Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

TUDO É JAZZ NA ÓTICA DO NOSSO MESTRE LOC

20 setembro 2010

Jornal do Brasil, 20 de setembro
por Luiz Orlando Carneiro


O saxofone – instrumento em forma de ‘j’ que se tornou marca registrada do jazz – foi o responsável pelos momentos mais empolgantes das duas primeiras noites do Festival Tudo é Jazz, que movimentou Ouro Preto (MG), pelo 9º ano consecutivo, até a madrugada de domingo, quando os fogos de artifício dos trompetistas Jon Faddis, o magnífico discípulo dileto de Dizzy Gillespie, Terell Stafford e o brasileiro Claudio Roditi encenaram uma arrebatadora homenagem a Louis Armstrong, em recriações memoráveis de West End blues, Struttin wih some barbecue, Mack the knife,e até uma versão sambada de After you’ve gone? .
O sax tenor de Joshua Redman e o sax alto de Miguel Zenón deram ao jazz, oferecido a um público rotativo de mais de mil pessoas, o corpo e a alma exigidos pelos aficcionados desse modo de expressão musical, que não é apenas o ‘som da surpresa’, mas também ‘serious fun’, compartilhada por músicos notáveis numa cena cada vez mais globalizada. Estejam eles em Manhattan ou Ouro Preto; no Brooklyn ou em Tel Aviv; em Porto Rico ou na Austrália; na Cidade do México ou em Viena.

A clarinetista e tenorista israelense Anat Cohen, 34 anos, foi mais uma vez a musa do festival, integrando o sexteto 3 Cohens, com os irmãos Avishai (trompete) e Yuval (sax soprano), na primeira parte do tributo retrô-pós-moderno (isto existe, sim) a Armstrong, ao qual aderiu a figura icônica de Jon Hendricks.
Aos 89 anos, celebrados em Ouro Preto, o maior vocalista de jazz vivo foi uma descoberta tardia para a maioria do público, que não sabia ter Hendricks uma cabeça de músico, que pensa suas (ainda) irresistíveis improvisações como se saxofonista fosse, dedilhando no ar o instrumento imaginário, como se o tivesse soprando.
Na noite de sábado, o macróbio Jon reviveu a arte de instrumentalização do vocal no jazz (o vocalese e o scat) tal como criada, há meio século, pelo trio Lambert, Hendricks & Ross, com ele no papel dele mesmo, sua filha Aria no de Annie Ross, e Kevin Burke no de Lambert. Foi um raro acontecimento, com o trio vocal apoiado por seção rítmica (Tardo Hammer ao piano e Paul Meyers no violão elétrico) fazendo uma panorâmica das grandes figuras do jazz: Armstrong (Stardust), Ellington (In a mellow tone), Count Basie (Jumpin at the Woodside), Charlie Parker (Now’s the time), Thelonious Monk (Rhythm-a-ning) e Horace Silver (Doodlin, Come on home).
Nnenna Freelon, com seu vozeirão sexy, saxy nos scats, conquistou os jazzófilosmais exigentes, à frente de seu quarteto bem percussivo, com destaque para uma versão em ritmos contrastantes de I love you (Cole Porter) e de uma preciosa releitura de Skylark, em duo e em trio, com baixo e bateria.
Na primeira noite do festival, ao introduzir, a capella, um maravilhoso solo a partir das changes de Body and soul, Joshua Redman, 41 anos, levantou a platéia, dando a alma que faltava ao trio do incrível (ainda) garoto-prodígio Eldar Djangirov, 23 anos, nascido no interior da antiga URSS, há muito radicado nos Estados Unidos. Eldar (com Armando Gola, baixo elétrico, e Ludwig Afonso na bateria) abriu os shows internacionais, voando solo pela pista do piano, e exibindo sua capacidade de tratar com a mesma facilidade, uma mélange de Scriabin, Oscar Peterson, fugas bachianas e contrapontos tristanianos.
Depois que o trio de Eldar virou quarteto com o sax tenor do eminente convidado, passou-se a desfrutar um set excepcional, em que Joshua – filho do também tenorista Dewey, que foi sócio de Ornette Coleman – pontificou em Blues sketch in clave (de Eldar), na balada imortalizada por Coleman Hawkins, e em What’s this thing called love/Hot house. E confirmou que forma o triunvirato dos grandes do sax tenor em ação, ao lado de Joe Lovano e Wayne Shorter (Sonny Rollins, 80 anos feitos no último dia 7, é hors-concours).
Linda Oh, 25 anos, atrevida baixista, compositora e líder de um trio integrado pelo pistonista Avishai e Obed Calvaire (bateria), surpreendeu até os que já a tinham ouvido no CD de estréia (Entry), lançado no ano passado. É realmente uma baixista excepcional, rápida no gatilho, de som redondo, como o mestre Dave Holland. Mas, acima de tudo, o seu trio demonstrou a possibilidade de raras invenções melódico-harmônicas a partir de instrumentos não-harmônicos, numa moldura mais free do que composicional. Seja a partir de originais como 201, ou de temas da estante pop (Soul to squeeze, do Red Hot Chili Peppers). E – last but not least – o trio Oh-Cohen-Calvaire foi um exemplo relevante do jazz como esperanto musical, falado por uma malaia de ascendência chinesa, um israelense e um negro novaiorquino nascido em Miami.
Num grau ainda mais elevado de tensão rítmica e criatividade sem barreiras, na base do aqui e agora, operou o trio chefiado pelo feérico baterista Antonio Sánchez, mexicano, 38 anos, com o vertiginoso sax alto de Miguel Zenón, portorriquenho, 33, e o baixista Hans Glawischnig, austríaco, 39. O grupo de Sánchez era um quarteto, mas o tenorista David Sánchez, também nascido em Porto Rico, fez forfait, o que aumentou a responsabilidade do único horn do trio. No problem para Zenón. O ‘Homem de 500 mil dólares’ (valor do grant que recebeu da Mac Arthur Foundation para gastar, durante cinco anos, em estudos ou produções, como bem entender) tomou conta do show de cinco longas improvisações, incluindo Inner urge (de Joe Henderson), Revelation (de Zenón) e uma balada do também incrível baterista-líder, com destaque especial para o baixista.
Entre a contagiante performance dos 3 Cohens e o eletrizante show de Zenón, não teve repercussão a documentação de valor mais folclórico do que jazzístico da diáspora africana concebida pela grande violinista Regina Carter, constante do CD Reverse thread. À frente de um grupo com acordeão, kora, baixo e o potente baterista Alvester Garnett, Regina não deu asas à sua prodigiosa técnica e às suas qualidades de improvisadora.

Um comentário:

jorge villas disse...

o que dizer depois disso? que em 2011 promete muito mais, forte abraço LOC..........jorge villas