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17 março 2021

 

Série: Histórias do Jazz

 NOVA YORK E A TRANSIÇÃO DO JAZZ NA DÉCADA DE 1920 (1ª.parte)

Apesar dos sons inovadores produzidos por um grande número de músicos do meio-oeste, New York City - não Chicago - serviu como o centro do mundo do jazz durante toda a década de 1920, e o jazz da Costa Leste viria a caracterizar a música popular do país para nas próximas duas décadas. As gravações feitas em Chicago ajudaram a definir um certo som, mas no geral, esses discos alcançaram um público muito limitado pela região. Ligado ao espírito de Chicago, o jazz de Nova York difere consideravelmente de seu contraponto do meio-oeste em estilo.

Em contraste com a cena de Chicago, a cidade de Nova York apresentava grandes bandas tocando jazz com arranjos para um público mais branco. Muitos dos melhores músicos de Chicago, principalmente Bix Beiderbecke e Louis Armstrong — tocaram com várias bandas de Nova York ao longo deste período, contudo mantiveram uma forma distinta de jazz que acabaria por atingir um público de massa.

Durante a década de 1920, o jazz de Nova York evoluiu a partir da polida “dance music” de Fletcher Henderson e da música artística de Duke Ellington que atingiram elevados níveis da sociedade norte-americana. O movimento conhecido por Harlem Renaissance (⁕) ajudou a justificar a música de jazz como afro-americana e como forma de arte cultural no mesmo nível da poesia e literatura, e bandas negras começaram a se apresentar também em grandes salões de baile para audiências brancas.

O aumento da atenção ao jazz por parte dos ouvintes brancos e dançarinos coincidiu com o surgimento da radiodifusão. As empresas sediadas em Chicago e Nova York representavam o foco nacional das indústrias de edição e gravação de música, bem como o lar da maioria das poderosas empresas de rádio difusão.

Em 29 de maio de 1925, a Orquestra de Fletcher Henderson entrou em um estúdio de Nova York para registrar Sugar Foot Stomp. Na época, o grupo de Henderson representava a síntese da big band notadamente dançante, e embora a banda tenha feito gravações anteriores, a recente adição de Louis Armstrong proporcionou às sessões de 1925 um senso ainda mais forte de swing. Além de seu talento, Armstrong também trouxe para Henderson um novo repertório. Sugar Foot Stomp, por exemplo, foi uma versão reorganizada da King Oliver's ― Dippermouth Blues.

Don Redman, o arranjador de Henderson, retrabalhou a peça em uma música apenas levemente relacionada ao jazz de Chicago que pouco se parece com a música do South Side, pressagiando em vez disso, futuros desenvolvimentos estilísticos para o jazz. Alternadamente sutil e estimulante a música estabelece o padrão para a música swing de big band dos anos 1930 com uma banda dividida em seções, uma estrutura baseada em riffs de condução e uma seção de ritmo com muito swing.

Este modelo definiria a música popular nas próximas duas décadas. Ao dividir a banda em diferentes seções ― metais, palhetas e ritmo ― o arranjador poderia fazer com que cada seção executasse linhas melódicas (conhecidas como riffs) para produzir um som denso e entusiástico. Este arranjo permitiu uma estrutura harmônica mais complexa já que uma banda maior gera mais vozes instrumentais, bem como forneceu uma forte aptidão para os vários solistas.

Os arranjos de Redman ultrapassam as fórmulas cansadas de Nova Orleans e de Chicago, que se baseavam quase exclusivamente em vozes monofônicas contrastantes. Uma chave componente desse estilo novo e intrincado dizia respeito aos arranjos escritos. Bandas de Chicago e de New Orleans, ainda empregavam os “head arrangement” (arranjos de cabeça ― feitos na hora, discutidos e memorizados pelos músicos).

A banda de Henderson, em contraste, usou pautas para todas as suas canções, e apenas os solistas seriam capazes de improvisar.

Grandes bandas de dança existiam em Chicago, mais notavelmente a Orquestra Vendome de Erskin Tate, mas a unidade fundamental na cidade de Nova York tendia para bandas de dez a vinte peças com a orquestra tocando um estilo arranjado de música de jazz. Este arranjo maior significava a conexão geral da cena de jazz de Nova York às estruturas de bandas tradicionais, e se a King Oliver’s Creole Jazz Band ou Louis Armstrong’s Hot Five tipificavam a cena de Chicago, em seguida, Fletcher Henderson’s Orchestra ou Duke Ellington’s Cotton Club Band caracterizaram o jazz produzido em Nova York.

O arranjo de Don Redman para Sugar Foot Stomp ressalta as semelhanças e diferenças entre o jazz de Chicago e de Nova York. A melodia básica, é claro, relaciona-se com a banda de King Oliver, mas a instrumentação do grupo e o ritmo, a pulsação da banda conecta a peça à música de Nova York. Começando com um curto, trompete padrão que apresenta a peça e conduz ao tema melódico tocado com um riff dominante, que as outras seções respondem durante as pausas do compasso ou pontuando com breves figuras rítmicas. A tuba, banjo e bateria seguem um pulso cuidadoso de banda de dança. Uma seção de clarinete e saxofone precede um rápido solo de trombone de Charlie Green. A primeira metade da música segue um arranjo de banda de dança um tanto padrão. A segunda metade no entanto, diverge em uma combinação mais interessante dos estilos de Chicago e Nova York. Depois do solo de Green, Louis Armstrong entra com um solo de trompete vibrante que revigora toda a música. Redman contrabalança o solo de Armstrong com uma sutil sustentação de saxofones, trompetes e trombones, e Kaiser Marshall, baterista, habilmente apóia Armstrong com o incrível espírito e swing do solo de Louis. Após os dois solos, Redman alterna seções suaves da banda tocando uma melodia com banjo mantendo o ritmo.

As seções ruidosas no final da peça  claramente prefigura a música swing organizada de diferentes seções tocando melodias contrastantes apoiadas por uma parte de tuba enfatizando todas as quatro batidas do compasso.

O solo de Armstrong e o swing da seção rítmica, de Sugar Foot Stomp marca uma transição clara do jazz de Chicago para a uniformidade da “dance music” de Nova York.

Nascido com dois anos de diferença no final da década de 1890, Fletcher Henderson (de Geórgia) e Don Redman (da Virgínia Ocidental) passaram a representar um novo tipo de jazz.

Henderson e Redman - que começaram a tocar juntos em 1923 - emergiram de um conjunto diferente de influências sociais e musicais do jazz anterior. Na essência, Henderson e Redman (bem como seu amigo, o saxofonista Coleman Hawkins) produziram o arquétipo do músico “educado” musicalmente que buscava ativamente por novos sons.

Abaixo podemos ouvir a peça fundamental do início do jazz de New York.

Fletcher Henderson And His Orchestra: Elmer Chambers, Joe Smith, Louis Armstrong (tp), Charlie Green (tb), Buster Bailey (cl,sa), Don Redman, Coleman Hawkins (st), Fletcher Henderson (pi), Charlie Dixon (bj), Bob Escudero (tu), Kaiser Marshall (bat) - Don Redman (arranjo)

SUGAR FOOT STOMP (Louis Armstrong / King Oliver)     New York, 29/maio/1925


() O Harlem Renaissance foi um renascimento intelectual e cultural do povo afro-americano na dança, moda, música, literatura, teatro, artes em geral, comportamento e política centrado no Harlem, Manhattan, Nova York, abrangendo as décadas de 1920 e 1930. Na época, era conhecido como o "Movimento Novo Negro", em homenagem uma antologia de 1925 editada por Alain Locke. O movimento também incluiu as novas expressões culturais afro-americanas em todas as áreas urbanas afetadas por uma militância renovada na luta geral pelos direitos civis dos negros.

(partes deste artigo são baseadas na dissertação da Courtney Patterson Carney, - Department of History of Louisiana State University - 2003)


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