Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

19 outubro 2018



          Série    PIANISTAS   DE   JAZZ
Algumas  Poucas  Linhas  Sobre  o  Piano  e  os  Pianistas
57ª  Parte   -   I  

(49)(a)    DAVE  BRUBECK        Um  Formador de Público       Resenha Longa 

Estamos em outubro de 2018 e há pouco mais de 33 anos, em 03 de abril de 1985, gravei no estúdio 1 da TUPÍ-FM, Rio de Janeiro, programa “JAZZ ESPETACULAR” transmitido no dia 07 de abril seguinte, produzido e apresentado por sua titular Ana Lúcia, um especial sobre DAVE BRUBECK.
Escreví o roteiro, escolhí os temas a serem tocados (10 no total = “Jeepers Creepers”, “Summer On The Sound”, “Tokio Traffic”, “Anything Goes”, “Love For Sale”, “Unisphere”, “Cable Car”, “Cassandra”, “Estrellita” e “Movin’Out”), fornecí os LP’s e participei da locução. É da gravação desse programa que extrai boa parte do texto que se segue, claro que com algumas atualizações de 1985 até o presente.
Quando da realização desse programa BRUBECK já havia estado no Brasil em 1978, apresentando-se no Rio de Janeiro em 03 oportunidades, sempre em quarteto e com seus filhos Darius, Chris e Dan: em 25/março no Hotel Quitandinha e na Escola de Música nos dias 29/março e 02/abril.

David “Dave” Warren Brubeck, artisticamente DAVE BRUBECK, pianista, compositor e líder de “combos”, nasceu no dia 06 de dezembro de 1920 em Concord, Califórnia, vindo a falecer na véspera de completar 92 anos em 05 de dezembro de 2012 em Norwalk, Connecticut, vitimado por uma parada cardíaca, ocasião em que, acompanhado por seu filho Darius, dirigia-se para consulta com seu cardiologista.
BRUBECK tem sua obra destacada por três características: (a) o trabalho de divulgação nos “colleges”, formando público para o JAZZ, (b) a permanente utilização do piano ancorada no treinamento do clássico e (c) a busca e utilização das tonalidades e dos contrastes rítmicos, além das métricas, pouco usuais.
Sua esposa e companheira permanente, além de incentivadora e parceira musical (letrista), foi Iola Whitlok, com quem casou-se em setembro de 1942 e com ela alcançando os 70 anos de matrimônio pouco antes dele falecer; BRUBECK foi sepultado no cemitério de Umpawaug, em Redding, Connecticut. Iola morreu pouco mais de 01 ano após, de câncer e em 12 de março de 2014 em Wilton, Connecticut.
Quatro dos seis filhos do casal tornaram-se músicos profissionais: o mais velho, Darius, pianista, produtor e professor; Dan percussionista; Chris compositor e multi-instrumentista; Mathew, o mais novo, violoncelista. Michael, um quinto filho, faleceu em 2009. Os filhos músicos em muitas ocasiões apresentaram-se e gravaram com o pai. A família de BRUBECK (originalmente “Brodbeck” de origem suiça) “respirava” música por parte de Elizabeth (tratada em família com o “Ivey”), a mãe, que havia estudado piano na Inglaterra e tinha a intenção de ser uma “pianista de concertos” para auxiliar na renda familiar; com ela BRUBECK teve suas primeiras aulas de piano aos 04 anos e violoncelo aos 09, mas sem pensar em carreira na música, ainda que seus irmãos mais velhos, Henry e Howard, trilhassem esse caminho. O pai foi um rancheiro e com ele BRUBECK adquiriu sua paixão pela montaria, inclusive e mais tarde como motivo para ritmos e andamentos pouco usuais.
BRUBECK cursou a “University Of Pacific” (à época era o “College Of The Pacific”) em Stockton, cidade de seu estado natal, para estudar veterinária e antes de voltar-se para o estudo musical.
BRUBECK jamais se interessou em estudar métodos e queria apenas aprender a compor melodias e, porisso, não aprendeu a ler partituras; sempre alegava dificuldades de visão durante suas aulas de piano, quase chegando a ser expulso da faculdade, quando um de seus professores descobriu que ele não sabia ler partituras; outros professores o defenderam face ao seu talento no domínio da harmonia e do contraponto. Receando que a permanência de BRUBECK pudesse acarretar prejuízo para a instituição, a “University Of The Pacific” acabou concedendo-lhe a diplomação em 1942, sob a condição de que ele jamais se tornasse professor de piano.
Após formar-se e nesse mesmo 1942 ele ingressou no exército, U.S.Army, servindo sob o comando de George Patton durante a Batalha do Bulge em Ardennes, onde conheceu seu futuro parceiro, o saxofonista Paul Desmond.
                                                                Observação
Durante o período de serviço militar BRUBECK viu cenas que o constrangeram, pelo  que  conhecia  dos  “10 Mandamentos”.  Muito anos  mais tarde,  por  volta  de  1980,  ele  converteu-se ao catolicismo, entrando para a  Igreja Católica  em 1996 e  em 2006   recebeu  medalha   da  “Universidade  de  Notre Dame”,  a  mais  antiga  e prestigiada honra dada aos católicos américa nos, ocasião em que se apresentou para a turma de 2006.

Desligando-se do serviço militar retornou aos estudos no “Mills Colege” em Oakland, onde Darius Milhaud o introduziu no mundo das fugas e contrapontos, das orquestrações e arranjos, cunhando-lhe toda uma obra futura. Chegou a receber umas poucas aulas e lições de Arnold Schoenberg na prestigiosa “UCLA”, o que o levou a penetrar no mundo da teoria e prárica da denominada “música moderna” mas, esse interregno BRUBECK / Schoenberg, logo se findou por discordâncias musicais. Completou seus estudos com Milhaud, após o que criou seu primeiro e efêmero octeto em 1949 com a participação de Cal Tjader e Paul Desmond. Sem obter grande sucesso com essa formação, também sua primeira decepção, iniciou um trio com dois antigos membros do octeto (sem Desmond), tampouco sem um mínimo sucesso.
Em 1951 e surfando no Hawaí BRUBECK sofreu acidente com sério problema (pescoço e coluna), recuperando-se sómente após alguns meses, mas tendo como sequela problema que anos mais tarde afetou suas mãos, sua maneira de tocar acordes em bloco, maneira já complexa pelas viagens nos “tempos”.
Ainda assim e finalmente nesse mesmo ano de 1951 ele organizou o “Dave Brubeck Quarteto” (BRUBECK/piano, Paul Desmond/sax.alto, Bob Bates/contrabaixo e Joe Dodge/bateria), tornando-se o "quarteto residente" do night club "Black Hawk" de San Francisco.
Iniciou suas apresentações nos “campus dos colleges”, o que lhe granjeou enorme popularidade, além de formar público jovem para o JAZZ e, mais ainda, de permitir as gravações pelo selo “Fantasy” dos álbuns "Jazz At Oberlin" (1953) e “Jazz At The College Of The Pacific” (1953), assim como “Jazz To College” (1954), seu primeiro na Columbia Records.
Em 1954 ele foi capa da prestigiosa revista “TIME” (lembrando-se que foi o segundo músico de JAZZ a receber esse foco depois, claro, do grande LOUIS ARMSTRONG em 1949).
BRUBECK que sempre nutriu admiração por Duke Ellington (paralelamente à sua paixão pela música erudita), declarou na ocasião em entrevista que tal homenagem deveria caber a Duke Ellington;   consta que este foi ao hotel onde BRUBECK estava hospedado e cumprimentou-o (coisa de “gigantes” humanos).
BRUBECK prosseguiu atuando com Paul Desmond e mais adiante fez gravações com Gerry Muligan .   Mais adiante indicamos as formações de BRUBECK ao longo dos anos, até o derradeiro quarteto com o saxofonista e flautista Bobby Militello, o contrabaixista Michael Moore e o baterista Randy Jones.
A lista de músicos componente do(s) quarteto(s) de BRUBECK incluiu ao longo dos anos: Paul Desmond claro, Bob Bates, Joe Dodge, Ron Crotty, Lloyd Davis, Joe Morello, Norman Bates, Eugene “Gene” Wright, Gerry Mulligan, Jack Six, Alan Dawson, seus filhos Darius, Chris e Dan Brubeck, Bobby Militello, Alan Dankworth, Michael Moore e Randy Jones.
A seguir as formações do quarteto ao longo dos anos.

1951–1956 BRUBECK/piano, Bob Bates/baixo, Desmond/sax.alto e Joe Dodge/ bateria.

1953
BRUBECK/piano, Desmond/sax.alto, Ron Crotty/baixo e Lloyd Davis/bateria.

1956–1958
BRUBECK/piano, Desmond/sax.alto, Norman Bates/baixo e Joe Morello/ bateria (este foi conhecido por BRUBECK enquanto atuava com a grande Marian McPartland).

1958-1968
BRUBECK/piano, Desmond/sax.alto, Gene Wright/baixo e Joe Morello/ bateria: Eugene (Gene) Wright uniu-se ao quarteto em 1958 para temporada na Ásia e na Europa promovida pelo Departamento de Estado americano. No final dos anos da década de 1960 BRUBECK cancelou inúmeras apresentações e contratos em clubes e festivais, por seus donos/gerentes não aceitarem grupos “integrados” (com negros); chegou a cancelar apresentações na televisão sempre que a câmera filmava o quarteto sem foco em Wright. No início dos anos 1960 o clarinetista Bill Smith, amigo pessoal de BRUBECK desde os anos 1940 e até o final da sua carreira, substituiu o saxofonista Paul Desmond em numerosas apresentações e na gravação de um álbum com composições de Smith.

1968-1972
BRUBECK/piano, Alan Dawson/bateria, Gerry Mulligan/sax.barítono e Jack Six/ baixo. Em outubro de 1972 Desmond participou da gravação do álbum “We’re All Together Again For The First Time”.

1972–1978
BRUBECK/piano, Chris Brubeck/baixo, Dan Brubeck/bateria e Darius Brubeck/ teclados.

1976–1977
BRUBECK/piano, Desmond/sax.alto, Joe Morello/bateria e Gene Wright/baixo. Gra-vação do álbum comemorativo dos 25 Anos do quarteto.

1977–Início dos anos 2000
BRUBECK/piano, Chris Brubeck/baixo, Dan Brubeck/ bateria e Darius Brubeck/teclados.
1978–1982
BRUBECK/piano, Jerry Bergonzi/sax.tenor, Chris Brubeck/baixo, Butch Miles/ bateria.

Início dos anos 2000 a 2012
BRUBECK/piano, Randy Jones/bateria, Bobby Militello/palhetas e Michael Moore/ baixo.

Com a formação BRUBECK / Paul Desmond / Gene Wright / Joe Morelo, a que mais se manteve unida e famosa, gravou, excursionou e colheu sucessos. Gravou em 1959 com o álbum “Time Out” para o selo “Columbia/Legacy” a composição de Paul Desmond, "Take Five", que de imediato tornou-se campeã de vendagem(mais de 01 milhão de cópias vendidas), constituindo-se ainda hoje e decorrido mais de meio século, um ícone do JAZZ.
É importante saber-se que nos Estados Unidos o dia 04 de maio é popularmente conhecido como o “Dave Brubeck Day", já que “5/4” é o compasso da composição “Take Five” de Paul Desmond e a notação comum desse dia = mês 5 dia 4.
O álbum com essa composição continha, além da mesma em “5/4”, outros temas então inéditos, todos com andamentos e métricas não usuais como, por exemplo, “Blue Rondo À La Turk” em “9/8”, “Everybody’s Jumpin” em “6/4” e outros.
Nesse e em outros álbuns as incursões de BRUBECK pelos “tempos” incluem "Pick Up Sticks" em “6/4”, "Unsquare Dance" em “7/4” e "World's Fair" em “13/4”, como exemplos do “songbook brubeckiano”
No quarteto e entre BRUBECK e Desmond desenvolveu-se, com o passar dos anos, um entrosamento musical e humano perfeito (se observarmos as sucessivas fotos de ambos, poderemos notar que até fisicamente foram assemelhando-se).
Prosseguiremos com BRUBECK

Um comentário:

MARIO JORGE JACQUES disse...

Salve grande APÓSTOLO e suas resenhas sobre pianistas. Sua ausência foi sentida e esperamos suas oportunas contribuições grande abraço