Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

COLUNA DO LOC

15 fevereiro 2009

JB, Caderno B, 15 de fevereiro
por Luiz Orlando Carneiro

Sons hipnóticos

No festival Tudo é Jazz, de Ouro Preto, em 2005, uma plateia de mais de 500 pessoas - formada por jazzófilos exigentes, neófitos e adeptos do prog rock – vibrou com as hipnóticas invenções musicais (e sônicas), entre o in e o out, do trio Jacob Fred Jazz Odyssey. Na ocasião, o grupo nascido em Tulsa (Oklahoma), em 1994, era uma novidade, e acabara de lançar, pelo selo indie Kufala, o CD Slow breath, silent mind. Reed Mathis (baixo acústico com pedal, capaz de elevar em duas oitavas acima do normal a sonoridade do instrumento), Brian Haas (piano acústico) e Jason Smart (bateria) eram então os integrantes do trio, quase tão hiperativo como o Bad Plus, embora mais "composicional", sobretudo nas recriações de clássicos do jazz moderno, como Fables of Faubus (Charles Mingus), Naima (John Coltrane) e Off minor (Thelonious Monk).

O JFJO virou quarteto, em meados do ano passado, com Josh Raymer no lugar de Smart, Matt Hayes no de Mathis e a adição do guitarrista Chris Combs. Mas, antes disso, em março, gravou em estúdio o álbum virtual Winterwood, que pode ser downloaded, de graça, no site do grupo (www.jfjo.com), que faz questão de manter o nome surrealista de Jacob Fred – apelido inventado por Haas para si próprio quando era adolescente. Trata-se de um presente do pianista-líder, comemorativo dos 15 anos do JFJO. E marca também a despedida do excepcional Reed Mathis, que assina seis das 13 faixas do "disco" e arranja Song of the vipers (Louis Armstrong), além de tocar seus contrabaixos incrementados, banjo e guitarras (inclusive a lap steel, aquela guitarra-tábua havaiana, geralmente de seis cordas).

A faixa inicial, Dove’s army of love (6m15), de Mathis, indica o clima predominante da sessão, com o tema mantido em ostinato pelo piano acústico de Haas, enquanto o baixista-guitarrista e o baterista-percussionista elevam, aos poucos, a temperatura rítmico-sônica do ambiente, aqui e ali amenizada por interlúdios do pianista. É difícil precisar, exatamente, onde e quando a improvisação prevalece sobre as partes arranjadas.

Song of vipers (5m40) é um dos mais atraentes momentos do álbum, sobretudo pelo contraste entre o ritmo second line das brass bands de Nova Orleans e o backbeat insolente (com brilhantes exclamações dos pratos e címbalos) criado por Josh Raymer. Ele e Haas são também os destaques na metamorfose da peça de Ellington (6m40), na qual parece haver partes em overdub. Old love, new love (5m58) e A bird (6m13), ambas do pianista-compositor-arranjador, são melodicamente insinuantes, com variações bachianas delicadas de Haas nesta última, desenvolvendo-se em meio a pontuações eletrônicas discretas e intervenções da guitarra de Mathis. Este, por sua vez, é a estrela de The slip (7m15), também de sua lavra. Crazy fingers (4m48), de Jerry Garcia, recebe do JFJO um belo tratamento, bem bluesy, e traz um longo e delicado solo de Haas no piano acústico.

O JFJO produz um tipo de jazz acústico-eletrônico ao mesmo tempo emocional e intelectual, às vezes até camerístico, sem rejeitar as raízes da mainstream, principalmente as mais populares, como se pode ouvir em Earl Hines (4m15), de Mathis. O grupo não se propõe a competir com o hiperenergético trio The Bad Plus (Ethan Iverson, piano; David King, bateria; Reid Anderson, baixo). Transformado em quarteto, o JFJO partiu em longa turnê (sold out) pelos Estados Unidos, deixando na internet, à disposição de seus fãs, o registro derradeiro da feliz associação Haas-Mathis.

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