Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

COLUNA DO MESTRE LOC NO JB ONLINE

24 janeiro 2015

As Imaginary Cities de Chris Potter

por Luiz Orlando Carneiro, em 24/01/2015

O saxofonista tenor Chris Potter, 44 anos, consolidou o seu prestígio quando foi convocado pelo eminente baixista-compositor Dave Holland para integrar aquele quinteto que gravou, para a etiqueta ECM, entre 1998 e 2001, três CDs excepcionais: Prime directive, Not for nothing eExtended play: Live at Birdland.

No ano passado, ele foi o sexto mais votado, na sua especialidade, pelos críticos de jazz reunidos pela Downbeat no 62º referendo anual da revista especializada, tendo à sua frente, “apenas”, os “cinco grandes” do sax tenor: Joe Lovano, Charles Lloyd, Sonny Rollins, Wayne Shorter e Branford Marsalis.

Em setembro de 2011, Potter gravou o primeiro álbum para a ECM na condição de líder, realçando também, de maneira definitiva, os seus dotes de compositor. Lançado mais de um ano depois, The sirens foi qualificado nesta coluna (9/2/2013) como o seu disco “mais autoral, mais especulativo e surpreendente”. A suíte de nove partes, inspirada na Odisseia, de Homero, foi interpretada pelo saxofonista na companhia de Craig Taborn (piano), David Virelles (piano preparado, efeitos na celesta e no harmonium), Larry Grenadier (baixo) e Eric Harland (bateria).

Na última semana, o mesmo selo de Manfred Eicher distribuiu a nova obra de fôlego concebida pelo saxofonista-compositor para a sua Underground Orchestra: a suíte Imaginary cities, dividida em quatro partes (Compassion, Dualities, Desintegration e Rebulding), com duração total de mais de 35 minutos, gravada em dezembro de 2003.

A orquestra reunida pelo líder concilia o seu já conhecido quarteto com Craig Taborn (piano), Adam Rogers (guitarra) e Nate Smith (bateria), mais o vibrafonista Steve Nelson e a dupla de baixistas Scott Colley (acústico)-Fima Ephron(elétrico), com um quarteto de cordas de configuração clássica (dois violinos, viola e violoncelo).

Trata-se, assim, de uma associação musical de 11 cabeças que não atua propriamente como uma orquestra jazzística típica – em que predominam instrumentos de sopro (palhetas e metais) apoiados pela seção rítmica tradicional – mas que segue partituras assemelhadas às escritas por Gunther Schuller e John Lewis, paladinos da chamada Third Stream Music, no início da década de 1960 (Abstraction,Variants on a theme of John Lewis, de Schuller).

Contudo, a nova obra de Chris Potter é mais aberta à participação criativa de seus pares do que aquelas peças mais “eruditas” de Schuller, Lewis, Hodeir & Cia. Há muito espaço para os solos sofisticados, hipnóticos, do grande saxofonista tenor, e uma intercomunicação permanente entre a “seção percussiva” da “orquestra” e a “tapeçaria” melódico-harmônica do quarteto de cordas.

A suíte-núcleo do CD é desenvolvida em peças de moods contrastantes, da contemplativa Compassion (8m30) à percussiva Rebuilding(11m30), passando pela movimentada Dualities (8m40) – com solo inebriante do líder no sax tenor – e a romântica Desintegration (7m20) – com Potter no sax soprano.

Há outras quatro faixas que até poderiam ser integradas à suíte que dá título ao álbum: Lament (8m05), a primeira do disco; Firefly (8m35), com solo acrobático do tenorista, por sobre a pulsação funky da bateria de Harland; Shadow self (6m10), meio bartokiana, com Potter no clarinete baixo, e especial realce para a combinação da guitarra de Adam Rogers com o vibrafone de Steve Nelson; Sky (12m), a faixa mais longa e final, bem dançante, as cordas desenvolvendo uma melodia balcânica, e preparando relevante intervenção do pianista Craig Taborn.

“Não quis (criar) aquele negócio de música clássica-com-jazz feeling – comenta o próprio saxofonista-compositor. Quis que tudo fosse completamente integrado, e que, em alguns momentos, o material escrito e o improvisado estivessem um pouco misturados, e que as cordas pudessem também improvisar”.

Estes objetivos foram plenamente atingidos pelo autor e principal ator de Imaginary cities.

Nenhum comentário: