Série “PIANISTAS DE
JAZZ
Algumas Poucas Linhas Sobre o Piano e os Pianistas”
2ª Parte
ALGUMAS NOTAS RÁPIDAS SOBRE
O PIANO (A)
O
piano é instrumento de teclado de cordas impactadas por martelos cobertos de
feltro e inicialmente fabricados a partir de 1698 pelo italiano Bartolomeu
Cristofori; o objetivo do criador era
aperfeiçoar e aumentar a sonoridade do clavicórdio (imperador dos teclados até
aquela data), em particular quanto às nuances e à expressividade do “piano” e
do “forte”, razão pela qual Cristofori denominou-o de “gravicembalo col piano e
forte”. A denominação usual à época
era a de “pianoforte”.
Diferentemente
da técnica empregada no órgão e no cravo em que o executante controla a
intensidade do som por registros, no piano o controle ocorre pela pressão dos dedos
- o que permite ao executante
obter contrastes sonoros e “coloração” harmônica e “melódica”, consoante a
maior pressão ou suavidade com os dedos.
O
piano foi seguidamente aperfeiçoado ao longo do tempo; por exemplo, em 1726 por Silbermann e com sugestões de
J.S.Bach; posteriormente foi acrescido de notas, também
de controle de tensão nas cordas, de caixa de ressonância nas armações de
ferro, na disposição das cordas
perpendicularmente ao teclado, no aperfeiçoamento dos pedais, enfim,
sucessivas melhorias e acréscimos
conferiram às atuais “88 teclas” sonoridades mais cheias, com prolongamentos e um leque de matizes que
desde os anos de 1800 determinaram a aposentadoria quase que total do cravo,
seu ancestral, restrito a partir dai a apresentações específicas e à execução
de determinadas obras (por exemplo, em muitas de J.S.Bach, que para esse
instrumento as criou).
Existem
duas categorias de pianos: vertical
(upright piano) e de cauda (grand piano).
Coloquialmente para os americanos o piano é um “eighty-eighter” (por
causa das 88 teclas), um “tickler” (um acariciador) ou um “professor”
(expressão herdada desde os bordéis de New Orleans, já que os pianistas de JAZZ
eram musicalmente mais cultos que os demais
músicos). Atuando para a
harmonia, o ritmo e a melodia, solando ou acompanhando, o piano é
destacadamente o instrumento-síntese.
As
características didáticas do piano fizeram com que ao longo do tempo músicos de
outros instrumentos, arranjadores e cantores se voltassem para ele em seu
trabalho pessoal, transformando-o em apoio indispensável e, além disso, em seu
segundo instrumento chegando a gravar nele, de que são exemplos, entre outros,
Red Mitchell, Jack DeJohnette, Stéphane Grappelli e Charles Mingus. Ainda temos inúmeros exemplos de músicos de
outros instrumentos que se destacaram no piano ao longo das diversas fases do JAZZ: Bix Beiderbecke, Sidney Bechet, Ben Webster,
Roy Eldridge, Dizzy Gillespie (que em
seu livro “To Be Or Not To Bop” revela tudo o que aprendeu, desenvolveu e
ensinou a outros músicos com base no piano), Tony Scott, Philly Joe Jones, Bob
Brookmeyer, Joe Chambers e tantos e tantos outros.
O
berço do piano na história do JAZZ pode ser situado a partir de 1857 por meio de um
escravo negro e cego – Thomas Bethume (“Blind Tom”), que se exibia desde os 07
anos pela Georgia com seu professor; a
história (ou estória ? ? ? ! ! ! . . .) relata as proezas do garoto compositor,
intérprete de música clássica e popular, extraordinário improvisador, precursor de Art Tatum.
As
gravações de “piano.JAZZ” foram germinadas a partir da instalação do primeiro
estúdio de gravação em 1897 por Emile Berliner (gravações de música sincopada e
ragtime por banjoístas), mesmo ano da introdução dos “rolos” gravados, da
publicação do livro de exercícios “”Ben Harney’s Rag Time Instructor” e da
primeira edição de um ragtime pelo negro Tom Turpin (“Harlem Rag”). Em 1916 deveríamos ter a primeira gravação de
um negro, Luckey Roberts, mas seus dois solos foram descartados pela Columbia,
ficando Eubie Blake, compositor de revistas negras para a Broadway, com as
honras de ter sido o primeiro pianista negro a gravar (1917).
A
partir de 1921 com o florescimento das cantoras de Blues passamos a ter JAZZ
gravado, muitas vezes como acompanhante solitário das cantoras (principalmente James P.
Johnson, Clarence Williams e Fletcher Henderson) e, a partir dai, o JAZZ gravado é mercadoria ao alcance de
todos nós.
Existem
muitas e variadas formas e estilos de tocar piano no JAZZ, sendo que o estojo
“The History – Piano Jazz – L’histoire” (2003, Le Chant Du Monde) nos
presenteia em 10 CD’s com um espectro amplo e significativo dessas formas e
estilos: 221 faixas de 1906 até 1952 nos fazem viajar pela arte de grandes
mestres do teclado e acompanhar as técnicas mais variadas e inspiradas. O livreto de 46 páginas que acompanha os 10
CD’s é valioso (André Francis e Jean Schwartz).
RESENHAS
(01)
ALAN BROADBENT
- Facetas Múltiplas (Resenha curta)
Pianista,
compositor e arranjador, Broadbent nasceu na Nova Zelândia (Auckland) em
23/abril/1947 e iniciou o estudo do piano em sua cidade natal, no “The Royal
Trinity College Of Music” com 07 anos.
Graduou-se com louvor em 1962 e em 1964 assistiu um concerto com Dave
Brubeck, despertando para o JAZZ.
Em
1966 ganhou bolsa da revista “Down Beat” para estudar no “Berklee College Of
Music” de Boston, aperfeiçoando-se em
arranjo e composição com Herb Pomeroy;
semanalmente deslocava-se até New York para receber lições e
ensinamentos de Lennie Tristano.
Já
graduado no “Berklee”, em 1969 Broadbent passou a integrar a banda de Woody
Herman como pianista e arranjador, ai permanecendo até 1972, ano em que
mudou-se para Los Angeles (mas permaneceu escrevendo arranjos para Woody
Herman).
Como
arranjador foi indicado duas vezes (1974 e 1978) para o “Grammy” na categoria
de melhor arranjo orquestral para os álbuns
“Children of Lima” e “Aja”.
Também
em Los Angeles gravou em 03 albuns da cantora Irene Kral, com mais 02
indicações para o “Grammy”.
Compôs
a “Suite For Orchestra” que foi lançada pela “New American Orchestra”.
Seguidamente
colaborou em parceria com Bill Mays no “Double Piano Jazz Quartet” de Shelly
Manne.
Dirigiu
grupos em seu nome e trabalhou para a
televisão de seu país natal.
A
primeira gravação em seu nome ocorreu somente em 1981.
Ainda
em Los Angeles Broadbent foi colaborador
de Bud Shank, Bill Holman, Buddy Collette, Buddy DeFranco, Bill Perkins e Henry
Mancini.
Em
1986 passou a integrar o “Quartet West” de Charlie Haden, para o qual aportou
diversas composições próprias.
Escreveu
arranjos para Diane Schuur e foi Diretor Musical para a cantora Natalie Cole.
Reconhecendo
e transparecendo as influências, ótimas, de Nat “King” Cole, Bill Evans, Bud
Powell, seu professor Lennie Tristano (claro), Sonny Clark, do expressionismo
francês de Debussy e de Ravel, ainda assim Broadbent tornou-se pianista e
músico de invejável leque de recursos,
com base em alentado conhecimento da história do “piano-jazz” e estribado nas
raízes mas sem ligar-se a nenhuma “escola” específica. É um mestre nos arranjos e excelente
compositor.
Pode
ser ouvido nas gravações “Everything I Love” e “Serious Swingers” ambas de
1986, esta última sob a titularidade de Bud Shank, “Another Time” de 1987,
“Stolen Moments” de 1989 com Lee Ritenour,
de 1991 “At Maybeck, Volume 14”,
“Haunted Heart” (de Charlie Haden) e “Shirley Horn With Strings” (de Shirley
Horn) e, de 1993, “Charlie Haden Quartet West”.
Seguiremos nos próximos dias
2 comentários:
Como já esperado, uma ótima postagem.
Valeu Mestre Pedro!!
Abração
excelente ideia conhecer melhor os pianistas. Sugestão colocar alguma música para ilustrar o pianista, se for possível, é claro. De qualquer forma maravilha
Carlos Lima
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