Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

18 agosto 2008

RETRATOS
10. ART BLAKEY
O Vigor De Um Músico Que Manteve A Trajetória Do Grupo


(A) BIOGRAFIA - 1ª PARTE

CARACTERÍSTICAS
Contrariamente ao nosso retratado anterior (09. “Fats” Navarro = Perfeição Total e Permanência Tão Fugaz), temos em Art Blakey um músico de extensa longevidade e que não restringiu sua arte ao cenário exclusivo de New York. Bem ao contrário, por todos os U.S.A. e no exterior, esse músico ora focado brindou-nos com o vigor e o entusiasmo de seu trabalho por muitas décadas.
Assim é compreensível que a biografia, a biliografia e a discografia desse músico de exceção ocupem espaço considerável, tanto sob o ponto de vista pessoal, quanto quando analisada a obra do grupo que conseguiu aglutinar ao seu redor por tanto tempo, como uma “vitrine” constantemente renovada de talentos. Antecipadamente me desculpo pela extensão do texto para esse "RETRATO".
O “drumming” de Art Blakey é poderoso, vital, visceral, sempre carregado de energia. Seus solos freqüentemente possuem um caráter espetacular, explosivo. Blakey foi de fato um “mensageiro” do jazz: tudo fazia para promover a prática do jazz e percorreu os U.S.A. e o mundo em incontáveis turnês. Visivelmente se divertia, sempre com interminável sorriso e realizando-se na música: colocava-se de corpo e alma na música que estava tocando. Lembra-se com justa razão que Art Blakey foi um “apresentador” de numerosos talentos para o universo do Jazz, por ele recrutados e que se apresentaram nos “Jazz Messengers” que ele promoveu durante décadas. Também é importante ressaltar que foi um baterista incomparável como acompanhante, quando se observa, como exemplo entre outros, a sua colaboração com Thelonious Monk, notável pelo entrosamento que consegue estabelecer com um dos pianistas mais notoriamente difícéis de acompanhar.
Marcava ritmos cruzados, dobrados e redobrados, com certeza em função de tudo o que estudou e praticou de polirritmia nas percussões africanas (ainda que declarasse no final dos anos 70 do século passado em entrevista à revista “Down Beat”, que o Jazz era criação americana sem nada a ver com a África), sem demasiado destaque, sem tocar mais que o necessário, proporcionando uma base para os solistas construírem suas linhas melódicas e despreocupados com a condução dos demais integrantes do grupo. Seu poderoso e inigualável rufo seco (“press roll”, com uma canhota insuperável) marcava os estribilhos e fortalecia a marcação para os inícios dos solos; era um mestre nos “double times”, perfeito nos silêncios em que criava suspense para súbitos reinícios, firmes suportes para longas sucessão de frases dos solistas. Característica bem particular e peculiar que sempre serviu de assinatura para Art Blakey, foi sua capacidade incansável de conectar os solistas na dinâmica do grupo.

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
ARTHUR “ART” BLAKEY
nasceu em Pittsburgh / Pensilvânia em 11 de outubro de 1919 e faleceu de câncer do pulmão e já quase surdo do ouvido direito, em New York no dia 16 de outubro de 1990, portanto logo após completar 71 anos.
Foi, talvez, um predestinado para a música, já que Pittsburgh foi celeiro importante de figuras do Jazz ou ligadas ao mundo dos espetáculos, bastando citar-se, por exemplos e entre outros: Ahmad Jamal, Babe Russin, Barry Galbraith, Billy Eckstine, Billy May, Billy Straihorn, Bob Cooper, Christina Aguilera, Dakota Staton, “Dodo” (Michael) Marmarosa, Eddie Safranski, Erroll Garner, George Benson, Henry Mancini, Horace Parlan, Kenny Clarke, Lena Horne, Mary Lou Williams, Oscar Levant, Paul Chambers, Perry Como, Ray Brown, Roy Eldridge, Shirley Jones, Stanley Turrentine, Stephen Foster, Tommy Turrentine e Victor Herbert.
Art Blakey não possuía memória física ou fotográfica da mãe, falecida poucos meses após seu nascimento; quanto ao pai sabe-se que se casou apenas porque havia engravidado a mãe, fugindo para Chicago logo após a cerimônia na igreja e recusando-se a reconhecer o filho (por ter a cor da pele mais escura que a sua !!!???).
Criado por uma amiga da falecida mãe, foi na residência desta e em um piano velho que dedilhou suas primeiras notas, tocando algumas peças de ouvido, para prosseguir sua iniciação, musical e na Bíblia, na igreja (“Seventh Day Adventist Family”). Anos mais tarde recusou-se a ser cristão.
Ainda muito jovem começou a trabalhar em uma mina de carvão, também fundição (lembra-se que Pittsburgh era, e ainda é atualmente, importante centro industrial), mas sem descuidar dos estudos, pois precocemente tinha a convicção de que como mineiro seria sempre um trabalhador braçal. Sempre ajudou sua mãe “adotiva” a pagar as despesas do lar.
Paralelamente ao trabalho na mina e face à permanência da crise americana de 1929, montou uma banda para atuar em clube local (“Ritz”), mantendo a estafante rotina de trabalhar pelo menos 15 horas por dia durante mais de 02 anos: “...tive que aprender a ser forte...”, recordava Art Blakey quando falava de sua infância / juventude. Esse grupo (do qual fazia parte em 1934 Erroll Garner) apresentou-se fora de Pittsburgh em pequenas temporadas e alguns dos músicos integrantes foram recrutados pelo “líder” Fletcher Henderson.
Casado com a idade de 15 anos (com Clarice sua primeira mulher, que veio a falecer em 1946), pai aos 16, Art Blakey casou-se inúmeras vezes posteriormente (04) e, talvez até pelas agruras de seu início de vida sem estrutura familiar e mesmo passando mais de 05 décadas entre excursões, estúdios de gravação, apresentações em clubes e festivais nos U.S.A. e no exterior, tornou-se um “homem de família” diferenciado: teve 08(oito) filhos e adotou outros 07(sete) ! ! ! Desses adotados a mais conhecida foi a japonesa Takashi, cujos pais morreram em um terremoto; com Blakey ela aparece em algumas capas de seus LP’s. Quando indagado sobre como cuidava da família, Blakey costumava dizer que “era realmente difícil criar uma família por controle remoto, mas que conseguia ir se arranjando”.

PRIMEIROS PASSOS PARA A MÚSICA PROFISSIONAL
Em 1939 Fletcher Henderson o incluiu na sua formação (alí já tocavam alguns músicos do grupo que Art Blakey havia montado anteriormente em Pittsburgh), onde conheceu o grande baterista “Big Sid” Catlett, 09 anos mais velho que ele. “Big Sid” de certa forma o “apadrinhou” e além da técnica ensinou-lhe algumas lições de vida (inclusive a concentrar-se no trabalho e a evitar a bebida).
Passou ainda no final de 1939 pela banda de Chick Webb, com quem também aprendeu algumas técnicas (basicamente seu futuro famoso rufo), mas logo em seguida e em 1941 passou a integrar a banda da pianista Mary Lou Williams para apresentações no “Kelly’s Stable”. Montou grupo próprio e apresentou-se em Boston no “Tic-Toc” durante bom tempo.
Passou rapidamente pela “big band” de Lucky Millinder, mas retirou-se da mesma em pouco tempo, seja porque buscava algo mais musicalmente, já seja porque a banda não era mais a sombra da “máquina” dos anos 30 do século passado.
A partir dai e em 1944 ingressou na banda de Billy Eckstine (“Mr. B”, a voz), a primeira formação orquestral do “bebop” e por onde desfilaram todas as “feras” do novo idioma: Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Kenny Dorham, “Fats” Navarro, Gail Brockman, Miles Davis, Shorty McConnell, Sonny Stitt, Gerald Valentine, Gene Ammons, Budd Johnson, J.J.Johnson, Dexter Gordon, Wardell Gray, Leo Parker, Lucky Thompson, Oscar Pettiford, Tommy Potter, Sarah Vaughan (a divina “Sassy”), além dos primorosos arranjos de Tadd Dameron, John Malachi e Jerry Valentine.

PRIMEIRAS GRAVAÇÕES
Com esse conjunto de estrelas Art Blakey teve seu primeiro registro fonográfico e alí permaneceu até 1947, quando a banda foi dissolvida.
Com a banda de “Mr. B” Art Blakey gravou seguidamente até 1946: fevereiro e março de 1945 em Los Angeles, maio, setembro e outubro/1945 em New York, janeiro, fevereiro, março, junho e outubro de 1946 em New York e em outubro de 1946 em Hollywood (nessa ocasião “com cordas”).
Essa foi uma escola para Art Blakey, tanto sob o ponto de vista de criar um estilo próprio, como de entender que a bateria era mais um “instrumento” no todo (não meramente um instrumento “acompanhante”) e, ainda assim e enquanto ser humano, não tolerar mais a aceitação passiva do preconceito racial.
Mesmo sendo ainda integrante da banda de Billy Eckstine, em 18 de outubro de 1946 Art Blakey participou de gravação para o selo Black Lion em Hollywood / Califórnia, com a participação de Miles Davis, Gene Ammons, Linton Garner, Connie Wainwright, Tommy Potter e os vocais de Earl Coleman e Ann Baker.
No final de 1947 inicia-se a colaboração de Art Blakey com Thelonius Monk, que proporcionou uma série de registros fonográficos de alta qualidade pela “Blue Note”: em 15 de outubro Idrees Sulieman/trumpete, Danny Quebec West/sax.alto, Billy Smith/sax.tenor, Thelonious Monk/ piano, Gene Ramey/baixo e Art Blakey/bateria gravam em New York “Evonce” e “Suburban Eyes”.
Em trio e na data de 24 de outubro novamente em New York é a vez do trio Monk / Ramey / Blakey registrar “Nice Work If You Can Get It”, “Ruby, My Dear”, “Well, You Needn’t”, “April In Paris”, “Off Minor” e outros temas.
Também para a “Blue Note” e em quinteto (George Taitt / trumpete, Sahib Shihab / sax.alto, Monk, Blakey e Bob Paige / baixo) novas gravações em 21 de novembro. Na data de 22 de dezembro é um octeto sob a tutela de Monk que volta a gravar para o selo azul e branco, enquanto que em 16 de fevereiro de 1948, agora para o selo “Chazzer”, o quarteto Idrees Sulieman, Monk, Curly Russell e Blakey participa do “Festival Of American Music” e grava mais clássicos: “All The Things You Are” e “Just You, Just Me”.
Aqui assinalamos que o desempenho de Thelonius Monk foi um estímulo adequado para Art Blakey; mesmo tocando apenas em estúdios, os encontros desses dois marcam de forma indelével a cena do Jazz, já que o discurso com fraseado anguloso e acordes atonais de Monk exigia atenção concentrada de seus acompanhantes; Art Blakey conseguia mover-se sem esforço para acompanhar as idéias de Monk, com um “beat” claro e preciso marcando perfeitamente o ritmo de base. É importante assinalar que além dessa parceria musical, Art Blakey tinha por Thelonius Monk uma profunda admiração e os dois eram realmente amigos
Entre essas datas de 1947 Blakey grava para quintetos comandados por “Fats” Navarro e por Dexter Gordon.

Segue em (A) BIOGRAFIA - 2ª PARTE

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