Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels)*in memoriam*,, Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

10 fevereiro 2021

 

Série: Histórias do Jazz

 

DIXIELAND JAZZ

Literalmente significa "terra de Dixie" e desse modo se chamava o conjunto de estados sulinos dos EUA no século XIX. Parece que a palavra dixie seria uma corruptela de "dix", dez em francês, e assim uma referência à moeda deste valor que circulava no sul. Em 1859 um famoso minstrel Daniel Decatur Emmett (1815 †1904) dos Bryant's Minstrels escreveu a canção Dixie publicada no ano seguinte tornando-se extremamente popular e durante a Guerra Civil sendo executada paradoxalmente também pelas bandas dos estados do norte, naturalmente em provocação aos sulistas que consideravam a canção como de sua propriedade, já que dixie se referia ao sul. O estilo de Jazz DIXIELAND foi criado pelos músicos brancos na tentativa de imitar o estilo de música feito pelos negros de New Orleans já em Chicago.

Há crença geral que o Dixieland seja apenas a música de brancos, mas na verdade tais músicos baseando-se na música de New Orleans foi acrescida de mais swing, o sax alto substituíndo o clarinete ou tocando juntos, bem como uso do sax tenor, a tuba deu lugar ao contrabaixo de cordas ou por vezes ao sax-baixo e uma maior quantidade e qualidade dos solos. Portanto criou-se um novo estilo e os próprios músicos afro-americanos foram adotando o estilo Dixieland, contudo nem todos os grupos tradicionais de New Orleans aderiram ao novo estilo de imediato.

Os melhores grupos Dixieland se aproximavam bastante do espírito negródide que caracteriza as execuções do verdadeiro Jazz de raiz ....Tradicional.

No sul dos EUA tais bandas eram formadas pela linha de frente com o cornetim ou trompete, trombone e clarinete criando a polifonia e pela linha de trás com a seção rítmica representada pela tuba, banjo, bateria e piano. Esta “ensemble playing”, foi dando lugar a que cada instrumento melódico passasse a jazzificar sua parte criando o que se denominou de improvisação coletiva o que foi mantido no Dixieland.

Pelos idos dos anos de 1880 os compositores criavam e escreviam uma melodia a qual seria arranjada para um pequeno conjunto a que se denominava de banda. De um modo geral, esses grupos executariam o tema da mesma maneira e precisamente tal como foi orquestrado, era o estilo ensemble sem solos, característa principal da música de New Orleans.

Quando o estilo musical foi migrando para as cidades de St. Louis no Missouri, Detroit em Mississippi e Chicago no Illinois – algo mudou, mais notadamente de duas formas: ― primeiramente devido à influência de um músico, BIX BEIDERBECKE, que com seus solos ao cornetim e arranjos tornou-se o espelho do Dixieland Jazz. Músicos tais como Louis Armstrong e outros oriundos de New Orleans também iniciaram a expansão de suas criações por meio dos solos, além do modelo da improvisação coletiva.

Como segundo passo, o Dixieland liberou-se de uma forma mais rígida e com estilo vivo porém mais suave de interpretação já que de um modo geral a música do sul da América do Norte fluía um tanto "dura e quadrada".

Da influência de Bix Beiderbecke os solistas foram criando espaço em cada melodia e a música passou a ser mais convincente para a audiência. Quando a música sulista se mudou para as cidades do norte - o solo instrumental tornou-se um elemento fixo do Dixieland Jazz. Músicos, como Louis Armstrong e outros, pegariam a ideia de Bix e a expandiam tornando os solos um recurso fixo, juntamente com a rotina de como as bandas tocariam, e algumas outras melhorias.

Uma típica execução do início do Dixieland podemos ouvir com Bix Beiderbecke and his Gang: Bix Beiderbecke (cnt), Bill Rank (tb), Don Murray (cl), Adrian Rollini (sax-baixo), Frank Signorelli (pi) e Chauncey Morehouse (bat)

JAZZ ME BLUES (Tom Delaney)     New York, 5/outubro/1927



O estilo Dixieland Jazz nasce em New Orleans como o Jazz clássico, porém firmou-se realmente em Chicago na década dos anos 1920. A música evolui com o pensamento para a improvisação coletiva dos choruses (refrões), altercando com solos individuais pelos sopros e já introduzindo o riffing (repetição de frases) empregando um compasso 2/4 com acento rítmico nos compassos fracos (20 e 4o), incluindo por vezes a troca de compassos entre o baterista e o grupo encerrando a apresentação.

Os músicos brancos de Chicago mais importantes foram além de Bix Beiderbecke, Jimmy McPartland, Muggsy Spanier, Bud Freeman e Frank Teschemacher. A Orquestra Jean Goldkette precursora e uma das mais representativas do gênero apresentava alguns dos melhores músicos de “White Jazz” dos anos 1920. Os depoimentos daqueles que os viram ao vivo, afirmaram serem uma força a ser reconhecida.

Um dos mais inspirados músicos foi Louis Armstrong, cujo Dixieland do início dos anos 20 exerceu certamente grande influência em sua criação.

A popularização do Jazz além de New Orleans e o desenvolvimento do Dixieland pode ser traçado pelo fechamento do distrito de Storyville o "red light district" uma solicitação da Marinha Americana em 1917. Tal acontecimento deixou muitos músicos sem trabalho e na procura de novos empregos se relocaram principalmente para Chicago e o grande anfitrião desses recém chegados a "windy city" foi o cornetista Joe "King" Oliver o qual desde o início de 1917 para lá já havia se transferido. Jelly Roll Morton, o primeiro jazzista compositor e inovador pianista também se instalara em Chicago desde 1914.

O estilo despreocupado da música Dixieland logo perdeu terreno especialmente no período após 1930 quando ocorreu a chamada Grande Depressão Econômica, e logo em seguida surge o estilo swing, mas não desapareceu, digamos ― hibernou. No entanto, de 1945 até 1960 o Dixieland tornou-se uma das mais populares formas de Jazz, período este chamado de Revival quando vários músicos um tanto ou até muito esquecidos foram chamados a atuar e fazer gravações, tais como: Bunk Johnson (tp), George Lewis (cl), Wooden "Joe" Nicholas (cl), Oliver "Dink" Johnson (pi, cl, bat) e Mutt Carey (tp), além dos contumazes seguidores do estilo.

 O guitarrista Eddie Condon (*1905 †1973) talvez tenha sido a peça mais influente no Revival do Dixieland, sua banda se apresentava semanalmente no programa de rádio Town Hall Concerts de 1944, fez inúmeras gravações e atuou em vários night clubs de Chicago por décadas, sempre fiel ao estilo.

Louis Armstrong em 1947 desistiu de sua big band em prol de um sexteto os famosos All Stars mantendo o Dixieland vivo até seus últimos dias em julho de 1971.

O sucesso do Dixieland como estilo de Jazz em meados dos anos 1940 inflamou uma série de imitações pouco inspiradas como sendo o verdadeiro Dixie. Grupos se apresentando com uniformes extravagantes e chapéus de palha, porém com pouca música realmente de raiz, apenas suingando sucessos populares. Bem... pode-se dizer, ― ninguém no "showbiz" sobrevive sem tais sucessos comercais, é fato, Louis Armstrong perpetuou ― Hello Dolly, Ce Si Bonn, Mack The Nife, High Society Calypiso e muitos outros, contudo há de separar o joio do trigo.

Em 1974 surgiu o evento ― Sacramento Dixieland Jubilee com tal sucesso que inspirou muitos outros festivais somente de Dixieland e apesar dos grandes executantes e inovadores já terem falecido músicos como Wynton Marsalis e Jim Cullum dentre outros tem mantido vivo o verdadeiro Dixieland Jazz.

Abaixo uma gravação genuína do Dixieland iniciando o Revival do gênero.

Hot Lips Page, Sterling Bose (tp), Miff Mole (tb), Pee Wee Russell (cl), Gene Schroeder (pi), Eddie Condon (gt), Ernie Caceres (sbar), Bob Casey (bx) e Joe Grauso (bat)

FIDGETY FEET (D.J. Larocca / Henry W. Ragas / Larry Shields)

 V-Disc recording session, Town Hall Concert - New York, 8/março/1944



2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Major texto excelente, uma aula. Sou fã do jazz Dixieland. Estas series estão formidaveis. Aguardo a próxima
Carlos Lima

Edison Waetge Jr disse...

Mais uma aula pra coleção!

Obrigado.

Edison