Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

COLUNA DO LOC

30 janeiro 2011

Caderno B, JB, 30 de janeiro
por Luiz Orlando Carneiro

Improvisações livres de temas parkeanos

O primeiro álbum do ano de repercussão geral na cena jazzística foi lançado no Village Vanguard, Nova York, no último dia 11. Trata-se de Bird songs, o 22º registro do consagrado saxofonista Joe Lovano para o selo Blue Note, e o seu segundo à frente do quinteto US Five, que reúne dois bateristas – Otis Brown III e Francisco Mela – o pianista James Weidman e a jovem estrela do contrabaixo Esperanza Spalding.
O primeiro CD desse grupo fora de série, Folk art, com composições do líder, foi o mais votado dentre os 50 melhores discos do ano passado, na eleição dos críticos promovida pela Jazz Times.
Em Bird songs, Lovano e seus comandados improvisam a partir ou em torno da temática de Charlie BirdParker, que reinventou o jazz, embora tenha vivido menos de 35 anos. O saxofonista tenor selecionou e explorou, em maior extensão, oito temas de Parker gravados pelo founding father do bebop no período 1945/49, nas históricas sessões Savoy e Dial: Passport (5m27), Donna Lee (4m26), Barbados (6m20), Moose the mooche(6m30), Koko (6m20), Dexterity (2m50), Dewey Square (8m25) e Yardbird suite (11m50).
Além disso, escolheu Lover man (9m), dentre os standards preferidos do Bird, para um longo solo no mezzo-soprano. E acrescentou duas curtas “atrações”: Birdyard (1m48), peça baseada nas primeiras notas de Yardbird, tocada no aulochrome (sax soprano duplo com duas embocaduras); Blues collage (1m54), cujo efeito politonal é obtido com Lovano no sax alto straight citando Carvin’ the Bird, enquanto Esperanza e Weidman dedilham os temas de Birdfeathers e Bloomdido, respectivamente.
O líder do US Five adverte que não procurou fazer aquele disco-tributo típico, mas sim “deixar espaço para a contribuição de cada um ao feeling da performance, de maneira espontânea”. Ou seja, o principal solista e seus parceiros não se dedicam a uma releitura linear e contemplativa da temática parkeriana, mas a improvisações livres em que tais temas são pretextos num contexto que realça a personalidade dos atores, sem prejuízo do “som” do conjunto.
Bird songs tem a assinatura inconfundível de Lovano, cuja linguagem expressa pela sua principal voz, o sax tenor, tem um fraseado rico em contrastes melódico-harmônicos discretos, mas inesperados, aqui e ali acentuado por sutis efeitos de timbre, fluindo com elegância entre o in e o out. As versões de Donna Lee e Ko - ko – paráfrases parkerianas de Indiana e de Cherokee, respectivamente – são particularmente originais. A primeira é transformada pelo sax tenor do líder uma verdadeira balada, numa paráfrase da paráfrase, o tema bop só desabrochando nos compassos finais de seu solo. Koko é a faixa mais desafiadora, já que o registro clássico de Parker (novembro de 1945) contém um vertiginoso solo de menos de três minutos, nos limites das faces dos discos de 78 r.p.m da época. Mas Lovano evita qualquer comparação, ao improvisar em tempo médio, aos poucos aquecido pelas baquetas de Brown e Mela. A faixa final, Yardbird suite, é “o sumário perfeito do espírito de aventura com que Lovano abordou este projeto”, como está no release da Blue Note. Começa em tempo também contido, e a arte do saxofonista impõe-se num solo de mais de cinco minutos, marcado por aquelas escaladas típicas que se vaporizam no registro agudo do instrumento. Há espaço, então, para intervenções do baixo de Esperanza e do piano politonal, monkiano, de Weidman.

2 comentários:

APÓSTOLO disse...

Prezado LOC:

Vou conferir, com a certeza PARKER / Lovano = tem que ser bom !

Luiz Orlando disse...

Lovano é sempre bótimo! Aliás, desde pequeno, tocava sax com o seu pai Big T, que era intímo de Tadd Dameron e outros heróis dos velhos tempos do bop.
Aquele abraço, Luiz O