Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho)*in memoriam*; David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels)*in memoriam*,, Pedro Cardoso (o Apóstolo)*in memoriam*, Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge), Geraldo Guimarães (Gerry).e Clerio SantAnna

Anat Cohen & Marcello Gonçalves Duo @@@@1/5; Didier Lockwood Trio @@@@@ - Blue Note - RJ, 16.11.2017

17 novembro 2017

Anat Cohen e Didier Lockwood são animais selvagens, feras que a gente não pode jamais trancafiar nas jaulas de nossas normalmente tacanhas “generificações”. São espíritos livres, para o bem da música, da arte. Ontem foi uma uma noite de Deus e o Diabo na Terra do Sol, essa é a verdade. Anat é branquela, vem do jazz, mas toca música brasileira com autoridade quase nativa. Boa parte da beleza está nesse “quase”: o que lhe falta de “DNA” em “brasileirice” é justo o que enriquece sua arte: ela jamais emite uma única nota , seja tocando Moacir Santos, Chico Buarque ou choro, que não remeta às fundações do clarinete no ... Jazz: Benny Goodman, Pee Wee Russell, Buddy de Franco, etc. A junção do timbre esplêndido, do fraseado inspirado e sempre bem pensado, o domínio invulgar do dificílimo instrumento (possivelmente, o mais difícil entre as madeiras) e do joie vivre que sua expressividade exala a cada instante, dela fazem um anjo, um anjo do jazz, caído no samba, em deleite daqueles para quem a arte não suporta gavetas, escaninhos, gaiolas. Marcello Gonçalves, um músico, tudo indica, de formação clássica, mas com longevo trânsito no choro e na MPB, ousou deveras, é de reconhecer, ao empunhar, nesse formato camerístico, o violão de sete cordas, em contexto absolutamente heterodoxo para o instrumento. Um acerto e tanto, embora extremamente arriscado. As releituras dos temas de Moacir são, sem duvida, a atratividade mor do set, menos pelo inusitado da minimalista formação, mais pelo luminosidade dos arranjos, milimetricamente estudados e executado com a “imperfeição” que quaisquer Jazz que se preze, exige. Jazz, sim, porque nada haverá que Anat Cohen faça na vida, irrelevante o rótulo, que não seja Jazz. @@@@1/5
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Aqueles milagres do Céu, no entanto, mexeram com os brios do capeta, que, então, tratou de mandar seu emissário, aproveitando um Blue Note, àquela altura, bem mais cheio. O sempre rooted Diego Imbert (contrabaixo forjado na melhor relojoaria suíça) e o prodígio Adrien “Fast Fingers” Moignard, na guitarra, serviram de esteio e interplay venenoso para um Paganini reencarnado, autêntico Fausto, que assombrou a audiência, feita catatônica diante de um virtuosismo indescritível, uma afinação beirando o inacreditável - e de fazer inveja mesmo aos mais destacados solistas da música de concerto -, um controle dinâmico paranormal, e, acima de tudo, escolhas improvisionais SEMPRE acertadas. Para Didier Lockwood, o violino é apenas mais uma parte do seu corpo, um órgão (nele, certamente vital): quem viu o que viu, ontem, sabe que tal não é, nem de longe, clichê. O anúncio de um tributo a Grapelli, no final das contas, fez pensar se o próprio Grapelli, mesmo que ressurgindo 20 vezes, não sairia corado do clube, se ali estivesse, vendo um discípulo que tanto lhe suplantou, e maiusculamente. Houve de tudo: mainstream, cigano, Nuages, uptempo supersônico, blues, Spain (!), Over the Rainbow, violino flat, violino com efeitos, coda com efeitos em loop em instrumento primo, eletrônico. Lockwood, seu inglês sofrível, seu humor-ironia tão tipicamente francês e, claro, o que importa, seu ataque legionário, foram o contraponto infernal que, equilibrado à doçura/malícia  (não menos intoxicating) de Anat, nos levaram ao Nirvana, em plena noite de quinta-feira, 16 de novembro de 2017. Jamais será esquecida. @@@@@

Um comentário:

Ivan Monteiro disse...

Excelente critica!
Parabens!!