Escreví o roteiro, escolhí os temas a serem tocados (10 no total = “Jeepers Creepers”, “Summer On The Sound”, “Tokio Traffic”, “Anything Goes”, “Love For Sale”, “Unisphere”, “Cable Car”, “Cassandra”, “Estrellita” e “Movin’Out”), fornecí os LP’s e participei da locução. É da gravação desse programa que extrai boa parte do texto que se segue, claro que com algumas atualizações de 1985 até o presente.
Quando da realização desse programa BRUBECK já havia estado no Brasil em 1978, apresentando-se no Rio de Janeiro em 03 oportunidades, sempre em quarteto e com seus filhos Darius, Chris e Dan: em 25/março no Hotel Quitandinha e na Escola de Música nos dias 29/março e 02/abril.
David “Dave” Warren Brubeck, artisticamente DAVE BRUBECK, pianista, compositor e líder de “combos”, nasceu no dia 06 de dezembro de 1920 em Concord, Califórnia, vindo a falecer na véspera de completar 92 anos em 05 de dezembro de 2012 em Norwalk, Connecticut, vitimado por uma parada cardíaca, ocasião em que, acompanhado por seu filho Darius, dirigia-se para consulta com seu cardiologista.
BRUBECK tem sua obra destacada por três características: (a) o trabalho de divulgação nos “colleges”, formando público para o JAZZ, (b) a permanente utilização do piano ancorada no treinamento do clássico e (c) a busca e utilização das tonalidades e dos contrastes rítmicos, além das métricas, pouco usuais.
Sua esposa e companheira permanente, além de incentivadora e parceira musical (letrista), foi Iola Whitlok, com quem casou-se em setembro de 1942 e com ela alcançando os 70 anos de matrimônio pouco antes dele falecer; BRUBECK foi sepultado no cemitério de Umpawaug, em Redding, Connecticut. Iola morreu pouco mais de 01 ano após, de câncer e em 12 de março de 2014 em Wilton, Connecticut.
Quatro dos seis filhos do casal tornaram-se músicos profissionais: o mais velho, Darius, pianista, produtor e professor; Dan percussionista; Chris compositor e multi-instrumentista; Mathew, o mais novo, violoncelista. Michael, um quinto filho, faleceu em 2009. Os filhos músicos em muitas ocasiões apresentaram-se e gravaram com o pai. A família de BRUBECK (originalmente “Brodbeck” de origem suiça) “respirava” música por parte de Elizabeth (tratada em família com o “Ivey”), a mãe, que havia estudado piano na Inglaterra e tinha a intenção de ser uma “pianista de concertos” para auxiliar na renda familiar; com ela BRUBECK teve suas primeiras aulas de piano aos 04 anos e violoncelo aos 09, mas sem pensar em carreira na música, ainda que seus irmãos mais velhos, Henry e Howard, trilhassem esse caminho. O pai foi um rancheiro e com ele BRUBECK adquiriu sua paixão pela montaria, inclusive e mais tarde como motivo para ritmos e andamentos pouco usuais.
BRUBECK cursou a “University Of Pacific” (à época era o “College Of The Pacific”) em Stockton, cidade de seu estado natal, para estudar veterinária e antes de voltar-se para o estudo musical.
BRUBECK jamais se interessou em estudar métodos e queria apenas aprender a compor melodias e, porisso, não aprendeu a ler partituras; sempre alegava dificuldades de visão durante suas aulas de piano, quase chegando a ser expulso da faculdade, quando um de seus professores descobriu que ele não sabia ler partituras; outros professores o defenderam face ao seu talento no domínio da harmonia e do contraponto. Receando que a permanência de BRUBECK pudesse acarretar prejuízo para a instituição, a “University Of The Pacific” acabou concedendo-lhe a diplomação em 1942, sob a condição de que ele jamais se tornasse professor de piano.
Após formar-se e nesse mesmo 1942 ele ingressou no exército, U.S.Army, servindo sob o comando de George Patton durante a Batalha do Bulge em Ardennes, onde conheceu seu futuro parceiro, o saxofonista Paul Desmond.
Observação
Ainda assim e finalmente nesse mesmo ano de 1951 ele organizou o “Dave Brubeck Quarteto” (BRUBECK/piano, Paul Desmond/sax.alto, Bob Bates/contrabaixo e Joe Dodge/bateria), tornando-se o "quarteto residente" do night club "Black Hawk" de San Francisco.
Iniciou suas apresentações nos “campus dos colleges”, o que lhe granjeou enorme popularidade, além de formar público jovem para o JAZZ e, mais ainda, de permitir as gravações pelo selo “Fantasy” dos álbuns "Jazz At Oberlin" (1953) e “Jazz At The College Of The Pacific” (1953), assim como “Jazz To College” (1954), seu primeiro na Columbia Records.
Em 1954 ele foi capa da prestigiosa revista “TIME” (lembrando-se que foi o segundo músico de JAZZ a receber esse foco depois, claro, do grande LOUIS ARMSTRONG em 1949).
BRUBECK que sempre nutriu admiração por Duke Ellington (paralelamente à sua paixão pela música erudita), declarou na ocasião em entrevista que tal homenagem deveria caber a Duke Ellington; consta que este foi ao hotel onde BRUBECK estava hospedado e cumprimentou-o (coisa de “gigantes” humanos).
BRUBECK prosseguiu atuando com Paul Desmond e mais adiante fez gravações com Gerry Muligan . Mais adiante indicamos as formações de BRUBECK ao longo dos anos, até o derradeiro quarteto com o saxofonista e flautista Bobby Militello, o contrabaixista Michael Moore e o baterista Randy Jones.
A lista de músicos componente do(s) quarteto(s) de BRUBECK incluiu ao longo dos anos: Paul Desmond claro, Bob Bates, Joe Dodge, Ron Crotty, Lloyd Davis, Joe Morello, Norman Bates, Eugene “Gene” Wright, Gerry Mulligan, Jack Six, Alan Dawson, seus filhos Darius, Chris e Dan Brubeck, Bobby Militello, Alan Dankworth, Michael Moore e Randy Jones.
A seguir as formações do quarteto ao longo dos anos.
1951–1956 BRUBECK/piano, Bob Bates/baixo, Desmond/sax.alto e Joe Dodge/ bateria.
1953
BRUBECK/piano, Desmond/sax.alto, Ron Crotty/baixo e Lloyd Davis/bateria.
1956–1958
BRUBECK/piano, Desmond/sax.alto, Norman Bates/baixo e Joe Morello/ bateria (este foi conhecido por BRUBECK enquanto atuava com a grande Marian McPartland).
1958-1968
BRUBECK/piano, Desmond/sax.alto, Gene Wright/baixo e Joe Morello/ bateria: Eugene (Gene) Wright uniu-se ao quarteto em 1958 para temporada na Ásia e na Europa promovida pelo Departamento de Estado americano. No final dos anos da década de 1960 BRUBECK cancelou inúmeras apresentações e contratos em clubes e festivais, por seus donos/gerentes não aceitarem grupos “integrados” (com negros); chegou a cancelar apresentações na televisão sempre que a câmera filmava o quarteto sem foco em Wright. No início dos anos 1960 o clarinetista Bill Smith, amigo pessoal de BRUBECK desde os anos 1940 e até o final da sua carreira, substituiu o saxofonista Paul Desmond em numerosas apresentações e na gravação de um álbum com composições de Smith.
1968-1972
BRUBECK/piano, Alan Dawson/bateria, Gerry Mulligan/sax.barítono e Jack Six/ baixo. Em outubro de 1972 Desmond participou da gravação do álbum “We’re All Together Again For The First Time”.
1972–1978
BRUBECK/piano, Chris Brubeck/baixo, Dan Brubeck/bateria e Darius Brubeck/ teclados.
1976–1977
BRUBECK/piano, Desmond/sax.alto, Joe Morello/bateria e Gene Wright/baixo. Gra-vação do álbum comemorativo dos 25 Anos do quarteto.
1977–Início dos anos 2000
BRUBECK/piano, Chris Brubeck/baixo, Dan Brubeck/ bateria e Darius Brubeck/teclados.
BRUBECK/piano, Jerry Bergonzi/sax.tenor, Chris Brubeck/baixo, Butch Miles/ bateria.
Início dos anos 2000 a 2012
BRUBECK/piano, Randy Jones/bateria, Bobby Militello/palhetas e Michael Moore/ baixo.
Com a formação BRUBECK / Paul Desmond / Gene Wright / Joe Morelo, a que mais se manteve unida e famosa, gravou, excursionou e colheu sucessos. Gravou em 1959 com o álbum “Time Out” para o selo “Columbia/Legacy” a composição de Paul Desmond, "Take Five", que de imediato tornou-se campeã de vendagem(mais de 01 milhão de cópias vendidas), constituindo-se ainda hoje e decorrido mais de meio século, um ícone do JAZZ.
É importante saber-se que nos Estados Unidos o dia 04 de maio é popularmente conhecido como o “Dave Brubeck Day", já que “5/4” é o compasso da composição “Take Five” de Paul Desmond e a notação comum desse dia = mês 5 dia 4.
O álbum com essa composição continha, além da mesma em “5/4”, outros temas então inéditos, todos com andamentos e métricas não usuais como, por exemplo, “Blue Rondo À La Turk” em “9/8”, “Everybody’s Jumpin” em “6/4” e outros.
Nesse e em outros álbuns as incursões de BRUBECK pelos “tempos” incluem "Pick Up Sticks" em “6/4”, "Unsquare Dance" em “7/4” e "World's Fair" em “13/4”, como exemplos do “songbook brubeckiano”
No quarteto e entre BRUBECK e Desmond desenvolveu-se, com o passar dos anos, um entrosamento musical e humano perfeito (se observarmos as sucessivas fotos de ambos, poderemos notar que até fisicamente foram assemelhando-se).
Um comentário:
Salve grande APÓSTOLO e suas resenhas sobre pianistas. Sua ausência foi sentida e esperamos suas oportunas contribuições grande abraço
Postar um comentário