Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels)*in memoriam*,, Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

27 janeiro 2021

 Série: Histórias do Jazz

NOVA ORLEANS E A FORMAÇÃO DO JAZZ (final)

 O termo "Jazz" (no início, muitas vezes soletrado "jass") não se tornou popular até meados e final da década de 1910, quando os músicos de Nova Orleans ganharam destaque em outras partes dos EUA e o estilo de Nova Orleans precisava de um novo nome para se diferenciar do ragtime nacionalmente popular. Antes disso, o estilo de Nova Orleans era frequentemente chamado simplesmente de ragtime junto com termos locais como "hot music" e "spicy music” (música picante). Sidney Bechet nascido em 1897 na cidade continuou a chamar sua música de "ragtime" ao longo de sua vida, falecendo em 1959.

Na década de 1890, um homem chamado Poree contratou uma banda liderada pelo cornetista Buddy Bolden, muitos músicos, bem como historiadores do Jazz, consideram ser o primeiro músico de Jazz proeminente. A banda consistia em música principalmente para dança.

Tudo indica que não teve nenhuma formação musical, mas todas as informações prestadas sobre ele, através de testemunhas, foram unânimes em afirmar que sua personalidade musical era muito forte, pela maneira como tocava seu instrumento e pela dinâmica que impunha às execuções de sua banda. O repertório incluía as tradicionais marchas, polcas, mazurcas e ainda o ragtime, blues e formas de dança como o one step, two step e ainda o slowdrag. Tudo leva a crer que Buddy Bolden tenha sido o chefe de orquestra que melhor soube trabalhar o gênero ragtime cultuado pelos pianistas de Nova Orleans. A formação da linha melódica polifônica executada pelo cornetim, clarinete e trombone foi muito bem explorada por Bolden e ao que tudo indica muito apreciada e imitada por outras bandas. Isto já era meio caminho para a consolidação do estilo desta banda como sendo música de Jazz e a consagrar Bolden como músico pioneiro.

Bunk Johnson (1879 †1949) cornetista que integrou o grupo de Bolden entre os anos de 1895 e 1899, afirmou em seu depoimento registrado em 1945, dentre outras coisas o seguinte: — “Buddy não lia uma só nota, mas tocava realmente muito bem. Tocávamos em paradas e carroças de anúncios e... prossegue o tímido Bunk, desculpem a expressão também em bordéis. Juntos fizemos muitos blues famosos e antes de Buddy ter enlouquecido, nós matamos todas as grandes bandas de Nova Orleans. O que fez com que nossa King Bolden Band fosse a primeira a tocar Jazz foi o fato de ninguém alí saber ler nenhuma nota de música, criávamos tudo na expontaneidade. Posso garantir a todos que fomos os primeiros a tocar Jazz na cidade ou em qualquer outra parte do mundo”. Infelizmente Bolden não deixou um só registro. Nascido em Nova Orleans em 1868 ou 1877 e os historiadores além desta dúvida ainda discutem que tenha sido também barbeiro. Devido ao consumo excessivo de bebida alcoólica Bolden foi tendo problemas mentais até que certa vez no dia 5 de março de 1907 em pleno desfile de rua surtou tendo um ataque de nervos que o levou a ser internado no — Insane Asylum of Lousiana na cidade de Jackson de onde nunca mais saiu até seu falecimento a 4 de novembro de 1931.

O povo creole(1) de Nova Orleans também contribuiu muito para a evolução da forma de arte, embora sua própria música tenha sido fortemente influenciada pelo trabalho pioneiro de Bolden. Músicos nascidos em Nova Orleans, como King Oliver, Louis Armstrong, Sidney Bechet e Jelly Roll Morton, todos relembraram a influência que Bolden teve na formação da música de Nova Orleans.

A música afro-americana começou a incorporar motivos musicais afro-cubanos no século XIX, quando a habanera (contradanza cubana) ganhou popularidade internacional. A habanera foi a primeira música escrita ritmicamente baseada em um motivo africano.

Por mais de um quarto de século em que o cakewalk, o ragtime, blues e o pré-Jazz estavam se formando e se desenvolvendo é bem razoável supor que os ritmos caribenhos tenham tido alguma influência, baseados em danças caribenhas que seriam executados na Praça do Congo(2) em Nova Orleans pelos escravos.

O músico Jelly Roll Morton, afirmou em seu depoimento para a Library of Congress em 1938 considerou a habanera um ingrediente essencial do Jazz. O ritmo habanera pode ser ouvido em sua mão esquerda em canções como The Crave (1910, gravada em 1938). Morton afirmou: ― "Agora, em uma das minhas primeiras músicas ― Nova Orleans Joy Blues, você pode notar o tom espanhol”.

Podemos ouvir Nova Orleans Joy Blues: Jelly Roll Morton piano solo - Richmond, Indiana, 17/julho/1923.

Embora as origens exatas da sincopação do Jazz nunca sejam bem conhecidas, há evidências de que o ritmo habanera estava lá em sua concepção.

Buddy Bolden usava o primeiro padrão de bumbo sincopado para se desviar da marcha batida das “brass bands” ― uma métrica usada no jazz criada pelos afro-americanos. The Big Four – era a chamada técnica de acentuar a segunda e quarta batida de uma marcha, dando um cunho saltitante altamente propício à dança.

A principal inovação de Morton dizia respeito à fusão da sincopação do ragtime com as tonalidades e harmonias do blues. Ele procurou, enriquecer o blues com melodias vistosas com a euforia do ritmo ragtime. A improvisação desempenhou um papel na música de Morton, mas o pianista também considerava altamente a composição escrita. A música de Morton era baseada em uma compreensão complexa de ritmo, melodia e harmonia.

Nascido em 1873, George Vital “Papa Jack” Laine representa o que melhor um músico branco fez de importante e influente atuando na Nova Orleans do século XIX. Às vezes referido como o "pai do jazz branco". Embora não seja baseada na improvisação, as bandas de música de Laine forneceram aos New Orleanians brancos (e alguns creoles de pele mais clara) a oportunidade de aprender um instrumento, bem como familiarizar-se com o repertório das brass band, as bandas marciais.

Praticamente todos os grandes músicos de jazz brancos de Nova Orleans dos anos 1910 e na década de 1920 cumpriram mandato em uma das bandas de Laine, criando um legado de bandas de metais. Como empreendedor, Laine organizou cinco bandas diferentes, todas sob o apelido de "Reliance".

Muito da música de Nova Orleans tem sua dívida com as primeiras bandas marciais, mesmo aquelas anteriores ao nascimento da música de Jazz. No final do século 19, bandas marchavam frequentemente pelas ruas da cidade em desfiles. Algumas das primeiras como Excelsior, Onward e Olympia.

A história da banda marcial em Nova Orleans é rica, com várias bandas se apresentando em praticamente todos os grandes eventos sociais que a cidade tinha a oferecer. Elas se apresentavam em funerais, piqueniques, carnavais, eventos políticos e desfiles. A relação entre bandas de Jazz e bandas de música é de co-influência. As bandas de Jazz desta época começaram a ir além dos limites do compasso 6/8 que as bandas utilizavam marchando. Em vez disso, as bandas começaram a incorporar um estilo conhecido como "ragging" ― esta técnica implementou a influência do ragtime de compasso 2/4. Por sua vez, as primeiras bandas de Jazz de Nova Orleans influenciaram a execução das bandas marciais, que por sua vez começaram a improvisar com mais frequência. Novamente, mais uma indicação de que a música Jazz é um símbolo de liberdade.

 

(1) CREOLE - designação dada ao mestiço de raça negra com a branca de origem francesa ou espanhola. Em Nova Orleans os CREOLES possuíam um quarteirão reservado e até hoje preservado ― Quartier Latin ou French Quarter. De uma aparência geral julgavam-se superiores aos negros, mas eram igualmente discriminados pelos brancos. De qualquer maneira era uma classe de maiores oportunidades frequentando escolas e com maior poder econômico. Os músicos CREOLES contribuíram sobremodo na criação do Jazz junto com os negros, tais como: Alphonse Picou, Alcide Pavageau, Sidney Bechet, Armand Piron, Barney Bigard, Lorenzo Tio, Emmanuel Perez, Albert Nicholas e outros...

(2) PRAÇA DO CONGO - designação popular e oficiosa de um campo vizinho da Rampart Street em Nova Orleans (Congo square), onde a partir de 1817 uma lei bastante permissiva permitiu a reunião dos escravos aos domingos, com o consentimento para dançar e cantar suas tradições, práticas e ritos africanos como a bamboula, o congo e o voodoo. Empregavam tambores improvisados de todos os tipos e curiosos objetos como a queixada de burro. Os homens dançavam em grupos circulares com muitos movimentos e batidas dos pés e as mulheres entoavam o coro. Chamou-se inicialmente de Circus Square e hoje faz parte do parque Louis Armstrong sob o nome de Beauregard Square.

3 comentários:

Anônimo disse...

Estimado amigo MÁRIO JORGE:

Boa e precisa sequência do livro "História do JAZZ", com apoio em discografia de época definindo as etapas do desenvolvimento da ARTE POPULAR MAIOR.
Mais uma vez PARABÉNS ! ! !

APÓSTOLO





coneXiónes disse...

Parabéns..!!!.

Carlos Tibau disse...

Caro amigo.
Sensacional. Parabéns.
Forte abraço com saúde