Série: Histórias do
Jazz
DIXIELAND JAZZ
Literalmente significa "terra de
Dixie" e desse modo se chamava o conjunto de estados sulinos dos EUA no
século XIX. Parece que a palavra dixie seria uma corruptela de "dix",
dez em francês, e assim uma referência à moeda deste valor que circulava no sul.
Em 1859 um famoso minstrel Daniel Decatur Emmett (⁕1815 †1904) dos Bryant's Minstrels escreveu a canção Dixie publicada no ano seguinte tornando-se
extremamente popular e durante a Guerra Civil sendo executada paradoxalmente também
pelas bandas dos estados do norte, naturalmente em provocação aos sulistas que
consideravam a canção como de sua propriedade, já que dixie se referia ao sul.
O estilo de Jazz DIXIELAND foi criado pelos músicos brancos na tentativa de
imitar o estilo de música feito pelos negros de New Orleans já em Chicago.
Há crença geral que o Dixieland seja apenas a
música de brancos, mas na verdade tais músicos baseando-se na música de New
Orleans foi acrescida de mais swing, o sax alto substituíndo o clarinete ou
tocando juntos, bem como uso do sax tenor, a tuba deu lugar ao contrabaixo de cordas
ou por vezes ao sax-baixo e uma maior quantidade e qualidade dos solos.
Portanto criou-se um novo estilo e os próprios músicos afro-americanos foram
adotando o estilo Dixieland, contudo nem todos os grupos tradicionais de New
Orleans aderiram ao novo estilo de imediato.
Os melhores grupos Dixieland se aproximavam
bastante do espírito negródide que caracteriza as execuções do verdadeiro Jazz de
raiz ....Tradicional.
No sul dos EUA tais bandas eram formadas pela
linha de frente com o cornetim ou trompete, trombone e clarinete criando a
polifonia e pela linha de trás com a seção rítmica representada pela tuba,
banjo, bateria e piano. Esta “ensemble playing”, foi dando lugar a que cada instrumento
melódico passasse a jazzificar sua parte criando o que se denominou de
improvisação coletiva o que foi mantido no Dixieland.
Pelos idos dos anos
de 1880 os compositores criavam e escreviam uma melodia a qual seria arranjada
para um pequeno conjunto a que se denominava de banda. De um modo geral, esses
grupos executariam o tema da mesma maneira e precisamente tal como foi
orquestrado, era o estilo ensemble
sem solos, característa principal da música de New Orleans.
Quando o estilo
musical foi migrando para as cidades de St. Louis no Missouri, Detroit em Mississippi
e Chicago no Illinois – algo mudou, mais notadamente de duas formas: ― primeiramente
devido à influência de um músico, BIX BEIDERBECKE, que com seus solos ao cornetim
e arranjos tornou-se o espelho do Dixieland Jazz. Músicos tais como Louis
Armstrong e outros oriundos de New Orleans também iniciaram a expansão de suas
criações por meio dos solos, além do modelo da improvisação coletiva.
Como segundo passo, o
Dixieland liberou-se de uma forma mais rígida e com estilo vivo porém mais suave
de interpretação já que de um modo geral a música do sul da América do Norte
fluía um tanto "dura e quadrada".
Da influência de Bix
Beiderbecke os solistas foram criando espaço em cada melodia e a música passou a
ser mais convincente para a audiência. Quando a música sulista se mudou para as cidades do norte - o solo
instrumental tornou-se um elemento fixo do Dixieland Jazz. Músicos, como Louis
Armstrong e outros, pegariam a ideia de Bix e a expandiam tornando os solos um recurso
fixo, juntamente com a rotina de como as bandas tocariam, e algumas outras
melhorias.
Uma típica execução do início do Dixieland podemos ouvir com Bix
Beiderbecke and his Gang: Bix Beiderbecke (cnt), Bill Rank (tb), Don Murray
(cl), Adrian Rollini (sax-baixo), Frank Signorelli (pi) e Chauncey Morehouse (bat)
JAZZ ME BLUES (Tom Delaney) New
York, 5/outubro/1927
O estilo Dixieland
Jazz nasce em New Orleans como o Jazz clássico, porém firmou-se realmente em Chicago
na década dos anos 1920. A música evolui com o pensamento para a improvisação
coletiva dos choruses (refrões), altercando com solos individuais pelos
sopros e já introduzindo o riffing
(repetição de frases) empregando um compasso 2/4 com acento rítmico nos
compassos fracos (20 e 4o), incluindo por vezes a troca
de compassos entre o baterista e o grupo encerrando a apresentação.
Os músicos
brancos de Chicago mais importantes foram além de Bix Beiderbecke, Jimmy
McPartland, Muggsy Spanier, Bud Freeman e Frank Teschemacher. A Orquestra Jean Goldkette precursora
e uma das mais representativas do gênero apresentava alguns dos melhores
músicos de “White Jazz” dos anos 1920. Os depoimentos daqueles que os viram ao
vivo, afirmaram serem uma força a ser reconhecida.
Um dos mais inspirados
músicos foi Louis Armstrong, cujo Dixieland do início dos anos 20 exerceu
certamente grande influência em sua criação.
A
popularização do Jazz além de New Orleans e o desenvolvimento do Dixieland pode
ser traçado pelo fechamento do distrito de Storyville o "red light
district" uma solicitação da Marinha Americana em 1917. Tal
acontecimento deixou muitos músicos sem trabalho e na procura de novos empregos
se relocaram principalmente para Chicago e o grande anfitrião desses recém
chegados a "windy city" foi o cornetista Joe "King" Oliver o
qual desde o início de 1917 para lá já havia se transferido. Jelly Roll Morton,
o primeiro jazzista compositor e inovador pianista também se instalara em
Chicago desde 1914.
O estilo despreocupado
da música Dixieland logo perdeu terreno especialmente no período após 1930 quando
ocorreu a chamada Grande Depressão Econômica, e logo em seguida surge o estilo
swing, mas não desapareceu, digamos ― hibernou. No entanto, de 1945 até 1960 o
Dixieland tornou-se uma das mais populares formas de Jazz, período este chamado
de Revival quando vários músicos um tanto ou até muito esquecidos foram
chamados a atuar e fazer gravações, tais como: Bunk Johnson (tp), George Lewis
(cl), Wooden "Joe" Nicholas (cl), Oliver "Dink" Johnson
(pi, cl, bat) e Mutt Carey (tp), além dos contumazes seguidores do estilo.
O guitarrista Eddie Condon (*1905 †1973) talvez
tenha sido a peça mais influente no Revival do Dixieland, sua banda se apresentava
semanalmente no programa de rádio Town Hall Concerts de 1944, fez
inúmeras gravações e atuou em vários night clubs de Chicago por décadas, sempre
fiel ao estilo.
Louis
Armstrong em 1947 desistiu de sua big band em prol de um sexteto os famosos All
Stars mantendo o Dixieland vivo até seus últimos dias em julho de 1971.
O sucesso do
Dixieland como estilo de Jazz em meados dos anos 1940 inflamou uma série de
imitações pouco inspiradas como sendo o verdadeiro Dixie. Grupos se
apresentando com uniformes extravagantes e chapéus de palha, porém com pouca
música realmente de raiz, apenas suingando sucessos populares. Bem... pode-se
dizer, ― ninguém no "showbiz" sobrevive sem tais sucessos comercais,
é fato, Louis Armstrong perpetuou ― Hello Dolly, Ce Si Bonn, Mack The Nife,
High Society Calypiso e muitos outros, contudo há de separar o joio do
trigo.
Em 1974 surgiu
o evento ― Sacramento Dixieland Jubilee com tal sucesso que inspirou muitos
outros festivais somente de Dixieland e apesar dos grandes executantes e
inovadores já terem falecido músicos como Wynton Marsalis e Jim Cullum dentre
outros tem mantido vivo o verdadeiro Dixieland Jazz.
Abaixo uma gravação
genuína do Dixieland iniciando o Revival do gênero.
Hot Lips Page, Sterling Bose (tp), Miff Mole (tb), Pee
Wee Russell (cl), Gene Schroeder (pi), Eddie Condon (gt), Ernie Caceres (sbar), Bob Casey (bx) e Joe
Grauso (bat)
FIDGETY FEET (D.J. Larocca / Henry W. Ragas / Larry
Shields)
V-Disc
recording session, Town Hall Concert - New York, 8/março/1944
2 comentários:
Caro Major texto excelente, uma aula. Sou fã do jazz Dixieland. Estas series estão formidaveis. Aguardo a próxima
Carlos Lima
Mais uma aula pra coleção!
Obrigado.
Edison
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