Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

50 ANOS, NOVINHO EM FOLHA

20 julho 2009


A Columbia Records, nos anos 50, era a grande casa do jazz. Nela estavam Count Basie, Miles Davis, Benny Goodman, Charles Mingus, Louis Armstrong, Cab Calloway, Billie Holiday e Dave Brubeck. A gravadora mantinha uma política de popularização do jazz e, embora seus talentos fossem personalistas, tratava o gênero como um produto de massa.
Brubeck já estava com dezenas de discos gravados e sua popularidade era ascendente. Em 1954, foi capa da Time. Não se esperava, portanto, que o pianista californiano fosse gravar um disco tão ousado em 1959: Time Out. Mais surpreendente foi o sucesso que o álbum atingiu. Quando Miles Davis terminou de gravar Kind Of Blue, em 22 de abril de 1959, Dave Brubeck estava no estúdio ao lado de Paul Desmond (sax alto), Eugene Wright (baixo) e Joe Morello (bateria). De formação erudita - foi aluno de Darius Milhaud - , Brubeck impôs uma polrritmia inédita ao gênero. A harmonia aberta dava espaço para melodias realmente sofisticadas, um tanto européias. Brubeck tocava acordes firmes, às vezes rígidos, enquanto o sax de Paul Desmond aparecia levíssimo e maleável, com um sopro limpo. Um casamento perfeito. Estamos tão acostumados a associar Take Five a Brubeck que esquecemos de dar o devido crédito a Paul Desmond, o verdadeiro autor da faixa. Desmond era brilhante, um caso raro de saxofonista que não se deixou influenciar tanto por Charlie Parker. Sua escola vinha do estilo cool de Lester Young.
O que impressiona em Time Out é a capacidade que o quarteto demonstra em suingar sobre ritmos estranhos ao jazz, como o 5/4 de Take Five, ou o 9/8 de Blue Rondo A La Turk. A naturalidade com que esses ritmos são tocados mostra o quanto o grupo era atento à música contemporânea sem, por isso, soar difícil. Quando Time Out chegou à lojas, a crítica torceu o nariz. Achava o trabalho acadêmico, cerebral, sem suingue, pretensioso e duro. Mas as experimentações do Dave Brubeck Quartet caíram no gosto do público. E não é só por Take Five ou Blue Rondo... Three To Get Ready é de uma beleza quase singela e soa bastante camerística. Everybody's Jumpin' é exemplo de destreza de Desmond em contraponto ao piano obstinado de Brubeck. Na cozinha, Joe Morello e Eugene Wright fazem os ritmos exóticos parecerem brincadeira de criança.
Time Out alcançou 50 anos com o frescor inabalável dos clássicos. É um caso raro na história da arte em que experimentação e complexidade não se chocaram com popularidade.

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Transcrição da coluna Máquina do Som de hoje, escrita por Ranulfo Pedreiro no JL (Jornal de Londrina). ranulfo@jornaldelondrina.com.br

7 comentários:

JoFlavio disse...

Claro que Time Out é bom e revolucionário. Basta lembrar que está entre "Os Discos da Ilha Deserta do CJUB". Mas, gosto pessoal, Time Further Out", de 1961, parece mais consistente e até mais jazzístico, como se o quarteto estivesse mais à vontade.

figbatera disse...

Pois é; felizmente, eu tenho os dois...

Mau Nah disse...

Nisso sempre comungamos, JoFla.
Fui criado ouvindo esse disco, talvez a minha primeira lembranca jazzistica. Alem dos temas mencionados, um dos meus mais caros eh "It's a Raggy Waltz", onde Brubeck prega pecas durante todo o andamento. Uma maravilha...
Ja tenho o 50 do K of B, agora estou comprando o comemorativo do T.O..
Abs.

Roberto Murilo disse...

Belo texto sobre Time Out, um disco emblemático e que ajudou a difundir o jazz moderno no Brasil, junto a plateias não familiarizadas com o idioma. Um adendo ao elenco da Colúmbia: Duke Ellington, que esteve na gravadora em dois períodos, e de 1956 a 1962 gravou várias preciosidades, a começar pelo Newport 56. Já Count Basie, nos anos 50, dividiu-se entre a Verve e a Roulette.
Roberto Murilo

Érico Cordeiro disse...

Um disco antológico. Irretocável e obrigatório para qualquer pessoa que se aventure pelas veredas do jazz. Uma ótima lembrança, gravado em um ano fabuloso - 1959.
Tenho a maravilhosa caixa For all time, com todos os cinco discos com a temática Time - tava numa promoção de cair o queixo na True Blue Music - e são todos excelentes.
Abraços a todos.

Nelson disse...

Quem se aventurou algum dia pelas veredas do jazz, certamente ouviu Brubeck.Como diz o confrade JoFlavio, os mais arraigados às raizes negróides do jazz durante os anos 50, teciam críticas de que Brubeck não era um pianista que tivesse "swing" , um egresso de escola clássica e, que quem sustentava "o jazz do quarteto" eram os bons bateristas que com ele se apresentavam - em especial o grande Jo Morello - e, sobretudo, seu saxofonista "very cool" Paul Desmond.
Alguns outros, o achavam um predecessor - ou mesmo integrante - do estilo que vinha, simultâneamente grassando à sua época - o"West Coast". O que é absolutamente uma falácia. Pois o estilo "West Coast" - apesar de ter sido proveniente do "cool jazz" - nada tem a ver com a fórmula e estilo de Brubeck.
"TIME OUT" - aqui muito bem lembrado pelo confrade JoFlavio no blog - é um marco na carreira de D.Brubeck e uma delícia de ser ouvido. Se bem que, o meu disco preferido de Dave seja o "RED,HOT and COOL", onde sua interpretação em "The Duke" é um "must"
TIME OUT é um exemplar formidável do estilo de Brubeck, que o possuo em vinil da época e,em CD.
Uma bela nota JoFlavio. O blog, mais uma vez, está de parabéns por esta sua lembrança, mesmo porque e TIME OUT já está "na Ilha".
Abçs.
Nelson Reis

Anônimo disse...

Ótimo texto, sem dúvida. Todavia, sinto muito contrariá-lo porque a grande casa do jazz nos anos 50 foi,indubitavelmente, a Blue Note, cuja qualidade do catálogo superou de longe as demais gravadoras da época.

É só dar uma olhada nos músicos que lá gravaram como líderes:
Clifford Brown, Lee Morgan, Hank Mobley, Sonny Rollins, Jazz Messengers, Kenny Burrell, John Jenkins, Jackie McLean, Jimmy Smith, Hiorace Silver, Freddie Hubbard, Cannonball Adderley, Miles Davis, J. J.Johnson, Kenny Dorham, Kenny Drew, Howard McGhee, Sal Salvador, Tal Farlow, Wynton Kelly, Paul Chambers, Freddie Redd, Bud Powell, Donald Byrd, Lou Donaldson, Milt Jackson, etc, etc, etc, Chega ?