Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

24 março 2021

 

Série: Histórias do Jazz

 NOVA YORK E A TRANSIÇÃO DO JAZZ NA DÉCADA DE 1920 (2ª.parte)

  A música de jazz atingiu a maioridade na cidade de Nova York durante a década de 1920. A cidade serviu como o centro da indústria da música e as gravadoras mais importantes da década, editoras e estações de rádio traziam endereços de Manhattan. Embora importante semelhanças conectam as três cidades “jazzísticas”, em geral, o padrão de desenvolvimento de Nova York se desviou do que ocorrera em Nova Orleans e Chicago, onde o jazz havia surgido como uma forma de música folclórica  (folk) afro-americana. Os intérpretes e público vieram essencialmente do mesmo grupo racial, social, cultural e econômico.

O jazz de Nova York, no entanto, surgiu de um contexto sócio-musical diferente intimamente ligado ao negócio da música.

Durante as primeiras duas décadas do século XX, o cenário musical de New York incorporou vários gêneros que acabariam por dar origem a uma forma de jazz. Apesar de certas diferenças estilísticas, duas formas gerais de jazz passou a dominar a cidade. Uma com tendência musical centrada nas bandas que forneciam música para dança, apresentações de vaudeville e shows da Broadway. Ao contrário da tradição de Nova Orleans, as bandas de Nova York com configurações maiores usavam principalmente arranjos escritos, mantendo e tocando músicas predominantemente popularizadas por meio da indústria de partituras emergindo de Tin Pan Alley (1) centrada em Manhattan.

Uma segunda é a importância dos pianistas que tocavam uma mistura de ragtime e blues, música que reverberou por toda a cidade de Nova York como prenúncio da Era do Jazz. Além dos cabarés, salões de dança ou em teatros e cinemas, os pianistas solo tocavam em locais mais informais, principalmente em eventos sociais de salão e "festas de aluguel" (rent party)(2). Uma tendência das áreas de baixa renda da cidade, tais festas eram organizadas para arrecadar dinheiro suficiente para apaziguar a cobrança mensal do proprietário. Os anfitriões costumavam contratar um pianista e cobrar ingresso do pessoal. Essas festas frequentes tornaram os pianistas bastante populares em grande parte da cidade. Entre o final dos anos 1910 e nas décadas de 1920 e 30, vários pianistas, tais como: James P. Johnson, Luckey Roberts, Willie “The Lion” Smith e Fats Waller ganharam destaque na cidade e cada um representou um elo importante entre ragtime, blues, Tin Pan Alley e o próprio jazz.

Nascido em Nova Jersey no início da década de 1890, James Price Johnson ajudou a conceber um novo estilo de tocar piano conhecido como stride ao final da década de 1910. Com sua complexa sincopação e com origens do ragtime o stride piano foi disseminado nos inúmeros cafés, bares e festas por toda a cidade de Nova York. Um dos rivais de Johnson, Willie “The Lion” Smith adicionou uma estrutura harmônica de blues mais pronunciada ao piano. Possuindo um senso de harmonia incomparável, Smith combinou um estilo ragtime / stride sincopado com uma forte sensação de blues. Em certo sentido, o stride piano de Johnson e Smith combinaram elementos dos estilos musicais mais populares e servindo como uma ponte entre o ragtime e o jazz. Jelly Roll Morton produziu um similar tipo de música, mas os pianistas de Nova York mantinham conexões mais fortes à música popular, permitindo um estilo de tocar mais comercializável, e tanto Johnson quanto Smith encontraram graus de sucesso comercial - através da gravação de “piano-rolls” um rolo de papel perfurado que controlava o movimento das teclas de uma pianola.

Thomas “Fats” Waller nascido em 1904 no bairro de Greenwich Village em Manhattan, aperfeiçoou uma mistura sincopada de ragtime, blues, música popular e vaudeville ao piano e, eventualmente, ultrapassou seu mentor, James P. Johnson, para torna-se "o artista negro mais popular da década de 1930".

Stride piano ou Harlem Stride piano é um estilo de jazz desenvolvido principalmente durante os anos 1920 e 1930. Nesse estilo, a mão esquerda toca um pulso de quatro batidas com uma única nota mais baixa do acorde, diferentemente do ragtime, popularizado por Scott Joplin, no stride a mão esquerda muitas vezes salta distâncias maiores no teclado, e o pianista toca em uma variedade maior de tempos, com maior ênfase na improvisação.

Abaixo podemos ouvir trechos dos pianistas exibindo seus “strides”, na seguinte ordem:

James Price Johnson - Carolina Shout (1921)

Willie "The Lion" Smith - Finger Buster (1931)

Thomas "Fats" Waller - Handful of Keys (1929)

 (1) TIN PAN ALLEY - expressão que designou um local ao sul da ilha de Manhattan em New York, próximo a Union Square (entorno da rua 28), onde a partir do início do século XX concentraram-se as casas editoras de música e que passaram a dominar inteiramente o mercado de música popular dirigindo de certa forma o gosto do público. Certa época, entre 1918 e 1939 poderia ser equiparada a uma grande fábrica de canções empregando uma enormidade de compositores em uma atividade febril de produção. TIN PAN ALLEY alimentou de valsas e cançonetas o teatro musical e de operetas da Broadway. Por vezes a expressão, que virou um sinônimo de música popular, era citada de maneira um tanto pejorativa como crítica a essa comercialização massificada da música em detrimento de uma melhor qualidade. Entretanto, muitos standards ali criados são obras de enorme valor e até hoje temas são usados no Jazz tendo sido seus destacados compositores: Richard Rodgers, George Gershwin, Cole Porter, Irving Berlin, Harry Warren, Jerome Kern, Victor Young, Vincent Youmans, Jimmy Van Heusen, Vernon Duke e outros que por lá andaram contribuindo para os editores.

    (2) RENT PARTY - literalmente festa de aluguel, expressão que designava as festas informais realizadas pela população afro, principalmente do Harlem, para conseguir dinheiro para pagar as despesas de aluguel da própria casa. Muito comuns nas décadas de 20 e 30, também conhecidas como house party. Eram convidados músicos, especialmente pianistas a fim de que tocassem e o estilo pianístico de execução do blues o ― boogie woogie era bastante popular incluindo uma forma de dança. Os convidados pagavam uma pequena taxa de admissão (entre 35 cents e meio dolar) que dava direito à bebida e comida, e obviamente, eram gentilmente frequentadas pelos músicos que nada pagavam e aonde surgiam nomes como James P. Johnson, Fats Waller, Pete Johnson, Cow Cow Davenport, Meade Lux Lewis Earl Hines, Mary Lou Williams e outros... Uma comida típica do sul dos EUA passou a ser tradicional nestas festas, em princípio pela própria cultura afro e também por ser bem barata, trata-se do prato chamado de "chitlins" feito com tripas de porco ou ainda, o outro clássico que é o "pigfoot", naturalmente pés de porco e tipicamente servidos ensopados com salada de batatas. A cantora de blues Bessie Smith em 1933 gravou ― Gimme A Pigfoot And A Bottle of Beer (Wesley Wilson).

(partes deste artigo são baseadas na dissertação da Courtney Patterson Carney, - Department of History of Louisiana State University - 2003)

 

 


2 comentários:

Edison Waetge Jr disse...

Uma delícia esses pianos, sempre me trazem à memória os filmes mudos de comédia.

MARIO JORGE JACQUES disse...

Realmente Edison era muito utilizado este estilo de piano nos filmes