Série “PIANISTAS DE
JAZZ”
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas
38ª Parte (final)
Sómente
em 1932 ele aportou em New York, ainda assim como acompanhante da cantora
Adelaide Hall com a qual realizou inúmeras gravações.
Em
21 de março de 1933 TATUM gravou
como titular para o selo Brunswick (discos de 78rpm, uma faixa de cada lado),
causando sensação com “Tea For Two” e “Tiger Rag”, entre outras, cabendo notar
que “Tiger Rag” permanece até hoje no rol das obras primas do JAZZ.
Conta-se que Stéphane Grapelli ao ouvir essa gravação jurava que eram 02
pianistas.
Durante
1935 e até 1937 TATUM radicou-se em
Chicago como pianista no famoso “Three Deuces”, após o que transferiu-se para a
Costa Oeste dirigindo pequena orquestra onde atuou Marshall Royal (saxofone e
clarinete), mais tarde integrante da
banda de Count Basie.
Anteriormente
e até 1938 ele apresentou-se em clubes de ponta desde Hollywood na Flórida
(apresentações no prestigioso “Alabam” e sucesso em concerto no “Paramount
Theatre”), passando por Cleveland no Mississipi (onde também atuou), passando o Tennessee e o Kentucky e retornando até Chicago em Illinois (no
já citado e famoso “Three Deuces”).
Assim
e com 28 anos TATUM já possuía a
fama de melhor pianista da história do JAZZ
de até então, conceito cultivado pelo público, pela crítica e pelos músicos,
que o respeitavam, mesmo sendo TATUM
muito reservado ainda que amável e educado no trato; sempre foi difícil conhecer em detalhes sua
vida pessoal, sua biografia; de certa
forma pode-se atribuir essa “introspecção” à sua invalidez visual, que talvez o
tenha levado a cultivar o hábito de tocar nas madrugadas (“after hours”) em
piano.solo.
Em
1938 TATUM apresentou-se no “Ciro’s”
e no “Paradise Club”, ambos de Londres e com enorme sucesso de público e de
crítica.
Em
1939 ele retorna aos U.S.A. via costa oeste, atuando no Mississipi, no Tennessee,
em Kentucky e ultrapassando Ohio e Pensilvania chegar a New York e seus
melhores clubes: "Café Society
Downtown”, “Onyx Club” e “Kelly’s”.
No
“Café Society” TATUM teve como
público o grande clarinetista e líder de “Big Band” Artie Shaw acompanhado pelo extraordinário
pianista ucraniano Vladimir Horowitz, que ficou impressionado com o “pianismo”
de TATUM, tornando-se desde então um
apaixonado admirador deste. É importante
o texto do livro “O Livro do Jazz – De New Orleans ao Século XXI” (Joaquim E.
Berendt, 4ª Edição,2002, tradução de original alemão) onde assinala que
“com TATUM surgiu um virtuosismo
pianístico comparável àquele dos grandes pianistas da música de concerto –
Rubinsten ou Cherkassy.......as cadências e passagens de velocidade, os arpejos
e a ornamentação da música para piano do fim do século XIX estão presentes em TATUM tanto quanto o mais forte
sentimento de blues................Sua aparição nos clubes de Nova York
gerava uma espécie de culto não apenas
entre jazzistas, pois também pianistas de concerto, como Leopold Godowsky, Wladimir
Horowitz e Walter Gieseking peregrinavam até o Onix Club na famosa "Rua 52", onde TATUM
tocava regularmente....”
Entre
1941 e 1943 e paralelamente às atuações nos melhores clubes da “Big Apple” TATUM
atuou e gravou com orquestras, notadamente ao lado de Joe Thomas (trumpete) e
Edmond Hall (clarinete) para acompanhar o cantor Joe Turner e, também, integrando o grupo composto por
Cootie Williams (trumpete), Coleman Hawkins (tenor), Edmond Hall (clarinete),
Al Casey (guitarra), Oscar Pettiford (contrabaixo) e “Big Sid” Catlett.
Até
o ano de 1943 ele foi, fundamentalmente, um pianista.solo e, a partir desse
ano, passou a atuar em trio, tendo no contrabaixo Slam Stewart e na guitarra
Tiny Grimes (a exemplo de Nat “King” Cole), alcançando então sucesso imediato e
crescente. Foi um marco para esses
parceiros, um alto grau de evolução no
acompanhamento pois, como afirmava o professor e pianista Billy Taylor, “TATUM sózinho era toda uma
orquestra”.
As
gravações desse trio para o selo “MCA” constituiram-se em êxito imediato e
permanentes (obras de colecionadores até hoje) e com TATUM, então, alcançando seu maior nível de popularidade.
Em
1944 (18 de janeiro) e dentro do concerto organizado pela excelente revista
“Esquire” no “Metropolitan Opera House” (New York), em benefício dos soldados
americanos que lutavam no “front” da IIª Guerra Mundial, TATUM apresentou-se ao lado de figuras como Louis Armstrong, Roy
Eldridge, Coleman Hawkins, Jack Teagarden, Barney Bigard, Al Casey, “Big Sid”
Catlet, Oscar Pettiford e Billie Holiday, atuando como solista e
acompanhante - a gravação desse concerto foi destinada aos
“V-Discs” (discos da “vitória"), hoje encontrada no mercado via “gravações
piratas”.
TATUM
substituiu o guitarrista em seu
trio -
Everett Barksdale no lugar de Tiny Grimes -
e tornou-se estrela permanente
“Rua 52”, reduto do “Bebop”, de onde partia em turnês anuais para concertos por
todo o país.
Pode-se
afirmar que a popularidade de TATUM somente não foi maior até o final
dos anos 1940, exatamente pelo advento
do “Bebop” e das novas tendências a este simultâneas, mas na década seguinte, a
dos anos 1950, TATUM retornou ao
mais elevado nível, tanto que em 1953 assinou contrato com Norman Granz (selos
VERVE, NORGRAM, CLEF...), gravando em apenas 03 anos dezenas de discos, todos
com a participação da nata dos músicos
de então: Lionel Hampton, Buddy Rich,
Benny Carter e Roy Eldridge, para citar
alguns.
As
seguidas noitadas de apresentações, as permanentes excursões, o abuso do
álcool, as noites insones tocando e outros excessos, a partir dai iniciaram a
cobrança de juros debilitando a saúde de TATUM, que deveria moderar seu ritmo e estilo de vida. Infelizmente ele se recusou a parar e seguiu
atuando.
Em
15 de agosto de 1956 realizou soberba apresentação para quase 20.000
assistentes no “Hollywood Bowl”.
Com
Ben Webster TATUM registrou em disco
seu derradeiro e excepcional desempenho, no dia 11 de setembro de 1956.
Logo em seguida
e no dia 04 de novembro, TATUM foi internado no “Queen Of Angels Hospital”
de Los Angeles onde, apesar dos constantes cuidados recebidos, veio a falecer
por crise de uremia na semana seguinte (11 de
novembro de 1956) - contava
tão somente 46 anos ! ! !
Em vida TATUM foi admirado e aclamado até por aquele que era seu favorito, "Fats" Waller, contando-se a passagem ocorrida no "Panther Room" do "Sherman Hotel" de Chicago em que "Fats" Waler atuava: parou de repente ante a chegada de TATUM e com voz solene anunciou: "Senhoras e senhores, eu sou um pianista, mas Deus acaba de entrar nesta sala - apresento-lhes o extraordinário ART TATUM !
Entre as dezenas de gravações de ART TATUM destacamos:
- Art Tatum 1934-1940, selo
“Classic Records”, com as primeiras gravações acompanhando a cantora Adelaide
Hall, a célebre “Tiger Rag” e gravações em sexteto
- Art
Tatum, selo “Gigantes do Jazz” para
a coletânea da Abril Cultural, com 12 faixas em diversas formações
- Art
Tatum -
Body And Soul, coleção “Jazz Hour With…”, com 23 faixas gravadas
entre 1938 a1946 em Los Angeles, sendo que 08 dessas faixas foram gravadas para
os “V-Discs”
- Art Tatum, coleção “Os Grandes do Jazz”, com 05 volumes e 72
CD’s, Ediciones del Prado S.A., 1ª Edição, 1996/1997, CD nº 6 dedicado a TATUM, com as faixas “Sweet Lorraine”,
“I’ll Get By”, “I’ll Never Be The Same”, “Elegy”, “Can’t We Be Friends ?”,
“I’ve Got The World On A String”, “I’m Coming Virginia”, “Day In, Day Out”,
“Make Believe”, “Sweet Emaline, My Gal”, “Body And Soul”, “Lover”, “Poor
Butterfly”, “Where Or When”
- Art Tatum, CD nº 85 dedicado
a TATUM, dentro da coleção “The Jazz
Masters – 100 Anos de Swing”, com 03 volumes e 101 CD’s, Ediciones Folio
S.A., 1ª Edição, 1997, 16 faixas, todas
muito boas e muitos “clássicos”: “Tiger
Rag”, “Battery Bounce”, “Bodzy And Soul”, “Sweet Emaline”, “Whit Plenty Of
Money And You” (uma maravilha!), “In The Middle Of Kiss”, “Stomping At The
Savoy” (super dançante), “Hallelujah”, “Oh, You Crazy Moon”, “Make Believe”, “Day
In, Day Out”, “St. Louis Blues”, “Tea For Two”, “I Wish Y Were Twins”, “Get
Happy” e “Sweet Lorraine” - bela seleção
- Piano JAZZ - The History, estojo
com 10 CD’s percorrendo toda a evolução das escolas do piano no JAZZ,
reservando para ART TATUM nada menos
que 11 faixas (“Tiger Rag”, “Over
The Rainbow”, “Rosetta”, “I Got Rhythm”, “Lover”, “Out Of Nowhere”, “Somebody
Loves Me”, “Sweet Lorraine”, “Dancing In The Dark”, “Indiana” e “Just One Of
Those Things”) - uma preciosidade
- Art Tatum – Memories Of You,
selo “Black Lion”, 03 CD’s (“Standards”,
“The V-Discs” e “Tea For Two”), um verdadeiro “curso” de ART TATUM e que resume muito bem a arte
desse gênio das 88, em um total de 55 faixas, sendo difícil destacar as
melhores já que todas são excelentes;
em todo caso citamos “Humoresque” de Dvorak, um primor.
Final -
Retornaremos nos próximos dias com AL
HAIG
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