Mauro Nahoum (Mau Nah), José Sá Filho (Sazz), Arlindo Coutinho (Mestre Goltinho); David Benechis (Mestre Bené-X), José Domingos Raffaelli (Mestre Raf) *in memoriam*, Marcelo Carvalho (Marcelón), Marcelo Siqueira (Marcelink), Luciana Pegorer (PegLu), Mario Vieira (Manim), Luiz Carlos Antunes (Mestre Llulla) *in memoriam*, Ivan Monteiro (Mestre I-Vans), Mario Jorge Jacques (Mestre MaJor), Gustavo Cunha (Guzz), José Flavio Garcia (JoFla), Alberto Kessel (BKessel), Gilberto Brasil (BraGil), Reinaldo Figueiredo (Raynaldo), Claudia Fialho (LaClaudia), Pedro Wahmann (PWham), Nelson Reis (Nels), Pedro Cardoso (o Apóstolo), Carlos Augusto Tibau (Tibau), Flavio Raffaelli (Flavim), Luiz Fernando Senna (Senna) *in memoriam*, Cris Senna (Cris), Jorge Noronha (JN), Sérgio Tavares de Castro (Blue Serge) e Geraldo Guimarães (Gerry).

RETRATOS - 09

15 julho 2008

RETRATOS
09. FATS NAVARRO (A)
Perfeição Total e Permanência Tão Fugaz

BIOGRAFIA

O MÚSICO
“Fats” Navarro é o símbolo da perfeição técnica em seu instrumento, o trumpete, assim como nas suas interpretações, na “pronúncia” e no sentido das frases executadas (vide Luiz Orlando Carneiro em “Obras Primas do Jazz”, 1ª edição em 1986, Jorge Zahar Editor Ltda, 178 páginas).
Todas as gravações de “Fats” Navarro, em estúdio ou ao vivo, são modelos de perfeição, concisão, articulação, concepção, ataque poderoso, conhecimento e domínio harmônico, excepcional intuição melódica e, por todos esses aspectos e sem dúvida, tornou-se o modelo para todos os posteriores trumpetistas, entre os quais e destacadamente Clifford Brown, Lee Morgan, Donald Byrd e Freddie Hubbard.
Miles Davis em sua autobiografia (“Miles Davis – A Autobiografia” - Miles Davis e Quincy Troupe - Editora Campus - 1991 - tradução do original americano de 1989) fala sobre o momento em que conheceu “Fats” Navarro: “...Depois teve “Fats” Navarro, que veio da Flórida ou de Nova Orleans. Ninguém sabia quem ele era, mas aquele sacana tocava como nunca ouvi ninguém tocar antes. Era jovem, como eu, mas já avançara em seu conceito de como tocar o instrumento....
Os “choruses” de “Fats” Navarro são estruturados em “blocos” melódicos (para “Fats” a melodia sempre prevalecia) e afastados das pirotecnias a “la Gillespie”, que o antecedeu, evidenciando descontração e melancolia sintonizadas com fraseados e tempos mais lentos. Estilo brilhante e sem pontos fracos, definem “Fats” Navarro, inteiramente distante de quaisquer clichês.

O INÍCIO
Theodore Navarro
nasceu em 24 de setembro de 1923 em Key West / Flórida e faleceu com 27 anos incompletos em 07 de julho de 1950 em New York, no Metropolitan Hospital, vítima de tuberculose decorrente da dependência de álcool e de drogas (heroína).
Filho de um barbeiro aficcionado ao piano e músico amador, o jovem Theodore era pouco inclinado aos estudos formais, mas dedicou-se desde cedo à música tocando piano a partir dos 06 (seis) anos, para a partir dos 13 (treze) estudar seriamente o trumpete e o sax.tenor, sendo que por este instrumento iniciou sua carreira profissional em 1939, em Miami e junto ao grupo de Walter Johnson.
Dono de um apetite incomum o jovem Navarro nessa época já pesava mais de 100 (cem) quilos, o que lhe valeu o apelido de “Fats”, mais tarde cambiado para “Fat Girl”, dadas sua maneira e seu temperamento sensíveis, aliados a uma voz aguda e a um rosto com feições infantís (“Fat Girl” é também título de um tema que ele viria a gravar mais tarde, em mais de uma ocasião).
Dizzy Gillespie dizia que “Navarro era encantador, como um menino, um pedaço de pão”.
Apesar de seu temperamento bonachão e tímido esse apelido causou mais de uma alteração de humor em “Fats”, levando-o a enfurecer-se em algumas ocasiões: conta-se que em determinada oportunidade ele tentou esmagar as mãos de Bud Powell, que o ridicularizava seguidamente, não conseguindo mas amassando o trumpete no piano.
Nesse mesmo ano de 1939 tocou com Sol Albright em Orlando / Flórida, deixando-o em Cincinati / Ohio durante uma excursão, para tornar-se aluno de um professor de trumpete, que o ajudou a resolver uma série de dificuldades de técnicas instrumentais que então o atormentavam, mesmo tendo um base técnica respeitável: lembramos que “Fats” foi primo de não menos que Charlie Shavers, a quem reverenciava como “o maior de todos, pelo seu trumpete e pelo seu Jazz”.

NA TRILHA DOS “GRANDES”
Durante 1941 e 1942 atuou como trumpetista na banda de Snookum Russell de Indianápolis, o que lhe valeu a companhia de um jovem trombonista à época “desconhecido”, ninguém menos que J. J. Johnson.
Posteriormente foi contratado por Andy Kirk e alinhou no naipe de trumpetes ao lado de Howard McGhee, 05 (cinco) anos mais velho que ele, tornando-se conhecido de 1943 até o início de 1945 na Costa Leste americana. McGhee passou a ser uma espécie de “tutor” de Navarro no meio musical, abrindo-lhe os olhos para o nascente e brilhante universo do “bebop”.
Ao retirar-se da banda de Billy Eckstine no início de 1945, Dizzy Gillespie recomendou-lhe “Fats” Navarro; Eckstine assistiu a jovem revelação em apresentação em Washington / DC e ficou absolutamente entusiasmado, contratando-o de imediato e por um período que durou 18 meses.
Billy Eckstine afirmou à época que ninguém podia dizer que Gillespie estava ausente, já que os solos deste podiam ser repetidos nota a nota por “Fats”, com a mesma imaginação e os mesmos “swing” e “feeling” de Gillespie.
“Fats” Navarro tornou-se presença permanente nos clubes da “Rua 52”, sendo participante e testemunha das primeiras experiências e aventuras do “bebop”.

JUNTO A TADD DAMERON
Durante os anos de 1947 e 1948 “Fats” Navarro atuou na banda de Illinois Jacquet, simultaneamente com rápidas incursões em formações com Lionel Hampton, com Tommy Reynolds, com Coleman Hawkins e com Dexter Gordon, além de acompanhar o cantor Earl Coleman.
Nos anos de 1948 e 1949 participou ativamente no grupo do genial pianista, compositor e arranjador Tadd Dameron (Tadley Edwing Dameron, 21/02/1917 a 08/03/1965), a partir daí seu alter ego. Considerando o caráter humilde e retraído de Tadd Dameron, tornou-se compreensível “Fats” figurar como líder em diversas apresentações e gravações. Desse encontro resultaram algumas das melhores obras primas do trumpetista, a saber e entre outras: “Dameronia”, “The Esquirrel”, “Our Delight” e “ The Chase”.
Importante é assinalar que nesse ano de 1948 Tadd Dameron e “Fats” Navarro permanecem durante 39 (trinta e nove) semanas seguidas no “Royal Roost”, o clube da Boradway próximo à Rua 47: um senhor recorde ! ! !
Durante os anos de 1949 e 1950 “Fats” formou em diferentes oportunidades nos “JATP” (Jazz At The Philharmonic) de Norman Granz, no “Birdland”, chegando a tocar com Sonny Criss, Coleman Hawkins, Hank Jones, Shelly Manne e Ella Fitzgerald.
Em 1949 alinhou em quinteto ao lado de Sonny Rollins (então com 20 anos) e Bud Powell.
A essa altura sua saúde começou a pagar os juros da dependência (álcool e drogas), fazendo-o perder peso rapidamente e apagando seu bom humor; Carmen McRae dizia que “Fats” Navarro era o mais sorridente dos homens.

COM CHARLIE PARKER NO FINAL
Seus derradeiros vínculos musicais foram proporcionados por Charlie Parker, que o fez tocar no recém inaugurado “Birdland” e no Café Society em maio e junho de 1950, integrando um quinteto que reunia Bud Powell e Max Roach. Suas gravações finais reuniram músicos do nível de Charlie Parker, Bud Powell, Walter Bishop Jr., Tommy Potter, Roy Haynes, Miles Davis, J.J. Johnson, Brew Moore, Tadd Dameron, Curly Russell e Art Blakey.
Poucas semanas após sua gravação final “Fats” Navarro deu entrada no Metropolitan Hospital de New York, onde veio a falecer com apenas 26 anos.
Todos os músicos e críticos concordam que “Fats” foi um cometa deslumbrante que cruzou os céus do Jazz com incrível beleza. Tinha completa consciência de sua ascendência técnica e musical sobre muitos e muitos de seus contemporâneos quando declarou que “desconhecem as progressões de acordes, mas quando as conhecerem melhor e com elas se familiarizarem então teremos um Jazz verdadeiro”.
Segundo Alain Gerber em apreciação exata, “o estilo de Navarro é um modelo de equilíbrio enquanto reúne, com pertinência, a ciência harmônica, a frescura melódica e a audácia rítmica”. Com efeito e em todas as gravações disponíveis, “Fats” Navarro sabe como poucos “contar uma história” (e muitos, com razão, comparam essa qualidade à de um Louis Armstrong na linha melódica perfeita de “West End Blues”, 28/junho/1928).
O crítico Barry Ulanov, nos anos 40 do século passado, previa “que “Fats” Navarro em função de seu preparo técnico, musical e de seu intenso trabalho, deverá caminhar para além das fronteiras do “bebop”, na direção de um Jazz moderno e ainda mais imaginativo”.
Conforme o texto de J. D. Raffaelli (“Guia de Jazz em CD”, Luiz Orlando Carneiro e J. D. Rafaelli, 2002, Jorge Zahar Editor), “Navarro foi um dos mais articulados, inventivos e influentes trumpetistas modernos, jamais gravou um mau solo”.

Segue em (B) FILMOGRAFIA E BIBLIOGRAFIA

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