por, entre outros: Louis Armstrong, Mildred Bailey, Sidney Bechet, Gene Kardos,
Benny Goodman, Lionel Hampton, Isham Jones, Red Nichols, Charlie Parker, Django
Reinhardt e Fats Waller.
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