Série: Histórias do Jazz
SWING
É o balanço rítmico e típico da
música de Jazz ou seja, a pulsação, fundamental característica de uma execução
jazzística, mesmo em se tratando de tempos mais lentos como baladas sente-se,
em músicos autênticos do Jazz a expressão do ritmo, do balanço, sua emoção. A
palavra refere-se, também, a uma escola de Jazz criada por volta dos anos
1935/6 e adotada pelas grandes orquestras de dança consistindo, basicamente, na
acentuação uniforme nos 4 tempos do compasso 4/4 por vezes com pequena ênfase
no quarto beat, dando assim à execução um irresistível balanço.
ESCOLA DE KANSAS CITY - diz-se de
uma escola de Jazz surgida por volta de 1927 na cidade de mesmo nome chamada
também de "middle west" (meio oeste). Caracterizou-se por perpetuar o
blues em sua forma pianística o boogie-woogie, dominando a utilização dos RIFFS(1)
e a flexibilização do ritmo onde os 4 tempos do compasso são expressos de
maneira igualmente acentuada o que produz um enorme equilíbrio ao Swing, ou
seja o balanço da execução, “bounce rhythm”. Inegavelmente esta escola evoluiu
para o que se chamou de escola Swing adotada pelas big bands das décadas de 30
e 40 como um Jazz muito dançante.
A escola SWING foi e ainda é
muito combatida pelos puristas do Jazz mas representa a evolução natural da
música ao se adaptar às exigências do público, principalmente dançante e até
que se fez Jazz de excelente qualidade em meio ao comercialismo que se formou
em torno do gênero.
Hoje em dia, a expressão Era Swing
remete a uma certa época norte americana, de 1935-1945 e a um estilo de
arranjos e performances de bandas com muita vocação para a dança, nem sempre
jazzísticas, uma época que agora está imbuída de muita nostalgia.
As Big Bands como Count Basie (e
sua All American Rhythm Section(2)), Benny Goodman -" o
rei do Swing ", os irmãos Dorseys, Glenn Miller, Artie shaw, Duke
Ellington, Woody Herman e muitos outros, estavam no alto. Fãs leais e
entusiasmados seguiam todos os “feitos” de sua banda favorita.
Desde antes da Primeira Guerra
Mundial e bem na década de 1920, as formas mais comuns de apresentação musical
incluíam pequenos grupos dixieland e bandas menores.
O estilo de todos esses grupos
era caracterizado pelo modo de tocar em conjunto com poucos e curtos solos.
Durante a década de 1930, o que agora chamamos de Era Swing se desenvolveu a
partir desse estilo de conjunto anterior, contudo com a formação de grupos bem
maiores as big bands dando mais representatividade aos solistas. Swing possui
um som denso e rítmico quase sempre usando um riff forte contra o qual a
melodia podia ser tocada. O estilo Swing alcançou seu pico de popularidade
durante a década de 1940, - e continua popular até hoje.
MAINSTREAM
– é um gênero de jazz com origem na década de 1950 e popularizado, entre
outros, por Buck Clayton, um trompetista. Clayton e outros antigos músicos da
era do swing e das big bands, como Coleman Hawkins, Lester Young, Harry
"Sweets" Edison e Roy Eldridge, não seguiram as novas tendências do
jazz, como o bebop, preferindo juntar-se em pequenas bandas e tocando
standards.
Literalmente mainstream refere-se
à corrente principal, expressão usada pelo crítico e produtor inglês, porém
radicado nos EUA, Stanley Dance, referindo-se ao Jazz executado nos anos 50 e
que segue até os dias de hoje tendo o Swing como base, independente de ser
dixieland ou bebop, ou seja, fiel às suas tradições conservadoras. Stanley
criou uma série de LP’s ao fim dos anos 1950 intitulada Mainstream Jazz para o
selo Felsted onde atuavam Buck Clayton, Vic Dickenson, Coleman Hawkins, Johnny
Hodgers, Charlie Shavers, Billy Strayhorn, Dick Wells e outros... Conhecido
também por middle Jazz.
A Bennie Moten's Kansas
City Orchestra grava MOTEN SWING em 1932 juntamente com IT
DON’T MEAN A THING IF IT AIN’T GOT THAT SWING – magnífico tema de Duke Ellington com
vocal por Ivie Anderson gravado também em 1932 ―
"Nada significa se não tiver conseguido aquele suingue",
portanto sendo definido pelo título todo o significado de uma época pode-se
considerar o “estopim” do novo gênero.
Duas formas de divulgação
evoluíram simultaneamente: As gravações das bandas Swing e as bandas se
apresentando em programas de Rádio. Os arranjos usados na nova mídia das gravadoras consistiam em
arranjos bem escritos de 3:20 minutos, porque esse era o limite de tempo
permitido nos velhos discos de 78 RPM - após os minutos, a agulha acertava o
fuso do disco. O Swing ouvido em performances ao vivo em ballrooms, clubes e
restaurantes e transmitidos pelas rádios permitiu arranjos abertos para
improvisações mais longas por parte dos solistas e brotava assim mais jazz.
Além disso, a instrumentação da
banda também definiu o som do Swing. Os sons mais antigos baseados nas bandas
de dança dos anos 1920 e grupos menores de 'hot jazz', lentamente mudaram para
bandas maiores - geralmente de 12 a 16 peças ou mais onde os metais - trompetes
e trombones adicionaram seu brilho e um som mais alto. Os metais foram
contrabalançeados por naipes de palhetas ― saxofones normalmente nos registros,
alto, tenor e barítono e clarinetes. O ritmo era carregado por piano, bateria e
guitarra, enquanto um contrabaixo de cordas substituía o antigo baixo de tuba
ou mesmo o sax-baixo. Além do que libera o papel do baterista de certas
restrições que tinha até então.
Devido a seus discos e programas
de rádio, os novos líderes de banda se tornaram heróis para uma legião de
admiradores. Algumas bandas se estabeleceram em saguões de hotéis e salões de baile
maiores transmitindo desses locais em redes nacionais de rádio broadcast.
Outras bandas faziam turnês constantemente em uma rodada de apresentações em ballrooms,
country clubs; restaurantes, shows e até em campus universitários.
Com o advento do Swing, o papel
do líder da banda também mudou. Alguns dos maestros mais velhos - homens como
Paul Whiteman, Glenn Gray e Paul Ash, que ficavam na frente de uma banda e
agitavam uma batuta, foram lentamente substituídos por líderes de banda que
eram grandes instrumentistas por seus próprios méritos. Bandleaders como Benny
Goodman, Glenn Miller, Tommy Dorsey, Jimmy Dorsey, Artie Shaw, Woody Herman,
Charlie Barnett, alternavam entre liderar e solar em cada música executada.
Outros líderes lideraram tocando piano em tempo integral em cada música. Entre
eles estavam Count Basie e Duke Ellington.
Simultaneamente a isso, os
sidemen tiveram mais oportunidades de solo durante a música.
A música também variava. As
baladas tornaram-se muito mais sentimentais a gosto dos casais enamorados,
enquanto a música mais rápida - melodias como "Opus One" e
outras tornava o show mais frenético. Os dois tipos eram frequentemente tocados
alternadamente nos salões de baile, nas rádios e nos clubes. Geralmente uma execução
rápida seria seguida por uma balada.
É muito justo dizer que o Swing
realmente dominou o meio social. A música se tornou uma constante de todos os
eventos, desde as casas noturnas mais chiques de Nova York até os bailes de
formatura das escolas.
Toda obra musical tem suas
características próprias: as notas utilizadas, as estruturas melódicas e
rítmicas, o significado formal e estético, a identidade que permite reconhecer
a natureza, o gênero, o estilo, a época e o próprio lugar onde se criou.
Música de insuperável
espontaneidade de criação e grande autonomia em termos de liberdade, o jazz tem
no ritmo o caráter essencial e determinante de sua manifestação. E é do ritmo
que deriva o Swing uma espécie de arroubo vital do jazz, e que encontra nesta
música a sua mais sólida referência.
Assim, como música essencialmente
rítmica com um forte elemento de balanceio na maneira de tocar, o jazz exige de
seu instrumentista aquilo que Jorge Guinle conceituava como “tensão rítmica”,
ou Swing, por meio de fraseado apropriado, com acentuações deslocadas do ritmo
de base e liberdade no desenho melódico, sem nunca, porém, deixar de sentirmos o
“beat(3) fundamental”.
O Swing é também realizado pelas
pequenas defasagens nas pulsações regulares do ritmo. Seu poder, na expressão
da música do jazz é o de constituir o elemento fundamental que dá vida e
energia ao discurso improvisatório do jazzman.
Poderíamos lembrar a frase de
Duke Ellington, segundo a qual: ―“Nenhum texto musical é um Swing. Não se pode
escrever um Swing porque ele é aquilo que sensibiliza o público e não há Swing
enquanto a nota não soar. O Swing é um fluido e apesar de uma orquestra ter
tocado um trecho quatro vezes, pode acontecer que só suingue na quinta”. No
entanto, convém lembrar que todo músico de jazz sabe como extrair de sua voz ou
seu instrumento um verdadeiro Swing. Pode ser difícil para alguns ou
extraordinariamente simples para um músico como Louis Armstrong. Repletos de
alegria vital e de ritmo, a música e o canto de Armstrong, segundo o crítico
Leonard Feather, mesmo se recitasse o catálogo telefônico de New York, estaria
fazendo Swing.
É inevitável considerar ainda que
o Swing seja o que dá o peso, que confere a efetiva força rítmica à música
improvisada. E quando se pensa nele e em suas relações com as estruturas
musicais, constata-se que pode expressar-se dentro de um ritmo simples como o
2/2 ou 4/4, ou também sobre o ritmo de 5/4 ou 6/8. As big bands adotavam e
ainda adotam o compasso 4/4 de propriedade mais dançante. O interessante é que
o Swing, como tudo que deriva do jazz, nasceu de uma mistura de ritmos
africanos e das linguagens rítmicas da música ocidental. Este conceito, este
elemento sempre vital, vivo, constitui o âmago da música afro-americana e do
jazz. Expressão de difícil precisão, Joachim Berendt escreveu: ― “Muita coisa
foi escrita a respeito do Swing; nenhuma teoria, porém, não se conseguiu defini-lo
claramente”.
Para Charles Delaunay ( ⃰1911 / †1988) um escritor francês,
um dos primeiros sérios críticos e historiador do jazz, co-fundador e líder de
longa data do Hot Club de France, dizia: ― “O Swing é o elemento vital do jazz,
e sem ele não existiria a verdadeira música jazzística: ― Diríamos que o Swing
confere à nota musical uma espécie de mobilidade no ritmo, e que se traduz por
uma grande intensidade de vida”.
Poucos são os termos da linguagem
do jazz tão ligados ao seu universo e à sua significação como o do Swing. Com
efeito, pode-se considerar que essa noção tem sido a maior e a mais constante
presença de assinalável importância para a morfologia e a estética do jazz.
Disso tudo podemos concluir que é
mais fácil e agradável ouvi-lo do que tentar explicá-lo.
Por isso podemos ouvir as duas
canções citadas como “estopim” do Swing:
MOTEN SWING (Bennie Moten
/ Buster Moten) com a Bennie Moten's Kansas City Orchestra: Hot Lips Page, Joe
Keyes, Prince "Dee" Stewart (tp), Dan Minor (tb), Eddie Durham
(v-tb,gt,arranjo), Eddie Barefield (cl,sa), Jack Washington (sbar), Ben Webster
(st), Count Basie (pi), Leroy "Buster" Berry (gt), Walter Page (bx), Willie
McWashington (bat) e Bennie Moten (direção) – Camden, NJ, 13/dezembro/1932.
IT DON'T MEAN A THING (IF IT
AIN'T GOT THAT SWING (Duke Ellington)
Duke Ellington And His Famous
Orchestra: Arthur Whetsel, Freddy Jenkins, Cootie Williams (tp), Joe Nanton,
Lawrence Brown (tb), Juan Tizol (v-tb), Barney Bigard (cl), Johnny Hodges (sa),
Harry Carney (sbar), Duke Ellington (pi), Fred Guy (bj), Wellman Braud (bx),
Sonny Greer (bat) e Ivie Anderson (vcl) - New York, 2/fevereiro/1932.
(1)
RIFF―palavra criada pelos músicos de Jazz para
designar uma frase curta, possuindo de 2 a 4 compassos, de estrutura simples e
repetida com relativa frequência, sendo uma herança da escola de Kansas City e foi
adotada plenamente pela escola Swing e de prática consagrada pelas big bands.
(2)
ALL AMERICAN RHYTHM SECTION - nome dado à seção
rítmica da banda de Count Basie, tida como sendo o padrão norte-americano do
swing, do beat. Composta pelo próprio Basie (⁕1904
†1984) ao piano, Walter Page
(⁕1900 †1957) ao contrabaixo, Freddie
Green (⁕1911 †1987) à guitarra e pelo baterista Jo Jones (⁕1911 †1985).
O grupo esteve reunido de 1935 a 42 quando Page deixou a orquestra sendo
substituído por Rodney
Richardson, época em que Jo
Jones também se desliga do
grupo.
(3)
BEAT - palavra inglesa que designa os tempos ou
batidas de um compasso musical e que se emprega no Jazz de modo mais enfático
como sinônimo de pulsação rítmica. Um músico ou banda que tem BEAT significa
que tem balanço, swing.