Stefano Bollani: "Alegria,
apesar de tudo"
Por Luiz Orlando Carneiro
Aos 41 anos de idade, Stefano
Bollani não é, apenas, o mais admirado pianista de jazz da Itália. Sua fama
espalhou-se por toda a Europa e pelos Estados Unidos, sobretudo a partir da
parceria que estabeleceu com o eminente trompetista Enrico Rava, registrada em
quatro álbuns da ECM entre 2003 e 2008: Easy living, em quinteto; Tati, em trio
com o baterista Paul Motian; The third man, em duo; New York days, em quinteto.
Mais recentemente, o eclético
virtuose, de sólida formação clássica, adicionou à sua discografia o notável CD
duplo Orvieto (2010) - um duo com Chick Corea flagrado ao vivo no festival
anual de jazz que tem lugar naquela cidade fundada pelos etruscos - e O que
será (2013) - um diálogo magistral de temática brasileira com o carioca
Hamilton Holanda, considerado o maior bandolinista (de 10 cordas, e não de
oito) do mundo.
Pois a etiqueta de Manfred Eicher
vem de lançar outro excelente disco de Bollani, intitulado Joy in spite of
everything, ou seja, “alegria apesar de tudo”. E é mesmo uma seleção de nove
composições da lavra do pianista em que prevalece aquela união entre o alegre e
o belo tal qual definida por Keats naquele célebre poema cujo primeiro verso é
“A thing of beauty is a joy for ever”.
As peças – em allegro vivace, em
moderato cantabile ou mesmo em andante – são arranjadas e interpretadas pelo
líder em formações diversas (quinteto, quarteto, trio, duo), na companhia de
seus dois sidemen habituais, os holandeses Jesper Bodilsen (baixo) e Morten
Lund (bateria), mais os celebrados Mark Turner (sax tenor) e Bill Frisell
(guitarra).
A faixa-título (5m55), em trio, é
a última e a menos extensa do menu, com o ás do piano voando solto a partir de
um tema simples, mas muito cativante. No primeiro “prato”, Easy healing (9m25),
de tempero caribenho, o sax envolvente de Mark Turner, à la Charles Lloyd,
levita por sobre o quarteto piano-baixo-bateria-guitarra. A ainda mais animada
No pope, no party (8m05) é também interpretada pelo quinteto, com bom espaço
para os solos de Turner e do guitarrista Frisell. Este último e Bollani são
ouvidos, em duo, na minimalista Teddy (7m), e tocam a balada Ismene (8m45), em
quarteto.
As demais composições do CD são:
as especulativas Tales from the time loop (9m30) e Vale (12m20), em quinteto,
com a dupla Bollani-Frisell abrindo sempre os trabalhos para os solos de
Turner; a balada Las Hortensias (8m30), em quarteto (sem Frisell, mas com um
belíssimo solo do saxofonista); Alobar e Kudra (6m), em trio, avivada por
passagens contrapontísticas do virtuose do teclado.
Nas notas que escreveu para o
novo álbum, Bollani lembra que o seu primeiro professor de jazz lhe chamou a
atenção para o fato de que sendo ele, ainda jovem, fã de Oscar Peterson e Art
Tatum, devia tomar cuidado para não se preocupar em “preencher todos os
espaços”. E acrescenta: “Assim é que acabei apaixonado por gente como Ahmad
Jamal, por exemplo, por ser ele muito cuidadoso com o balanço entre a música e
o silêncio”.
Joy in spite of everything é o
registro discográfico definitivo do pianista-compositor Stefano Bollani.
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