Fred Hersch celebra 60 anos com novo CD
Por Luiz Orlando Carneiro, em 12/9/15
No próximo mês de outubro, entre os dias 20 e 25, o pianista
Fred Hersch vai celebrar, no minúsculo palco do Village Vanguard, em Nova York, 60 anos de
uma vida ao mesmo tempo dramática e gloriosa. A matéria de capa da edição de
outubro da revista Downbeat – já disponível na versão digital – tem como título
The Miracle of Fred Hersch. E, em entrevista a Ted Panken, ele anuncia a
publicação, em 2017, de um livro de memórias, Good things happen slowly(Coisas
boas acontecem devagarinho), em colaboração com David Hadju.
Além disso, Hersch está lançando o CD Solo, o seu 12º para a
etiqueta Palmetto, num período de 15 anos. Os dois últimos registros foram Free
flying(2013), em duo com o guitarrista Julian Lage, e Floating (2014), com o
seu notável trio (John Hebert, baixo; Eric McPherson, bateria).
Fred Hersch Solo é o décimo disco do pianista (e compositor)
a sós com um Steinway. E é, segundo ele, uma espécie de presente que dá a si
mesmo por ocasião do seu ingresso na faixa dos sexagenários.
O novo álbum foi gravado numa velha igreja ao norte de Nova
York, em agosto do ano passado, na mesma ocasião em que Hersch foi um dos
concertistas do Windham Chamber Music Festival, ao lado da pianista Simone
Dinnerstein e outros intérpretes da chamada música erudita.
Como sabem os iniciados, a música de Fred Hersch é tão
erudita e tão jazzística (em termos de improvisação e swing) como a arte de
Keith Jarrett e de Brad Mehldau – os outros dois grandes pianistas-recitalistas
do jazz contemporâneo.
Em fevereiro de 2012, no Village Vanguard, ele fez questão
de gravar um set com o seu trio, que foi editado pela Palmetto, seis meses
depois, com o significativo título de Alive at the Vanguard – e não
simplesmente Live at the Vanguard. O ilustre pianista celebrava então o fato de
estar não apenas tocando de novo live (ao vivo), no seu clube preferido, mas de
estar ainda alive (vivo). Em 2008, ele estivera muito perto da morte, em coma,
durante dois meses, com a migração para o seu cérebro do vírus da Aids, com o
qual convive há mais de 30 anos.
Agora, no novo CD, Fred Hersch nos presenteia com uma
espécie de súmula definitiva de sua arte - refinada sem ser arrogante,
brilhante sem ser ostensiva, emotiva sem ser piegas, densa sem ser hermética.
As sete faixas do álbum consistem num recital de pouco mais
de uma hora, começando com a mais longa (12m35), uma junção de Olha Maria e O
grande amor, de Tom Jobim, temas que já tinham sido explorados pelo pianista,
separadamente, em Plays
Jobim (Sunnyside), gravado em 2001, mas só lançado em 2009.
Do book jazzístico propriamente dito, Fred escolheu duas
peças muito conhecidas, bem diferentes, nas quais consegue encontrar caminhos
surpreendentes em termos de oscilações rítmicas e combinações harmônicas:
Caravan (7m40), a composição “oriental” do trombonista Juan Tizol, de 1936, que
logo virou um dos temas marcantes da orquestra de Duke Ellington; In walked Bud
(7m30), um dos achados melódicos mais irresistíveis de Thelonious Monk.
Do chamado
American songbook, o pianista pinçou The song is you (7m50), de Jerome Kern, e
Both sides now (8m), de Joni Mitchell.
De sua pena, Hersch apresenta novas versões magníficas de
Whirl (7m55) – faixa-título de um CD em trio de 2010 – e de Pastorale (8m50) –
peça dedicada a Schumann, registrada anteriormente no álbum Alone at the
Vanguard, editado em 2011, também pela Palmetto.
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