Série “PIANISTAS DE
JAZZ
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas”
8ª Parte
(10) TEDDY WILSON
- O Admirável
Requinte da Simplicidade
(Resenha longa)
Theodore
Wilson, “TEDDY” WILSON, pianista,
arranjador e diretor de banda norte-americano, nasceu no dia 24/novembro/1912
em Austin, capital do grandioso estado
sulista do Texas (vizinho da Louisiana, berço do JAZZ) e uma das mais importantes metrópoles das 359 que compõe o
estado (Abilene, Dallas, Jacksonville, San Antonio, Sonora, Richmond, Odessa,
Pasadena, Lancaster, Laredo, Bufallo, Decatur, El Paso e Galveston são outras
muitas vezes utilizadas ou citadas em “longas” e documentários do cinema
americano). É bem possível que a
grandiosidade e a vizinhança do estado
texano tenha sido premonitória e impregnado a obra de TEDDY, gigantesca !
TEDDY
veio a falecer em decorrência de câncer intestinal no dia 31/julho/86 (esteve
internado longos dias no “New Britain Hospital”), portanto em vias de completar
74 anos e seus restos mortais encontram-se no “Fairview Cemetery” em New
Britain (onde faleceu), estado de Connecticut.
Sua
educação básica, incentivada pelos pais, foi iniciada pelo violino, oboé e
clarinete; ao mudar-se com a família em
1918 para Tuskegee / Alabama, estudou piano e teoria musical no “Tuskegee
Institute” que havia alcançado grande prestígio como centro de excelência da
cultura negra e então dirigido por Booker T. Washington.
Os
verões da família eram passados na casa da tia, irmã da mãe, em Detroit, a
cidade dos motores no estado nordestino de Michigan, onde escutou seguidamente
as bandas de Fletcher Henderson e dos “McKinney’s Cotton Pickers”, seguramente
as primeiras que assistiu ao vivo.
Importante
é o fato de que TEDDY ouviu e muito
as gravações de Enrico Caruso e outros do “belcanto” e da música clássica,
antes de mergulhar em Louis Armstrong, Earl Hines, Bix Beiderbecke, Fats Waller
e os demais que já marcavam presença nas décadas de 1920/1930.
Mais
01 ano de estudos no “Talladega College” e já participava da orquestra do
colégio como “violinista/pianista”, era violinista na igreja local e tocava o
oboé na “marching band” do bairro, não sendo de admirar que a ponto de cumprir
17 anos em 1929, ter conseguido seu primeiro contrato profissional do outro
lado dos U.S.A. na cidade onde residia a tia.
No
final de 1929 e já com 17 anos TEDDY
passou a integrar a banda de Lawrence "Speed" Webb, onde permaneceu até 1931.
Logo
após TEDDY foi mais para o leste
americano, no estado de Ohio e na cidade de Toledo, onde substituiu o grande
Art Tatum na orquestra de Milton Sênior, com quem tocou em Toledo e em
Detroit; parecia um passo extraordinário
um “garoto” de 19 anos substituir Art Tatum ! ! ! Data dessa época a amizade de Tatum com TEDDY, que este descrevia como “o
músico mais bem dotado para a música que jamais vi na minha vida, algo
milagroso, como o atacante que faz um gol em cada ocasião que tem a bola; dava-me atenção especial e sempre que eu
pedia ele se detinha e voltava a tocar lentamente cada passagem, para ensinar-me
a digitação que havia utilizado...”
No
piano TEDDY adotou como seu “cavalo
de batalha” o clássico de Fats Waller “Handful Of Keys” e, a partir dessa
época, já era exclusivamente pianista.
Em
seguida TEDDY estabeleceu-se no
quase vizinho estado de Illinois, em Chicago e trabalhou algum tempo e
seguidamente com as formações e Erskine Tate (violonista, multi-instrumentista
e diretor da banda com 09 músicos que participou da inauguração do “Vendome
Theatre” em 1919, tendo abrigado em suas formações músicos do nível de Louis
Armstrong, Freddie Keppard, Buster Bailey e Omer Simeon entre outros), Clarence Moore, os “François’ Louisians”,
Jimmie Noone e Eddie Mallory (líder de
grupo que chegou a casar-se com a grande Ethel Waters).
A
dúvida entre seguir estudando ou dedicar-se à carreira musical foi desfeita
nesse período, pois já havia degustado com imenso prazer a música de Detroit e
de Chicago: ganhou o JAZZ, com TEDDY dedicando-se inteiramente ao
“piano.jazz” e inteiramente apoiado pelos familiares. Anos mais tarde TEDDY declararia em entrevista que “depois de conhecer a música de
Detroit e de Chicago, sempre pensei que aqueles que querem ser médicos ou
maestros não sabem o que perdem......”.
Em
1932 TEDDY teve a oportunidade de
participar de sua primeira gravação, sob a liderança de Benny Carter (apenas 01
tema, “Tell All Your Dreams To Me”).
De
janeiro e até março de 1933 integrou a formação de Louis Armstrong para, logo
após, trabalhar com o clarinetista Jimmie Noone e em seguida com Earl Hines em
sua “Grand Terrace Orchestra”. Com
Armstrong TEDDY participou de cerca
de 02 dezenas de gravações para a etiqueta “RCA Victor” (“A Voz do Dono”). Também anos mais tarde TEDDY afirmaria sobre Armstrong que “havia sido uma escola ter
tocado com ele todas as noites, pois era um mestre incrível e jamais tocava uma
nota que não estivesse carregada de sentido musical”.
Após
esse “estágio” com Noone e Hines TEDDY
migrou em definitivo para New York para, em outubro de 1933, unir-se à banda de
Benny Carter, com a qual chegou a atuar na revista “Chocolate Dandies”, da qual
foram gravados 04 excelentes temas: “Blue Interlude”, “Once Upon A Time”, “I
Never Knew” e “Crazy Kapers”. Data dessa época o fato de também haver gravado
com Mildred Bailey.
Ainda
em 1933 TEDDY voltou a gravar sob a
liderança de Mezz Mezzrow.
O
produtor John Hammond (John Henry Hammond II., cuja mãe pertencia à família
Vanderbilt) chegou a lembrar que nessa época Irene Eadie Wilson, primeira
esposa de TEDDY, excelente
pianista e compositora do clássico “Some Other Spring”, teve grande influência
no estilo do marido (de certa forma podemos contemplar um paralelo da
influência de Lil Hardin, primeira esposa de Louis Armstrong, no estilo e na formação pessoal deste). Forçou-o a trabalhar a fundo sua mão esquerda
de grande tamanho e com facilidade para tocar “décimas’; também estimulou-o a ouvir e a assistir
música clássica, em concertos dos pianistas Serkin e Casadesús, este último
tendo chegado a ser grande amigo de TEDDY.
Em
22 de maio de 1934 TEDDY grava pela
primeira vez no seu nome, em sessão de piano-solo.
Em
setembro de 1934 o vibrafonista Red Norvo (Kenneth Norville, então casado com a
grande cantora Mildred Bailey de quem se separou somente em 1945) convidou TEDDY para gravaram em duo, parceria
que se estendeu daí por diante em muitas ocasiões, tal a cumplicidade que
encontraram nessa união.
Desse
ano de 1934 e até o início de 1935 TEDDY
atuou na banda de Willie Bryant (cantor e dirigente de banda nascido em New
Orleans e que originalmente tocou trumpete, além de atuar em revistas de
“vaudeville” e musicais, apresentar-se como bailarino no “Chocolate Revue” de
1934 e dividir destaque com a grande Bessie Smith, a “Imperatriz do Blues”, no
musical “Buck And Bubbles” - em sua banda que atuou no “Savoy Ballroom” e
ademais de TEDDY WILSON dela chegaram
a participar Benny Carter, Bem Webster e Cozy Cole, entre outros). Deixando a banda de Willie Bryant TEDDY foi pianista para o grupo de
gospel “The Charioteers”.
A
partir de julho de 1935 e atendendo a pedido John Hammond ele montou diversas
pequenas orquestras de estúdio, gravando com os então melhores músicos
disponíveis e quase sempre selecionados nas orquestras de Count Basie, Duke
Ellington, Cab Calloway e de preferência tendo como cantora Billie Holiday.
As
gravações então realizadas por TEDDY,
inteiramente voltadas para o “swing” e tendo como base “standards”, serviram
para abastecer as então mais que populares “jukeboxes” e familiarizar o grande
público com cantoras do porte de Lena Horne, Helen Ward e Bille Holiday, além
de terem gerado notáveis gravações com os músicos então mais importantes, tais
como e por exemplos Lester Young, Roy Eldridge, Charlie Shavers, Red Norvo, Buck Clayton e Ben Webster.
Em
novembro de 1935 podemos ouvir TEDDY
acompanhando Billie Holiday em sessão conduzida pelo “Rei do Swing”, Benny
Goodman, o clarinetista e “bandleader” que o pianista havia conhecido em “jam
session” privada tocando na orquestra de Mildred Bailey. O “King” o contratou em abril de 1936 para seu
trio (completado por Goodman ao clarinete e Gene Krupa à bateria, mais tarde
convertido em quarteto com a inclusão do vibrafonista Lionel Hampton), onde TEDDY permaneceu até 1939, quando
desligou-se para tentar seguir carreira com orquestra própria.
Benny
Goodman sempre definiu TEDDY WILSON
como “the greatest musician in music today, irrespective of instrument”; as formações de trio e de quarteto de Benny
Goodman, “The King Of Swing”, muito além e acima de uma fórmula musical, foram
todo um símbolo de integração racial.
A importância de TEDDY para o
trio e posteriormente para o quarteto são absolutamente ímpar, podendo ouvir-se
nos 04 temas gravados inicialmente pelo trio (“Sweetheart”, “After You’ve
Gone”, “Who?” e “Body And Soul”) a coesão, a fluidez melódica com a base
harmônica do piano, simultaneamente “segurando” o trio e aparando a aspereza e
a impulsividade de Gene Krupa.
Durante
a permanência com Goodman TEDDY foi
seguidamente o vencedor na categoria de “melhor pianista de JAZZ” nas revistas
especializadas “Metronome” e “Down Beat”.
Até
o final da década de 1930 TEDDY
funda a “Teddy Wilson School For Pianists” em Manhattan, tendo o primordial
cuidado pedagógico de gravar para seus alunos discos didáticos não comerciais
acompanhados de encartes com texto analítico e transcrição dos temas; essas gravações foram integralmente
publicadas em 1984 pela empresa “Meritt”.
Entre os títulos editados com essa finalidade, todos com o selo “Teddy
Wilson – Scholl For Pianists” (com a inscrição na etiqueta de terem sido
gravados em “1576 Broadway – New York”, além da indicação “Score And Analysis
Text Of The Recording Available At The School” e de esclarecer que a execução
em piano.solo é por “Teddy Wilson At The Piano”), constam os títulos “That Old Feeling”,
“Tiger Rag”, “My Blue Heaven” e “Coquete” entre outros.
Em
1936 TEDDY realizou uma série de
gravações para as etiquetas “Vocalion” e “Brunswick”, chanceladas como “The
Teddy Wilson Orchestra”, que de certa forma marcam toda a época do “classicismo”
no JAZZ. A formação nessas gravações variou bastante,
mas é importante assinalar que músicos do porte de Jonah Jones, Buck Clayton,
Lester Young, Ben Webster, Johnny Hodges, Cozy Cole, Sid Catlett, Buster Bailey
e John Kirby estiveram presentes, além da diva Bille Holiday.
Referindo-se
a essas gravações e a “Lady Day”, TEDDY
afirmou em entrevista posterior que
“essas sessões foram pura delícia e eu jamais havia ouvido quem cantasse
como Billie; ela podia dizer apenas
‘olá’ ou ‘bom dia’ e já tínhamos uma experiência musical; a maneira dela cantar era um reflexo fiel de
todas as suas experiência vital e carga psicológica, sua personalidade em
canto; os músicos participantes eram a
nata das grandes bandas; quando Duke
Ellington estava na cidade eu chamava Johnny Hodges e Harry Carney; quando estava Basie por perto tocávamos com
Lester Young e Buck Clayton; jamais se
poderia reunir para o público semelhante conjunto de músicos e, incrível, essas
sessões custaram US$ 20.00 para cada 03 horas ! ! ! ”.
O
selo “CBS” lançou no período 1977/1980 a série de LP’s duplos “The Lester Young
Story” com os títulos de “A Musical Romance”, “Enter The Count”, “Lester Leaps
In” e “Evening Of A Basie-ite”, reunindo um total de 124 faixas. Essas gravações datam de 1937 até 1941 e nos
trazem Teddy Wilson em 28 faixas, mostrando-nos todo o seu domínio harmônico e
melódico como acompanhante ou solista, seu swing irresistível, classe e técnica
superlativas.
Em
1939 TEDDY gravou com o cantor Red
Evans e em 1949 com o também cantor Chick Bulloci.
A
banda de TEDDY adotou como prefixo o
tema “Jumpin’ On The Blacks And Whites” e incorporou alguns músicos excelentes
como Ben Webster e Rudy Powell nos saxofones, Doc Cheatam e Hal Baker nos equência,
J.C. Higginbotham ao trombone, Al Casey na guitarra, Al Hall no contrabaixo,
J.C.Heard na bateria e Thelma Carpenter como “lady crooner”, tocando arranjos
do próprio TEDDY e com estilo tão
refinado quando o de seu líder.
Apresentou-se e gravou cerca de 02 dezenas de temas que fizeram sucesso
(“The Man I Love” com solo de Ben Webster, “Out Of Nowhere” com solo de J.C.
Higginbotham, “Little Things That Mean So Much” da autoria de TEDDY e outros).
Em
março de 1940 o grupo de TEDDY WILSON
foi a atração no “The Apollo Theatre” no Harlem (253 West, 125th Street, que
havia sido inaugurado em 26/janeiro/1934 com a banda de Benny Carter).
Mesmo
com beleza musical, coesão de grupo e finanças em ordem, a orquestra de TEDDY não alcançou sucesso comercial,
desfazendo-se exatamente com 01 ano de atividade em abril de 1940, sendo a
derradeira apresentação no “Golden Gate Ballroom”.
O
pianista passou a atuar com bastante êxito em sexteto (junho de 1940 até
novembro de 1944 no “Café Society”), até associar-se novamente à “usina de
swing” de Benny Goodman.
Durante
o período da IIª Guerra Mundial TEDDY
ainda organizou um sexteto incluindo Bill Coleman, Jimmy Hamilton, Benny
Morton, Al Hall e Big Sid Catlett.
Participou também de gravações para os “V-Discs” acompanhando as
magníficas cantoras Lena Horne e Helen Ward.
Em
06 de junho de 1945 TEDDY gravou em
New York para grupo liderado pelo velho amigo Red Norvo (“Red Norvo And His
Selected Sextet”, etiqueta “Comet”) uma série de 04 temas (“Hallelujah”, “Get
Happy”, “Slam, Slam Blues” e “Congo Blues”), mais 09 “alternate takes” desses
temas, com a presença de 02 “jovens”:
Charlie Parker e Dizzy Gillespie.
Completaram o grupo Slam Stewart no baixo e Specs Powell e J.C.Heard revezando-se
à bateria. Anteriormente e em 16 de
maio desse mesmo ano de 1945 TEDDY
já se apresentara no “Town Hall” de New York em concerto para a “New Jazz
Foundation” em companhia de Parker, Gillespie, Dinah Wahington, “Hot Lips”
Page, Georgie Auld, Stuff Smith, Leonard Feather em trio, Slan Stewart, Cozy
Cole e outros músicos.
Nesse
mesmo ano TEDDY atuou com grupo
próprio em outro concerto no “Town Hall”, desta feita com o patrocínio do Barão
Timme Rosenkrantz e participação dos grupos de Red Norvo, Bill Coleman, Gene
Krupa / Charlie Ventura, Stuff Smith e Joe “Flip” Phillips; esse concerto foi gravado e editado pela
etiqueta “Commodore” em 04 volumes de 10 polegadas.
Em
1946 TEDDY foi contratado pela rádio
“CBS” e, simultaneamente dá aulas na “Juilliard School” de New York.
Durante
os anos 1946/1947 TEDDY atuou por
contrato para a etiqueta “Musicraft”, quando teve oportunidade de acompanhar
outras cantoras em gravações, em especial Sarah Vaughan, voltando a demonstrar
sua extraordinária sensibilidade de acompanhante.
No
triênio 1946/1947/1948 TEDDY voltou
a liderar as enquetes das revistas especializadas: Metronome e Esquire colocaram-no como o
melhor pianista de JAZZ.
Em
1948 TEDDY experimentou novamente a
onda “modernista”, gravando em grupo com 07 integrantes, entre os quais Benny
Goodman, Wardell Gray, Billy Bauer e Arnold Fishkin.
De
1949 e até 1952 TEDDY trabalhou em
estúdio da “WNEW”.
Em
1952 participou de sua primeira temporada na Escandinávia e em 1953 por todo o
Reino Unido, além de tocar e gravar esporadicamente com Benny Goodman, com o qual participou mais tarde da
temporada na já extinta U.R.S.S. em 1962.
Em
25 de março de 1952 TEDDY WILSON
voltou a atuar com Charlie Parker, desta feita no teatro “Loew’s Valencia” de
New York em apresentação que foi gravada (tema “Cool Blues” em pouco mais de 04
minutos) e com o grupo “Charlie Parker Quartet” (Parker, TEDDY, Eddie Safranski no baixo e Don Lamond à bateria).
TEDDY
ingressou no “staff” radiofônico da “CBS” trabalhando em programa próprio
dentro do “Peter Lindt Hayes Show”, além de colaborar em série radiofônica de
êxito sob o título de “The Crime Photographer”.
O
ano de 1955 marcou a participação de TEDDY
no longa metragem “The Benny Goodman Story”, o que lhe valeu aumento da
popularidade e seguidos contratos para atuar em clubes e concertos pelos U.S.A.
A
atuação de TEDDY como professor na
“Juilliard” de New York é, em todo esse tempo, ininterrupta.
Foi
contratado pelo produtor Norman Granz para a
etiqueta “VERVE”, gravando em trio os álbuns “For Lovers” e “The
Impecable Mr. Wilson”, entre outros de alta
qualidade.
Em
1956 TEDDY reviveu os momentos
passados de esplendor das gravações para as etiquetas “Brunswick” e “Vocalion”,
voltando a gravar com Lester Young (12 e 13 de janeiro).
A
partir de 1959 e além das atividades já citadas TEDDY atuou principalmente liderando seus trios, com equência
temporadas por toda a Europa e pelo Japão (1970, 1971 e 1973).
TEDDY
residiu nos anos 1960 e 1970 em Hillsdale,
subúrbio tranquilo de New Jersey.
TEDDY
dublou a “Marxist Mozart” de Howard 'Stretch' Johnson com vistas à causa esquerdista e que
foi apresentada em concerto benéfico para o jornal "The New Masses" e para a "Russian War Relief, assim como utilizada pelo “Artists’ Committee” com vistas à campanha eleitoral de Benjamin J. Davis.
Nesses
anos 1960 e 1970 TEDDY seguiu
exibindo-se em todo o mundo, participando nos maiores e melhores festivais de
JAZZ internacionais: Tóquio, Montreux, Nice, Chicago, Pescara etc.
Em
1969 no “Jazz At The Philarmonic” promovido por Norman Granz, seu criador, a
reunião de músicos do calibre de Clark Terry, Dizzy Gillespie, Benny Carter,
Coleman Hawkins, Zoot Sims e outros “top”, poude apresentar um TEDDY WILSON rejuvenescido, revigorado,
imperando como um mago nos temas “Shiny Stockings” e “Body And Soul”.
TEDDY WILSON
plantou e colheu desde muito jovem todos os possíveis ensinamentos da cultura musical e pianística,
tornando-se um executante super-dotado mas sem exuberância, completo mas sem
exibicionismos.
Com
certeza e paralelamente a Art Tatum, TEDDY
revolucionou o “jazz-piano” a partir de 1935, ainda que Tatum tenha seguido
prolongando a escola “stride” e TEDDY
tenha rompido com essa escola, em uma época com a força de um Earl Hines que já
havia quebrado com a simetria desde 1928;
TEDDY descartou a influência
soberana de Hines desde 1930 (e também e em certa medida a influência de “Fats”
Waller), tocando de forma mais flexível, “cool”, “redonda”, fluida, rica em
suas mais que famosas “seguidilhas” em décimas com a mão esquerda que ele vai
incorporando em contrapontos, para desenvolver com a mão direita o toque em
arpégios em que os aspectos lineares são sobrepostos com inteligência por um
fraseado em “legato” absolutamente belo e com, retornando ao título inicial
(dado à presente resenha pelo fato de todo o virtuosismo do fraseado de TEDDY estar baseado em 02 pilares
únicos e sólidos: rigor e simplicidade !
! !), admirável requinte
de simplicidade, classe,
ordem, lógica, perfeição, bom gosto, clareza e um “swing” irresistível; muito do estudo clássico transborda em TEDDY. Mesmo reconhecendo-se que ele amealhou
influências de Tatum, Waller e Hines, na realidade ele sintetizou com maestria
absoluta e equilíbrio as características dos três.
O
toque de TEDDY lembra, pela precisão
de metrônomo simultânea com o “swing” fluido, um músico com o qual gravou
abundantemente: Lester Young.
São
fatos as impressionantes quantidades de “masterpieces” cunhadas com os
acompanhamentos para Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Lena Horne, Mildred
Bailey, com a “divina” Sarah Vaughan, assim como o perfeccionismo de TEDDY que embasou em altas doses o som,
o equilíbrio e o sucesso dos trios, quartetos e quintetos de Benny
Goodman. Se notarmos pelas gravações de
Benny Goodman a sucessão de seus pianistas “pós-Wilson”, ouviremos claramente a
linha sucessória de “discípulos” de TEDDY: Mel Powell, Ken Kersey, Johnny Guarnieri,
Joe Bushkin, Bernie Leighton, Jimmy Rowles (que em seu estilo tão pessoal reune
elementos de TEDDY e de Earl Hines),
Hank Jones (o mais ortodoxo), Dave McKenna, Clyde Hart (tão pouco valorizado
pela crítica), Sonny White, Sir Charles Thompson e Ray Bryant, todos eles com
períodos ou em algumas ocasiões com o “King”.
Dificilmente
há marca de piano que TEDDY WILSON
não tenha tocado (Petrof, Stenway, Yamaha e outros), assim como seus tipos
(parede, pequena ou meia calda, grande cauda).
A
maior parte dos pianistas de JAZZ é
muito ligada à composição, com temas de beleza superlativa e via-de-regra
excelentes veículos para solos melódicos e improvisações; TEDDY
não é tão ligado assim na composição, assim como seus arranjos são pouco conhecidos
(ou divulgados), mas ainda assim foram aproveitados pelas bandas de Lawrence 'Speed" Webb, Earl Hines, Willie Bryant (“Liza” e “Steak And Potatoes”, gravações de
1935) e sua própria banda (“Liza” e “Sweet Lorraine”, gravações de 1939).
Em
longas-metragem e takes para o cinema e em documentários para a televisão TEDDY
pode ser apreciado nos seguintes filmes:
- “Hollywood Hotel”, longa metragem
norte-americano de 1937 dirigido pelo “Papa”
dos musicais Busby Berkeley, com 101 minutos e apresentando o quarteto de Goodman = ele,
TEDDY WILSON, Lionel Hampton e Gene Krupa;
este filme foi rodado em 02 versões, sendo uma para o Norte americano com TEDDY WILSON ao piano e uma segunda para o Sul racista com o pianista branco Jess Stacy
substituindo TEDDY (incrível,
vergonhoso mas verdadeiro!!!...);
- “Harlem Hotshots”, take de 1940 com 20
minutos pela “Metropolitan Productions", apresentando TEDDY WILSON e Lena
Horne com a orquestra de Core Harris;
- “Boogie Woogie
Dream”, take filmado no “Café Society” de New York em 1941, com 13 minutos e sob a direção de Hans Burger, trazendo as
presenças de TEDDY WILSON, Pete Johnson, Albert Ammons, Emmett Berry, Benny Morton, Jimmy Hamilton, Johnny Williams
e J.C.Heard;
- “My New Gown”, take de 1944 com 03
minutos, estrelado por Lena Horne acompanhada por Pete Johnson, Albert Ammons e a banda de TEDDY WILSON;
- “Unlucky Woman”, take filmado no “Café Society” de New York em 1944, com 03 minutos ,trazendo a apresentação de Lena Horne com a
banda de TEDDY WILSON, como sequência do take “Boogie Woogie Dream” de 1941;
- “Something To Shout About”, longa
metragem norte-americano da "Columbia" de 1943 com 90 minutos e direção de Gregory Ratoff, com a banda de TEDDY
interpretando temas de Cole Porter;
- “The Benny Goodman Story”, longa
metragem norte-americano de 1955, com 116 minutos e direção de Valentine Davies;
esse filme da Universal Pictures foi lançado em 2011 no Brasil em DVD,
com o título de “A Música Irresistível
de Benny Goodman”;
- “Steve Allen In Movieland”, show gravado
em 02/julho/1955 com 75 minutos produzido para a “NBC TV” e para divulgar o longa “The Benny Goodman Story”, trazendo diversos músicos
participantes do filme, claro que TEDDY WILSON entre eles, e executando 03
temas;
- “Swing Into Spring”, show gravado em
09/abril/1958 para a “NBC TV” com 80 minutos, tendo como narrador Dave Garroway, com arranjos musicais por Ralph Burns e extensa lista de músicos de JAZZ, entre os quais TEDDY WILSON
no quinteto de Benny Goodman;
- “Playback – Teddy Wilson”, take de 1963
com 04 minutos promovido para a televisão pela “CBS”, com TEDDY interpretando
“Tea For Two” e discutindo sobre seu estilo e forma de tocar;
- “Jazz Scene At Ronnie Scott’s”, série de
1969 e 1970 para a “BBC TV” inglesa, com uma série de capítulos apresentando cerca de 03 dezenas de músicos de JAZZ,
entre os quais TEDDY WILSON em trio;
- “Jazz Circle”, take em cores de 1971 com
26 minutos produzido para a “US TV”,
tendo como “mestre de cerimônias” Johnny Mercer e apresentando o trio Lionel Hampton, Tyree Glenn e TEDDY WILSON.
Da
extensa discografia de TEDDY WILSON
pinçamos como itens realmente importantes e como itens para ouvintes e
colecionadores (alguns com maior ou menor grau de oferta nas lojas e outros em
edições especiais):
·
1933 - Billie
Holiday, The Quintessential Billie
Holiday, volumes de 1 até
9, 1933 a 1942 ;
·
1934 - China
Boy (13 temas no CD nº 10 da série “Gigantes do Jazz”, 1934 a 1945);
·
1935 - Benny
Goodman, The Complete RCA Victor Small
Group Recordings (1935 a 1939);
·
1938 - Benny
Goodman, The Famous 1938 Canegie Hall Jazz Concert;
·
1949 - Teddy
Wilson Featuring Billie Holiday;
·
1956 - I
Got Rhythm;
·
1956 - Pres And Teddy;
·
1959 - "Gipsy" In Jazz;
·
1967 - Teddy Wilson -
Eassy Living (15 temas, “Movieplay”, gravação em Londres);
·
1972 - With
Billie In Mind;
·
1973 - Runnin’
Wild, gravado ao vivo no “Montreux Jazz Festival’;
·
1976 - Live
At Santa Tecla;
·
1980 - Teddy
Wilson Trio Revisits The Goodman Years;
·
1994 - The
Art Of Jazz / Volume “Piano Greats” com Teddy Wilson em "Take The 'A' Train, 18/junho/1967;
·
1994 - The
Art Of Jazz / Volume “Piano Legends” com Teddy Wilson em “Body And Soul”, 18/junho/1969;
·
1995 - Teddy
Wilson, coleção “Jazz & Blues” (18 temas de 1935 a 1945);
·
1995 - Teddy
Wilson (revista “Musica Jazz” de agosto/setembro de 1995, 16 temas de 1938 até 1972);
·
1996 - The
Rodgers & Hart Songbook - Estojo com 03 CD’s da “Verve” com Teddy Wilson / Ben Webster no CD “Isn’s It Romantic?” (My Funny
Valentine”, 30/março/1954);
·
2003 - Piano
Jazz L’histoire - Estojo com 10 CD’s trazendo TEDDY nos CD’s
3 (“Liza”, 07/10/1935), 4 (“Where Or When”, 29/10 de 1937) e 5 (“Body And Soul”, 11/04/1941).
Prosseguiremos nos
próximos dias
2 comentários:
Um pianista fabuloso pela simplicidade e feeling maravilhoso. Tive a grata oportunidade de assistí-lo no TMuni.
Parabéns Apostolo por esta série maravilhosa de posts.
Forte abraço
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