Série: Histórias do Jazz
Morton pegou
emprestado uma variedade de estilos, incluindo música latino-americana, que ele
referia como o “matiz espanhol” em suas canções. Ainda assim, sua música
permaneceu enraizada no arranjos básicos de ragtime e blues de Scott Joplin e
W. C. Handy.
O estilo de
piano de Morton foi formado a partir do ragtime inicial o "shout"
(1) e “stomps” (2), que também evoluiu
separadamente para a escola de piano de Nova York. A forma de tocar
de Morton também estava perto do barrelhouse, que produziu o boogie-woogie.
Morton estipulava
que para ser uma bom pianista de jazz teria de procurar a imitação de uma banda.
Suas composições foram concebidas orquestralmente, com uma maravilhosa
capacidade de criar melodias. Ele também incorporava às suas composições elementos
musicais em seu famoso discurso sobre jazz tais como: — riffs, breaks,
introduções, mudanças dos acordes, etc. Salientou também a importância de
escolher tempos corretos para cada melodia sem aceleração e considerando o uso
da dinâmica essencial com ênfase no ritmo.
Morton deixou
bem claro que estes princípios deviam ser estritamente respeitados por outros músicos
quando ao tocar ou gravar e se queixou de que suas composições foram algumas
vezes descaracterizadas pelo desempenho incorreto.
Morton gravou
todas suas composições como solos de piano ou em performances de grupo em seu
próprio nome durante sua carreira, com duas excepções: Milenberg, um piano solo para Gennett em 1924, mas foi rejeitada e
não emitida — a matrix nunca foi encontrada, e onze meses anteriores, em julho
de 1923, Morton tinha ido aos estúdios da Gennett, ao mesmo tempo que os New
Orleans Rhythm Kings e acabou substituído pelo pianista Kyle Pierce em três
músicas, uma das quais foi Milenberg.
A maior de
todas as bandas de jazz clássicas, lideradas pelo bom amigo de Morton ― Joe King Oliver, gravou Froggie Moore Rag, uma composição de
três temas que incorpora uma mudança fundamental na estrutura e London Café Blues, com base em uma
sucessão de breaks, um dispositivo musical que Morton e Joe Oliver
particularmente apreciavam.
Nos anos 20
as composições de Morton se tornaram populares sem dúvida pela disponibilidade
das partituras publicadas por Tin Pan Alley.
Nos anos de
1925 e 26 vários importantes grupos além dos New Orleans Rhythm Kings em New
Orleans gravaram composições de Morton tais como: Em Kansas City ― Bennie Moten com Midnight Mama, em St. Louis ― Charlie
Creath com Grandpa's Spells, em
Chicago ― Doc Cook com Sidewalk Blues
e em New York Henry Busse com Milenberg
Joys todos temas de Morton usando seus próprios arranjos.
Morton alegou
ter escrito King Porter Stomp homenageando
seu amigo pianista Porter King nos primeiros anos do século 20. Quanto a Kansas
City Stomp Jelly explicou que a peça não veio de Kansas City mas foi
composta quando estava em Tijuana, México e dedicada à cidade de Kansas. Jelly Roll Blues era originalmente
conhecida como The Blues of Chicago.
Abaixo uma
lista das mais expressivas composições de Jelly Roll Morton:
Big Foot Ham; Black Bottom Stomp; Burnin' the Iceberg; The Crave; Creepy Feeling; Doctor Jazz Stomp; The Dirty Dozen; Fickle Fay Creep; Finger Buster; Freakish; Frog-I-More Rag; Good Old New York; Grandpa's Spells; Jungle Blues; Kansas City Stomp; King Porter Stomp; London Blues; Mama Nita; Milenberg Joys; Mint Julep; My Home Is in a Southern Town; New Orleans Bump; Pacific Rag; The Pearls; Pep; Pontchartrain; Red Hot Pepper; Shreveport Stomp; Sidewalk Blues; Stratford Hunch; Sweet Substitute; Tank Town Bump; Turtle Twist; The Crave; Why? e Wolverine Blues
Várias das
composições de Morton eram homenagens musicais a si próprio, incluindo ― Winin' Boy, The Jelly Roll Blues, The
Original Jelly-Roll e Mr. Jelly Lord.
Morton alegou também ter escrito algumas músicas que ficaram com copyright
atribuído a outros, incluindo Alabama
Bound e Tiger Rag (??).
Red Hot
Peppers foi uma banda
para gravação liderada por Jelly Roll de 1926 a 1930. A banda variando de sete a
oito integrantes formada em Chicago e gravando para Victor, apresentava os
melhores músicos “freelance” do estilo de Nova Orleans disponíveis.
As gravações
feitas pelo grupo em Chicago em 1926-1927, como "Black Bottom
Stomp", "Smoke-House Blues" e "Doctor Jazz"
estabeleceram um padrão para pequenos grupos de jazz. Morton como compositor e
arranjador é de suma importância se refletindo na estrutura das peças, que combina
clareza com variedade e consegue manter um equilíbrio entre o conjunto e o solo
permitido a cada músico da banda. A qualidade das apresentações era ainda
melhorada pelos ensaios cuidadosos que a banda fazia antes das gravações, algo
incomum nas primeiras apresentações dos grupos de jazz.
Em 1928,
Morton mudou-se para Nova York, onde continuou a fazer gravações com o nome de
Red Hot Peppers, mas colaborou com músicos de outras orquestras. Em 1930, o nome
Red Hot Peppers não era mais usado.
As gravações
feitas pelos Red Hot Peppers constituíram uma contribuição significativa para a
indústria fonográfica, em seu auge ao final da década de 1920 e anos 1930. A
mistura magistral de composição e improvisação demonstrada por Morton e seus
colegas abriu um precedente para o jazz em relação a outros grupos.
Dentre as várias
peças consideradas verdadeiras obras de arte podemos ouvir uma das mais
significativas ilustrando tudo que foi dito acima:
Jelly Roll
Morton's Red Hot Peppers:
George Mitchell (cnt), Kid Ory (tb), Omer Simeon (cl), Jelly Roll Morton (pi),
Johnny St. Cyr (bj), John Lindsay (bx) e Andrew Hilaire (bat).
BLACK
BOTTOM STOMP (Jelly
Roll Morton) - Chicago, 15/setembro/1926
(1) SHOUT - literalmente grito e é usado para
caracterizar um estilo de se cantar o blues com uma interpretação possante,
quase gritada. Por certo, uma herança da era da escravidão através do canto das
plantações do sul dos EUA, o field-holler. O termo é empregado também para
execuções instrumentais onde o “approach” é deliberadamente poderoso. Approach o
termo em inglês que musicalmente refere-se à abordagem de uma execução, ou seja a
maneira de tratar uma apresentação musical, com forte ataque.
(2) STOMP - em
inglês o verbo "to stomp" significa bater firme o pé, marchar
cadenceado e curiosamente foi empregado o seu substantivo como referência
próxima ao swing. O termo STOMP nos
anos 20 designava simplesmente uma música sincopada, sendo ou não
especificamente Jazz. É muito comum
encontrar em anúncios de espetáculos da época que determinado músico iria
executar blues, ragtimes e STOMPS. Morton compôs vários stomps. Na era das big bands o
termo passou a se referir a uma música com intenso swing, favorável à dança
como o tema ― Stompim’ At The Savoy ou I’m
Gonna Stomp Mr. Henry Lee.
Um comentário:
Figuraça, esse Jelly Roll Morton!
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