Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

ARRANJO & ORQUESTRAÇÃO, POR JOYCE

04 agosto 2008

"Vou entrar aqui num assunto meio polêmico: qual a diferença entre arranjo e orquestração? Para mim, essa diferença é claríssima. Arranjo é quando você define a forma da canção, ou a re-harmoniza, ou a modifica ritmicamente conforme seu gosto, ou ainda a recheia com referencias a outras canções. Enfim, tudo o que um músico faz quando pega uma canção e a coloca sob medida para si mesmo(a) ou outro(a). Um trabalho, digamos, de alfaiataria. Já orquestração é um pouco diferente e envolve um tipo de conhecimento bastante específico: um conhecimento de timbres, instrumentação, escrita musical (de que o simples arranjo pode eventualmente não precisa). É um trabalho mais técnico, que exige anos de estudo, enquanto o arranjo pode ser feito "de bossa", pois é um trabalho mais intuitivo, de criação mesmo. Orquestração, dependendo de quem faz, para o bem ou para o mal, pode ser alta costura. Existem geniais arranjadores/ orquestradores - já trabalhei com alguns - e aí você está no melhor dos mundos. Gente como Johnny Mandel e Dori Caymmi, por exemplo, que não só re-harmoniza e recria, como conhece toda a gama de sons de uma orquestra. Por outro lado, o grande Claus Ogerman, pela minha modesta experiencia, é mais orquestrador que arranjador. Todos os arranjos que ele assina nos discos de Tom Jobim são exatamente a tradução para grande orquestra do que o próprio Tom já havia criado no piano. Eu já tinha visto isso em discos como "Urubu", "Matita Perê" (este, com grande contribuição também do Dori) e outros. Mas não sabia que fosse sempre assim. Quando gravei com Claus em 1977, vi que ele orquestrou (lindamente, a bem da verdade) tudo que eu e meu parceiro Mauricio Maestro fazíamos com nossas vozes e violões. Ou seja, não houve neste caso uma contribuição criativa dele ao nível ritmico ou harmônico, e sim um trabalho de 'vestir' nossa música, cuja alfaiataria básica já estava pronta.
O belo tipo faceiro que tenho ao meu lado chama-se Johnny Mandel, genial arranjador/ orquestrador/ autor de algumas célebres trilhas sonoras de Hollywood/ compositor de grandes canções do Grande Songbook Norte-Americano, como 'Emily', 'The Shadow of Your Smile' e muitas outras. Esta foto foi feita durante uma visita que fiz à casa onde ele mora com a mulher em Malibu, California, há uns 4 anos atrás. O tempo voa... Nessa ocasião, tínhamos um projeto em mente, que, por muito caro, não conseguimos realizar. Ficou na vontade. Ao invés desse projeto, acabei fazendo outro logo em seguida, com meu velho amigo Dori Caymmi, arranjador/ orquestrador/ compositor igualmente de altíssimo quilate, e ainda por cima, cantor e violonista brilhante. Foi um excelente negócio, musicalmente falando, e até hoje os ecos deste trabalho ainda rolam - volta e meia nos apresentamos juntos, pelo simples prazer que a música nos dá. Por que falo tanto nesses dois, Johnny e Dori? Porque são arranjadores e orquestradores geniais, mundialmente respeitados, e que igualmente me respeitam como músico que sou. Músico: palavra sem feminino. Acontece que o fato de eu ser uma cantora (canária, na visão preconceituosa de alguns atrasados, em pleno século 21) me desabilitaria para as funções de arranjadora, que exerço normalmente em todos os meus discos desde 1980. Não me formei na Berklee, não sei dizer exatamente a extensão de cada instrumento de uma orquestra - e no entanto sei exatamente o que vai e o que não vai soar nos discos que faço. Sei qual será a melhor opção para um instrumento solista e distribuo as vozes dos sopros que irão se misturar com a minha própria voz, num só naipe. Posso criar uma introdução e um desenho rítmico que irá modificar a estrutura de alguma música já por demais batida, caso eu tenha a intenção de regravá-la (fiz isso, por exemplo, na minha gravação de "Upa Neguinho", em 1998, num arranjo do qual até o autor gostou (Edu é famoso por não gostar de quase nada), ou de "Sambou, Sambou", que Donato adorou e passou a usar também, sempre que vem tocar comigo). Posso também dar minha contribuição à harmonia da canção em questão, mesmo que seja só um acorde a mais, que não interfira na estrutura harmônica, mas faça uma graça para o autor. Tenho feito isso a vida toda, e é por isso que não me sinto canária, embora cantar seja o meu maior prazer. Mas a voz é um instrumento, como o violão também é, para melhor expressar uma idéia musical que me venha, seja essa música minha ou não. E ainda assim, já me aconteceu de um orquestrador, com quem trabalhei diversas vezes ao longo dos anos (não importa quem), utilizar alguns arranjos meus em trabalhos de orquestração dele, sem o devido crédito - e pelo contrário, assinando o arranjo como se fosse seu, inclusive para trabalhos com outros artistas. Coisa muito feia, que os grandes bambas ali de cima jamais fariam. Como gosto de ter fé na humanidade, quero crer que sendo eu, na opinião deste colega, uma simples canária, ele sinceramente acredita que os arranjos são dele..."

"Eu trabalho assim: eu vou aonde você não estiver. Meu trabalho é preencher e colorir os espaços que você deixa na música" (Johnny Mandel, explicando para mim seu método como arranjador).

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