Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

IN SET COM BRUNO MIGOTTO

13 setembro 2017

O baixista Bruno Migotto é um dos mais atuantes músicos da cena Instrumental brasileira. Seu som está presente no trio do guitarrista Michel Leme, com quem toca desde 2008, nos quintetos dos guitarristas Lupa Santiago e Djalma Lima, e na Soundscape Big Band - trabalhos de pura excelência.
Agora ele é o protagonista, e apresenta seu primeiro disco solo intitulado In Set, um registro autoral que contou com a participação de Michel Leme na guitarra, Alex Buck na bateria e os sopros de Daniel D'Alcantara no trompete, Josué dos Santos e Cassio Ferreira nos saxofones e Jorginho Neto no trombone.
O primeiro time da cena instrumental paulistana.
Para Bruno, In Set é o retrato mais fiel da sua realidade e crença na arte, como afirma no belo encarte do disco, com arte gráfica de Luda Lima.

Bruno Migotto

Alternando entre o contrabaixo acústico e elétrico, o repertório se traduz quase como uma biografia -
das mudanças e incertezas em "Do Fim ao Começo"; a mistura de ritmos em "El Samba como me Gusta" e "Caixote de Surpresas"; a crença em "Paz de Cristo"; da ansiedade transformada em Blues em "Quase Roxo"; e dos insights criativos em "Acidental" e "Canto do Abacate".
Títulos cujas histórias são reveladas brevemente por Bruno em linhas impressas na contracapa do disco.

Com a palavra, Bruno Migotto -

In Set é um disco totalmente autoral. Como você trabalha o processo de composição?
O processo de composição nunca é fácil pra mim, normalmente tudo parte de uma ideia e depois vem o desenvolvimento dessa ideia, que é a parte mais dificil e que leva muito mais tempo. As músicas desse disco foram todas compostas entre 2005 e 2007, e depois de escritas comecei a escrever os arranjos para a formação de septeto, a principio somente para estudo, mas depois de tanto trabalho os escrevendo decidi montar essa formação e toca-los. Em 2009 gravei o disco, que conta com 7 desses arranjos e com os músicos Michel Leme, Alex Buck, Daniel D'Alcântara, Cássio Ferreira, Josué dos Santos e Jorginho Neto.

Nesta sessão você tem a base em trio com guitarra e bateria e uma seção de sopros. Você já tinha pensado nos arranjos sem piano?
Desde que comecei a escrever os arranjos para essa formação sempre pensei neles com um só instrumento de harmonia, no caso a guitarra; assim o músico fica mais à vontade para harmonizar com o solista e interagir. Mas acima de tudo, minha preocupação foi em pensar nos músicos que eu queria que fizessem parte do som, então não escolhi a guitarra, escolhi o Michel Leme, que tem um som único, assim como todos os outros músicos que fizeram parte do disco. Esse é um dos aspectos que mais gosto desse tipo de música, que permite a criação e a improvisação em tempo real. Cada músico que muda, muda também todo o som do grupo e a maneira como os demais músicos tocam e reagem, isso requer uma sensibilidade e entrega total à Música.

Contrabaixo acústico e elétrico - instrumentos de sonoridade e textura tão particulares. Como você os pensa em sua música?
O que realmente acho mais distinto entre os dois instrumentos é a parte técnica, nesse sentido eles são completamente diferentes, a não ser por terem a mesma afinação. Portanto, não é natural que um baixista elétrico toque acústico nem vice versa, tem que estudar os dois separadamente com suas respectivas técnicas e sonoridades. Porém na hora de tocar, musicalmente falando, penso nos dois muito próximos. Minhas maiores referencias como baixista são baixistas acústicos. Depois que comecei a tocar baixo acústico meu jeito de tocar o elétrico mudou completamente, e meu modo de tocar em grupo mudou bastante, e pra melhor, eu acredito. Essa limitação técnica que o baixo acústico traz no começo, acho isso extremamente musical, faz você ser mais criativo com menos informação e também faz você valorizar o mais simples. Hoje em dia acho que um instrumento acaba ajudando e influenciando o outro. Meus estudos hoje também inclui a bateria, e foi desde que me mudei para São Paulo que pude começar a estudar de verdade esse instrumento, que foi minha primeira paixão na música, um instrumento que sempre me ajudou muito como baixista, e musicalmente; também tenho me dedicado bastante ao piano, que tem me ajuda muito em todos os sentidos. Acho extremamente importante para qualquer instrumentista conhecer um pouco de bateria e piano.

Bruno Migotto

O que o fez descobrir o contrabaixo? 
O contrabaixo não foi minha primeira e nem segunda opção. O primeiro instrumento que eu tive foi um teclado, com uns 8 anos de idade mais ou menos, mas não despertou muito meu interesse para estudar na época e logo desencanei; mas foi quando vi uma bateria pela primeira vez na minha frente que meu amor pela música começou de verdade. Eu ficava louco quando via alguém tocando bateria, e queria muito fazer aquilo também (esse amor continua até hoje), porém morava em apartamento e ter uma bateria não era uma opção, a unica coisa que eu sabia era que não queria tocar guitarra, então baseado nas bandas de Rock que eu ouvia na época só me sobrou o baixo.
Aos 11 anos ganhei meu primeiro baixo elétrico, e a partir daí comecei a estudar música cada vez mais, ja sabendo que queria ser músico. Aos 17 fui para São Paulo estudar música e comecei a ouvir cada vez mais Jazz e Música Instrumental, e naturalmente comecei a ter como referencia aquela linguagem e sonoridade do baixo acústico, assim comprei meu primeiro acústico aos 18 anos. Comecei a estudar sozinho mesmo, e logo comecei a trabalhar com o instrumento, e tocar na noite ainda continua sendo minha maior escola, repertórios sempre diferentes e com músicos diferentes.
É muito interessante como as coisas acontecem. Quando comecei a tocar aos 11 anos, nunca imaginei que fosse tocar e carregar um baixo acústico pra lá e pra cá, porém agradeço muito, pois esse instrumento mudou completamente minha maneira de tocar e de ver a música, e também me abriu muitas portas para que eu começasse a tocar Música Instrumental e improvisada com grandes músicos que eram e ainda são minhas referências musicais, e que tenho a honra de ver de perto, aprender e tocar, como os grandes bateristas Bob Wyatt, Edu Ribeiro, Cuca Teixeira, Alex Buck, Nenê, Celso de Almeida, entre tantos outros.

Você é professor no Conservatório Souza Lima, que tem muito foco no Jazz e na Música Instrumental. Você vê potencial na nova geração de músicos para levar esse legado adiante?
Com certeza. Os tempos mudaram bastante por conta da tecnologia e do fácil acesso a informação, o importante é saber como lidar com isso. O perigo é ficar viciado no acúmulo de informações e não se aprofundar em nada direito. Gosto do antigo método de ter um disco e ouvi-lo até cansar, conhecer o máximo possível aquele disco, cantar os solos, saber o que acontece com os outros instrumentos, ouvir a música como um todo e não focar somente no próprio instrumento. E o que parece ser um método infalível para aprender uma linguagem é conhecer a história, estudar os que vieram antes de você, e os que vieram antes daqueles que você admira. Acredito que esse processo tanto de aprender quanto de ensinar deve ser feito em sua maior parte com Música, com som, e não somente com regras e dogmas, afinal ninguém quer virar músico ou se apaixonar pela Música por causa de regras e teorias.

Obrigado Bruno Migotto, e sucesso.
brunomigotto.com/


Bruno Migotto on Myspace.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que bom ver você de volta aqui, Guzz!

Quem sabe essa sua iniciativa seja a retomada que precisamos ter, com os diversos membros e editores revezando-se com opiniões, resenhas e artigos. Os Mestres MaJor, Pedro, o Apóstolo, Nelson e Tibau estão carregando o piano faz tempo, e precisamos dividir com eles o peso de manter o blog "aceso".

Claro que sem a mesma maestria, mas pelo menos fazendo força!

Louvo aqui seu ressurgimento com este belo e extenso artigo, esperando que não seja como neve no verão. E, de novo, que esta sua iniciativa faça com que os demais membros se animem a voltar a publicar também.

Obrigado e forte abraço.

Mau Nah

MARIO JORGE JACQUES disse...

Realmente Guzz ótima "aparição" Grande abraço